'Estamos engatinhando', diz especialista, sobre questão da segurança no Rio
Eleita pelo jornal americano "New York Times" como o principal destino turístico de 2013 entre 46 cidades no mundo, a cidade do Rio de Janeiro vem enfrentando problemas de segurança pública às vésperas de receber grandes eventos, como a Copa das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude.
No sábado (8), o engenheiro Gil Augusto Gomes, 53, entrou por engano na favela Vila do João, no Complexo da Maré, zona norte da cidade, e foi baleado na cabeça.
No dia 31 de maio, um turista alemão tomou um tiro na Rocinha, zona sul da capital fluminense, onde há uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), durante um passeio. Daniel Frank, 25, e um amigo se depararam com um homem armado em um beco da favela, que disparou contra eles.
O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), chegou a dizer que a culpa era o tamanho da Rocinha, que dificultava a pacificação.
Para o professor João Trajano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), o poder armado de traficantes e milicianos ainda é muito presente na cidade.
"É um absurdo que as pessoas não possam andar pelo Rio. Desmoraliza a cidade, é uma lástima. Durante décadas, nós vivemos o mito de que o Rio era uma cidade integradora, que tinha a praia como espaço democrático. Teorias sem conexão com a realidade, que só reforçaram a nossa omissão com a ocupação territorial da cidade, que é caótica desde a sua origem e se aprofundou nesse caos. Isso, combinado com muitos deficits sociais e no campo da segurança pública, levou ao domínio desses grupos pela cidade", explica ele. "Diante da magnitude que o problema alcançou, estamos engatinhando. Infelizmente, temos hoje um cenário que não é fácil de reverter."
Para a antropóloga Alba Zaluar, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos, mesmo com a mudança no tipo de dominação do poder armado, a questão da segurança pública é considerada complicada. "É difícil, pois o tráfico estava enraizado nas favelas. Já houve uma mudança na dominação, que hoje existe de maneira mais contida, sem a ostentação de armas. Mas ainda vai ter muito problema acontecendo. Tiroteios, conflitos de várias ordens, pessoas que vão tentar de alguma maneira recuperar o poder que perderam. É inevitável", explica.
Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, o engenheiro está estável, mas com quadro grave. Ele está internado no CTI do Hospital Getúlio Vargas, na Penha, zona norte, desde sábado.
Já o turista alemão teve alta do hospital, nesta terça-feira (11), após 11 dias de internação e foi visitar o Cristo Redentor.
Segundo o professor de ciências sociais, a população não está livre de que casos como esses voltem a acontecer. "Precisamos ter muita informação e, infelizmente, criar condições para que a população daqui e as pessoas de fora, que não estão familiarizadas, ainda evitem essas áreas", diz Trajano.
De acordo com o sociólogo Ignácio Cano, houve uma diminuição do poder paralelo nas áreas que as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) foram instaladas, mas no resto da cidade tudo continua igual. "É preciso expandir as políticas públicas para as áreas de maior criminalidade e não só na zona sul. Colocar placas sinalizando onde há violência aumentaria a estigmatização. É preciso resgatar o território", explica ele.
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