Reconstrução do RS com Pimenta projeta 2026 e tenta recompor imagem de Lula
A nova empreitada de Paulo Pimenta (PT-RS) como ministro da Secretaria Extraordinária para Recuperação do Rio Grande do Sul desperta especulações sobre seu futuro político. A escolha do agora ex-ministro da Secretaria de Comunicação já aponta para as eleições de 2026 e pode ser capital para a imagem do governo Lula (PT). Além de cuidar da coordenação das medidas do governo federal na reconstrução do estado, devastado por enchentes desde o final de abril, Pimenta pode ajudar a reerguer a imagem do governo Lula como um todo, criticado pelas poucas obras efetivas, diante da alta expectativa gerada quando o presidente foi eleito.
Segundo correligionários, a nomeação contempla o compromisso de Lula com Pimenta e o coloca em um cargo de projeção para concorrer ao governo gaúcho daqui a dois anos. Tanto assim que o universo político já antecipa uma eventual rixa entre Pimenta e o atual governador, Eduardo Leite (PSDB), pela influência sobre o pleito.
Leite está no segundo mandato de governador e não pode concorrer novamente —apesar de ter renunciado ao mandato, é tecnicamente considerado governador reeleito pelo TRE-RS (Tribunal Regional Eleitoral). O risco apontado por integrantes do PSDB e do próprio PT é de que ambos disputem o protagonismo e a paternidade das obras de reconstrução do estado.
Pimenta é natural de Santa Maria (RS), onde começou na vida pública como vereador em 1989, desde a primeira candidatura de Lula à Presidência. Eleito deputado federal pela primeira vez em 2002, está no sexto mandato e foi o mais votado do PT no Rio Grande do Sul nas últimas quatro eleições.
Mas apesar das críticas de adversários e até de colegas do PT sobre a politização da tragédia, um interlocutor do Planalto avalia que a gestão da crise no Rio Grande do Sul só poderia caber a um nome muito próximo de Lula, como Paulo Pimenta. Ele vê com naturalidade o nome de Pimenta, uma vez que se trata de um tema sensível e ao mesmo tempo estratégico, onde "o governo não pode errar".
Seria, também, um caminho onde o governo Lula pode mostrar que está atuante, importante num momento de baixa popularidade do governo. A atuação do presidente tem aprovação de 50% da população e reprovação quase na mesma medida, 47%, segundo a última pesquisa Quaest.
Lealdade e vigília em Curitiba
Paulo Pimenta foi um dos defensores mais emblemáticos de Lula durante a Operação Lava Jato.
Às vésperas da prisão de Lula, em 7 de abril de 2018, o gaúcho, então líder do PT na Câmara, dizia em suas redes sociais que a decisão era política e resultado de pressão da cobertura da imprensa na operação Lava Jato. Passaram-se 48 horas entre o momento que o então juiz Sergio Moro decretou a prisão até Lula se entregar à Polícia Federal. Pimenta estava junto com ele neste período.
Lula foi transferido para a superintendência da PF em Curitiba. Pimenta coordenou uma comissão criada para realizar inspeção na cela da carceragem, foi um dos principais incentivadores de um acampamento de militantes em frente ao local onde Lula ficou detido por 580 dias, deu dezenas de entrevistas e gravou vídeos para as redes sociais criticando a operação.
Junto com os deputados petistas Paulo Teixeira e Wadih Damous, Pimenta apresentou habeas corpus a todas as instâncias do Judiciário pela soltura de Lula. Teixeira é hoje o ministro do Desenvolvimento Agrário; Damous é secretário no Ministério da Justiça e foi mantido no cargo após a troca na cúpula.
Desde a pré-campanha à Presidência, Lula deixou claro que teria em seu entorno aqueles que foram fiéis e não o abandonaram durante seu pior momento. O maior símbolo desse comprometimento foi a nomeação de seu antigo advogado Cristiano Zanin para o STF (Supremo Tribunal Federal) — escolha duramente criticada devido ao laço entre eles, independentemente de suas credenciais como jurista.
Pimenta faz parte desse grupo, que tem outros expoentes como Fernando Haddad —o atual ministro da Fazenda assumiu a candidatura de Lula em 2018 frente a Jair Bolsonaro mesmo sem querer ser candidato — e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que foi muito atacada à época.
Críticas à comunicação do governo
Jornalista de formação, Paulo Pimenta assumiu a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) no início do governo Lula 3. Agora, vai chefiar um ministério "de caráter extraordinário", ou seja, provisório, que vai durar apenas o necessário para tocar a reconstrução do Rio Grande do Sul. A previsão é que a estrutura funcione até fevereiro de 2025.
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Quero receberComo o estado está alagado há quase três semanas e ainda não é possível estimar o tamanho do estrago, uma ala do PT aposta que Pimenta ficará na função por tempo suficiente para ser desligado de maneira definitiva da Secom.
Ao mesmo tempo, abre a possibilidade para Lula mudar a comunicação do governo que, segundo uma parte do PT, não estaria fazendo a mensagem chegar à população. Ou seja, o Planalto teria o que mostrar, mas não estaria conseguindo se comunicar em um ano e meio de governo.
A comunicação governamental sobre catástrofe no Rio Grande do Sul é usada como exemplo pelos críticos de Pimenta: o Ministério da Defesa estava trabalhando para reduzir o impacto desde os primeiros dias das enchentes; Lula visitou áreas alagadas no início do desastre; o governo federal abriu diálogo, liberou dinheiro e montou estratégia de resgates ainda na primeira semana de chuvas; mas a mensagem que domina as redes sociais é a de que a culpa é do Planalto que não sabe trabalhar.
Pimenta também foi criticado por brigar com um prefeito gaúcho e por pedir à PF investigação de opositores sobre fake news durante a crise no estado. Para além da situação do Sul, a atuação de Pimenta à frente da Secom já foi alvo de críticas em outros momentos, como no início da epidemia de dengue e no anúncio da presidência do IBGE.
Mas o fogo amigo de parte do PT pode ter outro desfecho, que não a substituição de Pimenta na Secom. O plano oficial é ele ficar no novo cargo por um tempo e depois retornar à função no Planalto. Enquanto isso, Laercio Portela ocupa sua vaga interinamente.
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