Letícia Casado

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Reportagem

Freixo: 'Estava junto ao corpo de Marielle quando recebi a 1ª fake news'

O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) há seis anos mudou a história do Rio de Janeiro, diz Marcelo Freixo. Atual presidente da Embratur, Freixo foi o padrinho político da vereadora, com quem trabalhou por dez anos.

Ele conta que foi ao local do crime assim que soube da morte, logo após o atentado. Os corpos de Marielle e do motorista Anderson Gomes ainda estavam dentro do veículo. E as notícias falsas acerca do trabalho e do caráter da vereadora já começavam a se espalhar pela internet. As mentiras sobre sua trajetória política e pessoal traziam histórias que iam desde a sua conexão com o crime organizado até o uso de drogas.

"As primeiras fake news sobre Marielle surgiram com o corpo dela ainda dentro do carro. É muito violento. A morte da Marielle revela violência muito forte da sociedade", disse Freixo à coluna. "Eu estava ao lado do corpo quando recebi a primeira fake news. Eu vi, vieram me mostrar."

Reação ao crime

Para Freixo, os assassinos não faziam ideia de quão grande seria a repercussão do crime. A notícia saiu em jornais do mundo todo. A vereadora foi tema da Mangueira, que venceu o Carnaval do Rio em 2019.

"Seus algozes certamente não esperavam aquela reação. Certamente esperavam estar apenas matando mais uma vereadora, mais uma pessoa preta da favela", diz Freixo. "É um homicídio que muda história do Rio de Janeiro."

Levantou um tampão de esgoto. Até então só se falava em Escritório do Crime quem era muito especializado em segurança pública. Hoje, todo mundo sabe quem é Adriano da Nóbrega [miliciano que chegou a ser investigado pelo crime e foi assassinado em 2020]. Hoje, as pessoas falam sobre a relação entre milícia, jogo do bicho, território.
Marcelo Freixo, que trabalhou com Marielle por dez anos

Perguntas a serem respondidas

A investigação ainda não foi concluída. O caso foi para a Polícia Federal em fevereiro de 2023. A expectativa do governo é que o inquérito seja concluído ainda no primeiro semestre deste ano.

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A motivação, diz Freixo, "pode passar pela Câmara de Vereadores, pode passar por interesse de milícia, que é muito presente no Poder Legislativo no Rio de Janeiro. A milícia nasce no Palácio, não na prisão, como as facções".

Para ele, é essencial investigar quem impediu que o caso andasse.

"O que aconteceu com a investigação enquanto esteve nas mãos do governo do Rio? Por que cinco delegados diferentes passaram pelo caso em cinco anos? Quem comando da polícia do Rio queria proteger? Essa investigação vai chegar a quem ajudou a não investigar? Isso é importante para que a gente possa ir fundo nesse buraco que se desnudou no Rio de Janeiro em cima do caso Marielle", diz Freixo.

Amizade e trabalho

Durante três anos, Freixo deu aula para a hoje ministra Anielle Franco (Igualdade Racial), irmã de Marielle. A vereadora o conheceu na formatura da irmã, mas eles se aproximaram em 2005. Freixo participava de um debate com o diretor José Padilha sobre o documentário "Ônibus 174", que trata do sequestro de um ônibus em 2002 no Rio de Janeiro.

"O fato da Marielle ter virado uma disputa ideológica nas redes sociais é muito assustador. Estou falando de alguém com quem eu convivi muito, trabalhou dez anos ao meu lado. Imaginar que uma pessoa como ela é assassinada brutalmente e isso vira guerra ideológica, é muito desumanizador", diz Freixo.

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Eles ficaram amigos, tiveram filhos na mesma época e Marielle participou de sua campanha para deputado estadual. Ela trabalhou em sua equipe até virar vereadora, no pleito de 2016. Assumiu o cargo em janeiro de 2017 e foi morta em 14 de março de 2018.

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