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Maria Carolina Trevisan

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Candidatura de Moro perdeu propósito enquanto ele tenta salvar Lava Jato

Suspeita é de que Moro tenha recebido valores de empresas que ele julgou - Foto: Adriano Machado/Reuters
Suspeita é de que Moro tenha recebido valores de empresas que ele julgou Imagem: Foto: Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

23/03/2022 10h58

A sucessão de problemas que envolvem o entorno e o próprio ex-juiz Sergio Moro, pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos, acaba com o propósito de sua candidatura, o de ser a terceira via, entre Bolsonaro (PL) e Lula (PT), em defesa da ética.

Moro pensou que salvaria a sua imagem ao se demitir do governo de Jair Bolsonaro. Acreditou que a população o veria como o defensor das regras morais, que seria o herói do combate à corrupção e que isso bastaria para disputar espaço com dois candidatos conhecidos e experientes na gestão do país.

Moro pretendia ser a opção fora da política, a inovação, o homem isento que salvaria o Brasil. Mas os fatos corroeram essa imagem.

O acontecimento mais recente é a condenação do ex-procurador Deltan Dallagnol, nesta terça (22). Ele vai ter de indenizar o ex-presidente Lula pelo Power Point em que responsabilizava o petista, sem provas, como o "grande general" do que chamou de "propinocracia". O STJ (Superior Tribunal de Justiça) entendeu que a apresentação não considerou termos técnicos do direito penal e do direito processual penal e pretendeu se dirigir à honra e à imagem do ex-presidente.

O relator do caso, ministro Luis Felipe Salomão, afirmou que o então procurador Dallagnol usou "expressões e qualificações desabonadoras da honra, da imagem", sem base jurídica. A defesa de Lula pediu indenização de R$ 1 milhão por danos morais. O tribunal fixou em R$ 75 mil. Cabe recurso.

Três elementos principais destruíram a reputação da Lava Jato: o desrespeito ao princípio da ampla defesa, a espetacularização das ações da operação e a parceria imoral e antiética entre Dallagnol e Moro. A suspeição, a incompetência e a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro foram reconhecidas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no ano passado.

Nesta terça (22), o ministro do Supremo Gilmar Mendes, afirmou que o legado de Bolsonaro foi ter nomeado Moro como ministro da Justiça e depois tê-lo devolvido "ao nada", em entrevista à plataforma Bloomberg Línea.

É nesse nada que Moro navega agora com a sua candidatura. Não decola nas pesquisas — teve 3% de intenção de voto na pergunta espontânea da pesquisa BTG/FSB de segunda (21) —, seu contrato com a empresa Alvarez & Marsall é investigado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) em processo sobre conflitos de interesse e práticas ilegais como juiz, e ainda tem de se explicar sobre o caso envolvendo o deputado estadual licenciado Arthur do Val (sem partido) acerca de sua ida à Ucrânia, quando atentou contra a ética e a moral, princípios que sustentariam a candidatura de Moro. Do Val ainda deixou o ex-ministro sem palanque próprio em São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil, ao desistir de ser candidato ao governo.

A verdade é que sua derrocada e da Lava Jato se iniciou ainda em 2018, quando aceitou o cargo de ministro da Justiça de Bolsonaro, principal oponente de Lula, foco central de sua atuação como juiz em Curitiba.

Neste momento, Sergio Moro se encontra em um dilema: sua candidatura é um fiasco mas ele não pode largá-la porque precisa defender a Lava Jato, que vive um grave e irreversível desgaste.