Wálter Maierovitch

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Opinião

Moro manda ética às favas: candidato a uma 'boquinha' no 'Gilmarpalooza'?

Como contou o jornalista Allan de Abreu em artigo intitulado "Um poder político extraordinário", publicado na revista Piauí de março passado, "o Fórum Jurídico de Lisboa é o momento em que Gilmar Mendes exibe a sua figura de ministro poderoso, a tal ponto que o evento ganhou o jocoso apelido de Gilmarpalooza".

Com o mandato de senador em risco, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) na sua cola em face de suspeita criminosa e sua popularidade e confiança em queda, Sergio Moro jogou a toalha e deu um às favas com a ética. Tirou a máscara falsa da moralidade e partiu, sem corar a face, para a humilhação.

Pedido de água

Para usar expressão de lutas em jogos olímpicos, Moro foi ao gabinete do ministro Gilmar Mendes —sem dúvida, o personagem mais poderoso e temido da República— para "pedir água".

Deu os três tapinhas no tatame para desistir da farsesca luta que dizia combater.

Nada de "boquinha" para virar atração no Gilmarpalooza. Moro faz qualquer negócio para salvar o mandato de senador e precisa da força de Gilmar Mendes.

Gilmar, o salvador

Não se deve esquecer que Gilmar Mendes garantiu, com contorcionismo de Cirque du Soleil, o mandato presidencial de Michel Temer.

Gilmar quis cassar a chapa Dilma-Temer por abuso de poder econômico. O impeachment chegou antes. Aí, Gilmar deu uma pirueta, esqueceu todo o apurado e salvou Temer.

O intermediário do encontro Gilmar-Moro foi, como revelado no jornal O Globo, o senador Wellington Fagundes, do estado do Mato Grosso, onde Gilmar Mendes tem força política e até já foi flagrado em palanque eleitoral. Lógico, uma conduta vedada a qualquer magistrado.

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Ainda não se sabe de eventuais exigências feitas por Gilmar Mendes para receber o antigo desafeto da Lava Jato.

Gilmar terá sempre a clássica desculpa de o gabinete estar sempre aberto a todos.

Sabe-se que Gilmar passou uma descompostura no visitante Moro, relativamente à sua atuação na Lava Jato.

Moro humilhou-se.

Gilmar Mendes, o inimigo figadal, o déspota esclarecido, transformou-se num redivivo "Varão de Plutarco", aquele historiador e filósofo que passou para a história como modelo de virtude e, por isso, foi honrado para ser o sacerdote-chefe do templo de Delfos.

Moro sem rebuliço

Na verdade, Moro só surpreendeu os incautos. Aqueles que acreditam em Papai Noel.

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Moro é um oportunista que usou a Justiça para se lançar na política, virar ministro de Jair Bolsonaro, sair pré-candidato à Presidência da República e se agarrar num cargo de senador.

Sua última sentença engrossou o coro dos adeptos da máxima romana do "habent sua sidera lites", no sentido de a Justiça ser algo a não se levar a sério.

Na sua descontrolada ambição, Moro traiu o seu padrinho político, senador e ex-governador Álvaro Dias: Moro concorreu ao senado contra Dias e o venceu em votação apertada, com diferença de cerca de 4% dos votos válidos. Mais um caso de criatura se voltando contra o criador.

Moro usou do prestigio adquirido com os processos da Lava Jato até para lançar a esposa na política, tendo ela sido eleita deputada federal por São Paulo, com fraude na declaração de domicílio eleitoral.

No particular, a megalomania do casal Moro abraçou o argentarismo, e duas remunerações, de senador e deputada, entram mensalmente no caixa familiar.

Na apelidada "rádio corredor dos fóruns e palácios de justiça" circula o informe de que a mosca azul picou Moro e sua esposa em Brasília. Isso quando Moro foi juiz auxiliar da então ministra do STF Rosa Weber. Aí, o casal começou a perceber que Curitiba ficou pequena para as suas aspirações e megalomanias.

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O ex-juiz Moro sempre levantou a bandeira da ética, e com ímpeto de fazer Baruch Spinoza vibrar na sepultura.

Pelo que pregou, Gilmar era o imoral, antiético. Agora que Moro se humilhou, a pergunta que não quer calar é a seguinte: como vai ficar o ético do senador depois de pedir a Gilmar que o aceite no seu convívio?

Mandato e servilismo

Moro presume que vencerá a batalha no TRE-PR (Tribunal Regional Eleitoral do Paraná). Ou seja, o seu mandato será mantido. Mas, e bem sabe, terá o mandato cassado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A aproximação com Gilmar, repita-se, não tem por meta um convite para o próximo Gilmarpalooza, em Lisboa.

Moro e o Brasil sabem que Gilmar, contrariando o que indicavam as provas de abuso de poder econômico da chapa Dilma-Temer, assegurou o mandato presidencial de Michel Temer.

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O interesse de Moro está na salvação do seu mandato, graças ao poder e à influência de Gilmar Mendes. Mais uma vez, Moro mostra o seu oportunismo e se propõe a pagar o preço alto pelo servilismo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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