Josmar Jozino

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Caso Gritzbach: Juíza considerou ilegal prisão de 2 suspeitos pela Rota

A juíza Juliana Petelli da Guia mandou soltar hoje Marcos Henrique Soares Brito, 23, e o tio dele, Allan Pereira Soares, 44, presos ontem por policiais militares sob a acusação de envolvimento no assassinato de Vinícius Gritzbach, 38. A decisão foi anunciada durante audiência de custódia.

Delator de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) e de policiais civis suspeitos de corrupção, Gritzbach foi morto no dia 8 de novembro, no aeroporto internacional de Guarulhos, por dois homens armados de fuzis. O caso completa um mês amanhã.

Relato de suspeitos não batem com o da polícia

Marcos e Allan foram presos ontem na Vila Curuçá, zona leste paulistana, por homens da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). Segundo os policiais militares, tio e sobrinho guardavam munição de fuzil em um Ford Fiesta e em uma moto. Os dois negaram a versão dos PMs.

Os PMs contaram que receberam denúncia sobre um homem envolvido na morte de Gritzbach e foram ao endereço fornecido. Quando chegaram lá encontraram um veículo parado na porta da casa. Eles disseram que o Fiesta estava aberto, inspecionaram o automóvel e encontram a munição.

Uma moradora da casa viu os PMs mexendo no carro e estranhou a situação. Câmeras de segurança da rua registraram a ação. Em seguida aparece Allan, o dono do carro e diz aos policiais militares que a munição encontrada pelos PMs não estava no veículo e não era dele.

Os PMs da Rota então perguntam por Marcos. O tio liga para ele voltar para casa e conversar com os militares. Minutos depois o rapaz chega em uma moto e recebe voz de prisão. Posteriormente, já no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), os policiais da Rota disseram ter inspecionado a moto e encontrado mais munição de fuzil sob o banco.

Levado ao DHPP, Marcos alegou que os PMs o prenderam e afirmaram que iriam levá-lo para uma delegacia do bairro. Segundo ele, os militares depois, pararam na avenida Assis Ribeiro, onde permaneceram durante 20 minutos.

Marcos contou ainda que na avenida Assis Ribeiro, os PMs perguntaram se ele tinha capacete no baú da moto. Os agentes olharam o conteúdo e nada falaram. Marcos alega que no baú havia só uma capa de chuva e papéis e que só soube da munição no DHPP.

Ato foi ilegal, diz juíza

Na audiência de custódia, a juíza observa que "nada veio ao auto de prisão em flagrante para confirmar a versão registrada, no caso a dos policiais militares. A magistrada acrescenta que "não há elementos para comprovar a situação de flagrante, de modo que cumpre reconhecer a ilegalidade do ato".

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Juliana Petelli da Guia relaxou a prisão em flagrante e determinou a expedição de soltura de Allan e Marcos após ouvir também a versão do advogado dos presos, Guilherme Vaz.

Segundo o defensor, os clientes não têm envolvimento com a morte de Gritzbach e não portavam a munição apreendida. "A promotora que atuou na audiência de custódia chegou a afirmar que achava estranho alguém guardar farta munição (80) num carro e deixar o veículo aberto.

Outro fato que também chamou a atenção na audiência de custódia é que Allan, tio de Marcos, telefonou para o sobrinho por determinação dos PMs, avisando que os agentes queriam falar com ele. O rapaz então chegou minutos depois com a moto.

"Você acha que alguém que está sendo chamado por policiais da Rota e vai encontro dos PMs pilotando uma moto levaria munição escondida no baú ou sob o banco? Eu não acredito nessa versão", argumentou o advogado Guilherme Vaz.

Lambança da Rota

Nos bastidores da Polícia Civil, os comentários são de que a Rota fez uma lambança. O alvo seria Matheus, mas prendeu o irmão dele, Marcos, e não foi à casa do suspeito porque recebeu denúncia e sim porque Matheus estava com a prisão temporária decretada.

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Até agora, o DHPP identificou oficialmente três homens acusados de envolvimento na morte de Gritzbach. Kauê Amaral Coelho, 29, e Matheus Augusto Castro Mota, 33, tiveram a prisão temporária decretada e estão foragidos.

Já Matheus Soares Brito, irmão de Marcos, foi preso na madrugada de hoje e é suspeito de ter ajudado na fuga de Kauê, apontado como olheiro que viu Gritzbach desembarcar no aeroporto e avisou os assassinos da vítima.

Segundo o DHPP, os atiradores fugiram em um Gol preto e depois foram resgatados por Kauê pilotando um Audi da mesma cor. O DHPP diz ainda que esses dois veículos usados no crime foram cedidos por Matheus Mota.

Matheus Soares, ainda na versão do DHPP, teria ajudado Kauê a fugir para o Rio de Janeiro. Um casal do Rio de Janeiro foi detido junto com Matheus Soares, mas foi ouvido e liberado no Departamento de Homicídios. O DHPP diz que Matheus admitiu ser integrante do PCC e confessou ter ajudado na fuga de Kauê para o Rio de Janeiro.

Eduardo Kuntz, advogado de Matheus, afirmou que as mesmas irregularidades que foram demonstradas e culminaram com as solturas de Marcos e Allan oportunamente serão apresentadas para que o cliente também seja colocado em liberdade.

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