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"Eles são covardes", diz moradora durante protesto contra ação do Bope em favela do Rio

Movimentação de policiais do Batalhão de Choque e do Bope na entrada da comunidade Nova Holanda, no complexo de favelas da Maré - Fábio Teixeira/Parceiro/Agência O Globo
Movimentação de policiais do Batalhão de Choque e do Bope na entrada da comunidade Nova Holanda, no complexo de favelas da Maré Imagem: Fábio Teixeira/Parceiro/Agência O Globo

Felipe Martins

Do UOL, no Rio

25/06/2013 14h14Atualizada em 25/06/2013 17h09

Cerca de 50 moradores da favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, protestaram contra a operação do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar que ocorreu nesta terça-feira (25) na região. "Eles estão pensando que morador é bandido. Matando morador, invadindo casa de morador a torto e a direito. Eles são covardes", afirmou Edilaine Silva, 25, que mora no local.

Por volta das 14h, os moradores tentaram sem sucesso fechar a avenida Brasil na altura de um dos acessos à favela. Pedras chegaram a ser jogadas contra os policiais, que lançaram uma bomba de gás lacrimogêneo para conter a multidão.

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A diretora da ONG Redes da Maré, Eliana Sousa Silva, afirma que moradores foram à instituição, que atua na mobilização de moradores quanto ao tema da segurança pública, para denunciar a violência policial desde o início da operação. "Eles estão matando as pessoas e colocando dentro de um saco", disse. "Estão gritando dentro da comunidade que vão matar todo mundo."

A aposentada Clemilda Lopes de Lima, 63, afirma que teve a casa revirada e móveis destruídos pela polícia. "Arrombaram minha casa, reviraram tudo. Isso é uma pouca vergonha. Tem que entrar com autorização", disse. "Eles têm que respeitar o morador." O major Ivan Blaz, do Bope negou as acusações dos moradores. "Nada disso procede", afirmou.

A região foi ocupada na noite de segunda-feira (24) após a morte de um policial do Bope durante um confronto quando os PMs procuravam suspeitos de um arrastão em Bonsucesso, ocorrido depois de uma manifestação no bairro.

Até o início da tarde desta terça, além do policial, mais oito pessoas morreram em tiroteios durante a ação do Bope. Um dos mortos, Eraldo Santos da Silva, 41, foi vítima de bala perdida --os demais são suspeitos, segundo a PM.

O turno da manhã de oito escolas municipais do complexo da Maré, com 6.422 alunos, foi suspenso por causa da operação policial, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação. Outras três unidades no complexo estão com baixa frequência de alunos, de acordo com o órgão. A secretaria também informou que em Bonsucesso oito unidades também receberam poucos alunos nesta manhã.

Uma escola estadual da Maré, com mil alunos, também teve as aulas interrompidas por conta da baixa frequência. A Seeduc (Secretaria de Estado de Educação) informou que a direção da unidade escolar tem autonomia para tomar as providências necessárias para garantir a integridade física e moral dos alunos, professores e funcionários. Os conteúdos perdidos das aulas são repostos, informou a secretaria.

Cerca de 300 policiais do Bope, com apoio do 22º Batalhão de Polícia Militar (Maré) e de policiais civis, ocupam a Maré em uma operação para prender os suspeitos de matar o policial. Com os confrontos, comerciantes também fecharam as portas.

Ao menos cinco pessoas ficaram feridas com balas perdidas durante a operação. Segundo a Polícia Civil, todos moram no complexo e não têm antecedentes criminais. Nenhum deles corre risco de morrer, segundo o Hospital Geral de Bonsucesso. Um PM chegou a ser atendido após levar uma pedrada no queixo, mas foi liberado em seguida.

Segundo balanço parcial divulgado pela Polícia Militar, um suspeito de ter matado o policial, identificado como Edvan Ezequiel Bezerri, conhecido como Ninho, foi preso juntamente com outras sete pessoas e um menor foi apreendido com uma pistola 380. Foram apreendidos ainda dois fuzis, uma submetralhadora, três pistolas, uma granada e mais de 2.000 trouxinhas de maconha.

As ocorrências estão sendo registradas na 21ª DP (Bonsucesso) e na 37ª DP (Ilha do Governador).