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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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Áudios mostram apreensão da família Queiroz com avanço do caso no MP

Colunista do UOL

08/07/2021 04h00

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O avanço das investigações do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) sobre entrega ilegal de salários no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), quando este era deputado estadual, gerou muita apreensão em toda a família do policial Fabrício Queiroz, apontado como operador do esquema. O ápice disso ocorreu pouco antes de um julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal), a partir de outubro de 2019.

Diversos áudios trocados entre a família Queiroz nesse período estão disponíveis no 3º episódio do podcast UOL Investiga - A Vida Secreta de Jair . Você pode ouvir o podcast no UOL, Youtube e em todas as plataformas de podcasts, como Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music.

É a primeira vez que será possível ouvir a família do ex-assessor de Flávio contando sobre a situação da família durante as investigações da rachadinha.

A primeira troca de mensagens entre Márcia e Nathália ocorreu após reportagem desta colunista, publicada no jornal O Globo, revelar que Queiroz seguia fazendo articulações políticas apesar das investigações no MP-RJ.

Na ocasião, foi publicada uma gravação em áudio na qual o policial militar dizia que existiam 500 cargos no Congresso Nacional que poderiam ser ocupados por indicações políticas, sem que a família Bolsonaro aparecesse vinculada às nomeações. Nesse dia, Queiroz estava escondido na casa de Frederick Wassef, advogado da família Bolsonaro, em São Paulo.

Durante essa conversa, Nathália reclamou do comportamento de Queiroz para a madrasta, Márcia Aguiar. Chegou a chamar o pai de "burro" e disse que não tinha "mais pena" porque ele não mudava de comportamento e continuava indicando pessoas para cargos comissionados.

uol investiga - Arte/UOL - Arte/UOL
O presidente Jair Bolsonaro e seus filhos Flávio, Carlos e Eduardo
Imagem: Arte/UOL

Jair Bolsonaro, o "01"

Márcia Aguiar fez coro à enteada e ponderou que Queiroz não aceitava que não podia voltar ao cargo que tinha antes. Márcia chegou a dizer que o "01", o presidente Jair Bolsonaro, não ia deixar.

"Ele [Queiroz] fala da política como se tivesse lá dentro trabalhando e resolvendo. Um exemplo que eu tenho, que parece. Parece aquele bandido que tá preso dando ordens aqui fora. Resolvendo tudo", afirmou Márcia.

Ainda discutindo a situação, Márcia disse para Nathália que apesar da exposição da influência de Queiroz, não havia "nada comprometendo" o policial militar.

"Sabe, eu fico puta com ele, mas eu fico com pena, entendeu? Mas fico com pena, tem que estar do lado dele agora. Vamos pedir a Deus. Apesar que não tem nada comprometendo ele falando de nada, de nenhum deputado, mas já perceberam que ele tem acesso com outros deputados também. Enfim, Nathalia, é foda", desabafou Márcia.

Márcia rezava há mais de um ano

A mulher de Queiroz disse ainda que estava rezando há mais de um ano, especificamente, desde o início de outubro de 2018. O período coincide com os relatos de que a família Bolsonaro foi avisada sobre a existência de um relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que mostrava a movimentação milionária dele e citava a filha, Nathália Queiroz.

"Mas enfim, pedir a Deus. Tô acendendo minhas velas, fui pagar a minha promessa, ano passado eu fiz, eu acendi vela do começo de outubro até dezembro e agora tô acendendo também. Acaba uma acende outra de 7 dias até dia 21 de novembro, pedir a Deus aí. Esse negócio qualquer coisa é motivo para falar, né? Vamos ver", confessou Márcia.

Procurada, a defesa de Márcia Aguiar não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre a menção ao presidente.

Operação Anjo

Todos os áudios citados nesta coluna integram os autos da investigação do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) sobre o esquema da rachadinha no gabinete do senador Flávio Bolsonaro.

Parte das mensagens foi revelada na "Operação Anjo", em junho do ano passado, após os promotores pedirem a prisão de Queiroz e Márcia. As mensagens estavam nos celulares apreendidos com a família de Queiroz, após determinação judicial, em dezembro de 2019. O trecho que cita o presidente não tinha sido descrito pelos promotores nos autos.

Em outubro do ano passado, Queiroz foi denunciado junto com o senador e outras 15 pessoas por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O MP-RJ apontou que o policial militar era o operador de um esquema que desviou, pelo menos, R$ 6 milhões da Alerj. Desse valor, mais de R$ 2 milhões passaram pela conta bancária de Queiroz, e são oriundos de repasses feitos por outros ex-assessores do filho mais velho do presidente.

Queiroz foi colocado em liberdade pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) em março deste ano. Ele e a mulher tiveram a prisão decretada pelo juiz Flávio Itabaiana, da 27ª Vara Criminal do Rio, em junho do ano passado, durante as investigações sobre desvio de salários no antigo gabinete de Flávio na Alerj. Depois de passar meses em local desconhecido, Queiroz foi preso na casa de Frederick Wassef, em junho do ano passado, na cidade de Atibaia (SP).

Em seguida, o ex-assessor e a mulher, Márcia Aguiar, ficaram oito meses em prisão domiciliar. Queiroz ainda ficou um mês preso em Bangu. Já sua mulher passou um mês foragida, até que a defesa obteve um habeas corpus.

Assim que foi posto em liberdade, Queiroz retomou sua rotina de alinhamento com a família Bolsonaro, fazendo postagens favoráveis ao clã nas redes sociais. Ele também tem feito acenos defendendo as mesmas posições do presidente Jair Bolsonaro. Em abril, tentou emplacar uma de suas filhas em uma vaga na Casa Civil do Palácio Guanabara. No entanto, quando a nomeação foi descoberta, a equipe do governador do Rio, Cláudio Castro, voltou atrás e a tornou sem efeito.

Queiroz, porém, continua circulando e retomando os contatos políticos que possuía após ter ajudado a eleger grande parte das bancadas federal e estadual do PSL no Rio de Janeiro. Ele disse à coluna, em junho deste ano, que era uma "boa ideia" se candidatar a deputado federal na eleição de 2022. O policial foi assessor de Flávio Bolsonaro na Alerj entre 2007 e outubro de 2018.