Leonardo Sakamoto

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Opinião

Datafolha: Reprovação de Lula entre pobres sobe com alta de arroz e feijão

A reprovação do governo Lula entre os brasileiros que ganham até dois salários mínimos foi de 21% para 29% em um ano, enquanto a aprovação passou de 45% para 40%, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta (21). Ou seja, a diferença entre os que aprovam e os que reprovam foi de 24 para 11 pontos. Praticamente no mesmo período, a alta acumulada do arroz foi e 30,72% e a do feijão preto, 20,11%, dados do IPCA, a inflação oficial do país. Não é coincidência.

No geral, a aprovação do governo Lula passou de 38% para 35% enquanto a reprovação foi de 29% para 33% em um ano. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos. O grupo dos mais pobres deveria preocupar especialmente ao presidente porque foi aquele fundamental para a vitória dele sobre Bolsonaro.

Ou seja, o pessoal para quem o petista prometeu acesso à picanha e à cerveja. De fato, esse corte de carne caiu 8,21% em um ano, acompanhando a maioria das carnes. Já o "pão líquido" registrou alta abaixo da inflação, com 3,74%.

O problema é que, enquanto isso, os itens da cesta básica tiveram forte subida, pela entressafra e pelos problemas conjunturais devido ao casamento do El Niño com as mudanças climáticas. E como ninguém come arcabouço fiscal, com exceção da Faria Lima, isso pesa no bolso e no custo de vida.

O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) aponta que a cesta subiu em 14 das 17 capitais entre janeiro e fevereiro. Segundo a entidade, o feijão aumentou em todas as cidades analisadas, e o arroz, em 14 delas.

Como venho repetindo aqui, a taxa de desemprego no Brasil vem caindo: foi de 7,6% no trimestre encerrado em janeiro, segundo a PNAD Contínua, sendo que, no mesmo período em 2022, a taxa era de 11,2%. Ao mesmo tempo, a renda do trabalho saltou no ano passado: enquanto o PIB subiu 2,9%, a massa de rendimentos do trabalho aumentou 11,7% - o melhor resultado desde 1995, segundo cálculos do Ipea. Contudo, isso não se traduziu, necessariamente, em percepção de consistente melhora pelos trabalhadores.

Primeiro, o ano passado teve inflação menor (4,62%), mas isso não significa que os preços voltaram a patamares anteriores ao salto inflacionário de 2021 (10,06%) e 2022 (5,79%). Tampouco o aumento na renda compensou a corrosão do poder de compra trazida pela inflação.

Segundo, o preço dos alimentos básicos subiu mais ainda, principalmente por fatores climáticos (o calorento e já citado El Niño). A pesquisa Genial/Quaest, divulgada no início de março, mostrou que a população sentiu a alta do IPCA: questionados sobre os preços dos alimentos no último mês, 73% afirmam que eles subiram.

Repetindo: sim, os indicadores econômicos melhoraram no país com o governo Lula, mas isso não se traduziu em um grande salto para a vida cotidiana, tal como ocorreu nos seus dois primeiros mandatos do petista.

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As perspectivas da população, contudo, estão otimistas: 46% creem que Lula fará um governo ótimo ou bom daqui em diante, enquanto 30% acham que será ruim ou péssimo, segundo o Datafolha.

Para além de agir a fim de reverter os preços de alimentos, o governo vai ter que mostrar ao país que a economia melhorou apesar de o bolsonarismo bater bumbo dizendo que não. E acelerar para que, de fato, os trabalhadores percebam isso.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL