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Polícia investiga se vereadora foi seguida por 4 km antes de ser assassinada

Do UOL, no Rio*

15/03/2018 14h58

A Polícia Civil do Rio investiga a possibilidade de a vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), 38, ter sido seguida desde que deixou um evento na Lapa, na região central, até o momento em que foi assassinada, em uma rua próxima à Prefeitura do Rio, no bairro Estácio, também no centro.

A vereadora foi assassinada nesta quarta-feira (14) à noite com ao menos quatro tiros dentro de um carro. Ela voltava de um evento chamado “Jovens Negras Movendo as Estruturas”.

O motorista Anderson Pedro M. Gomes, 39, também foi atingido pelos disparos e morreu no local. Uma assessora da vereadora que estava no carro foi atingida por estilhaços e teve ferimentos leves. Ela prestou depoimento durante a madrugada, mas o conteúdo não foi divulgado.

Cerca de quatro quilômetros separam o local do evento do ponto onde ocorreu o crime. No trajeto, o carro em que Marielle estava circulou por diversas ruas movimentadas, sendo atacado no momento em que passava por um local mais ermo.

A polícia também investiga se alguma pessoa envolvida no crime estava monitorando a vereadora durante o evento. Ninguém foi preso até o momento.

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No momento do assassinato, um carro emparelhou com o veículo em que a vereadora estava, e foram efetuados ao menos nove disparos.

Ainda segundo a polícia, os criminosos atiraram exclusivamente contra o local em que Marielle estava sentada, no lado direito do banco traseiro. Ela morreu na hora.

Como os vidros do veículo são escuros e estava de noite, não seria possível identificar a posição exata da vereadora no carro apenas olhando do lado de fora do veículo, segundo a polícia.

Todos esses fatores, segundo a investigação, reforçam a tese de que ela já estava sendo observada e que o crime foi premeditado.

A polícia recolheu as imagens das câmeras de segurança da área do local do crime. Investigadores buscam também todas as câmeras do trajeto realizado pela vereadora.

Criminosos usaram calibre 9 mm

Segundo a perícia, a munição utilizada no crime foi calibre 9 mm, que pode ser disparada por pistolas ou por submetralhadoras.

O calibre 9 mm não pode ser vendido à população. Ele pode ser adquirido legalmente por colecionadores, atiradores esportivos e forças de segurança. Porém é comercializado com poucas restrições no Paraguai e entra no Brasil ilegalmente para abastecer o mercado negro.

Os projéteis de 9 mm têm maior poder de "perfuração" em relação a calibres mais comuns no Brasil, como o 38 e o 380. Por isso, essa munição pode ter sido usada para atingir a vítima sem que ela fosse retirada do cargo ou que a porta precisasse ser aberta, pois os projéteis poderiam furar a lateria sem dificuldade.

Principal linha de investigação aponta para "execução"

A possibilidade de que o crime tenha sido uma tentativa de latrocínio (roubo seguido de morte) é considerada remota, segundo fontes ouvidas pelo UOL. Nada foi roubado.

"A Divisão de Homicídios está trabalhando com execução. Ainda nem pensamos em outra possibilidade, mas tudo está sendo investigado", afirmou um policial que participa das investigações.

O chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, afirmou que as investigações estão sob sigilo e que a PF (Polícia Federal) não está no caso.

"Temos nossos protocolos estabelecidos. Quem quiser nos ajudar, recebermos ajuda de qualquer instituição, mas a Polícia Civil do Rio tem capacidade para resolver esse caso”, declarou Barbosa.

Mais cedo, o presidente Michel Temer (MDB) e o ministro Raul Jungmann (Segurança Pública) disseram que a PF estava à disposição do interventor Braga Netto para ajudar na investigação.

* Com reportagem de Luis Kawaguti, Paula Bianchi e Silvia Ribeiro, e colaboração de Carolina Farias, Léo Burlá, Lola Ferreira e Marina Lang