Familiares dos mortos no Jacarezinho vão ser ouvidos na Defensoria amanhã
Os familiares dos 27 mortos na operação que a Polícia Civil do Rio fez no Jacarezinho vão começar a ser ouvidos pela Defensoria Pública estadual a partir de amanhã. A expectativa é que todos eles prestem depoimento ao órgão.
"Todos deixaram contato, os telefones, as informações e pretendem passar na Defensoria para um atendimento", conta o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Álvaro Quintão.
O advogado disse que a OAB-RJ vai acompanhar os depoimentos e que já pediu ao IML (Instituto Médico Legal) e aos hospitais para onde algumas das vítimas foram levadas laudos feitos por eles.
A primeira coisa que a gente está defendendo é que nenhum depoimento seja colhido pela Polícia Civil. Até porque a Polícia Civil, neste caso, é quem pode ser investigada. Levar testemunhas e familiares para serem ouvidos na Polícia Civil não é a forma mais indicada. Estamos defendendo que todos esses depoimentos sejam colhidos pelo Ministério Público.
Álvaro Quintão
Quintão criticou a lentidão da Polícia Civil em repassar informações da operação. A corporação divulgou apenas ontem os nomes de todas as vítimas fatais, dois dias da ação ter terminado.
A OAB-RJ, inclusive, foi quem compilou uma primeira lista com a identificação das vítimas ao procurar as famílias no IML.
"O problema é que eles (a Polícia Civil) tentaram criar uma narrativa desde o início onde todos que morreram eram criminosos, todos estavam em troca de tiros. Eles tentaram fazer essa narrativa para não ter espaço para nenhum tipo de investigação. O que todos querem saber é o que aconteceu, como aconteceu, por que da operação, quem autorizou, por que descumpriram uma decisão do STF", assinalou o advogado.
'Desastre'
A Polícia Civil alega que os 27 mortos na operação "são parte de investigações em andamento que comprovam envolvimento atual no crime organizado". A corporação afirma que 25 deles possuem antecedentes criminais, mas não os descrimina.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ questiona essa informação, dizendo que ela não procede. Quintão conta que a polícia tinha 21 mandados de prisão na operação, cumpriu apenas três e que só três dos mortos na ação eram alvos de pedidos de prisão.
O advogado afirma que nenhuma das outras 16 vítimas estava sendo investigada pela Polícia Civil.
Independente de alguma coisa, a polícia está tentando justificar o injustificável. Nada justifica o desastre dessa operação. Admitindo a possibilidade que eles (os mortos) tivessem algum tipo de investigação ou qualquer outra coisa, a polícia não poderia ter agido da forma que agiu. Não é uma discussão de terem ou não terem passagem pela policia, que poderiam ser tratados da maneia como foram
Álvaro Quintão
Aras pede posição do governador
Uma decisão de junho do ano passado do ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), limitou as operações policiais nas comunidades do Rio durante a pandemia do novo coronavírus.
Na sexta-feira (7), Fachin já havia dito que viu fatos "graves" e indícios que poderiam configurar "execução arbitrária" dos policiais no Jacarezinho. O ministro pediu para que o procurador-geral da República, Augusto Aras, abrisse uma investigação sobre o caso.
Após o pedido de Fachin, Aras deu um prazo de cinco dias úteis para que o governador Cláudio Castro (PSC) e outras autoridades do estado esclareçam como a operação se deu.
Defensoria Pública chegou a protocolar no STF,uma petição questionando a legalidade da operação. O órgão pede que o Supremo intime o governador para que ele esclareça as circunstâncias em que a ação aconteceu.
Operação no Jacarezinho (RJ) deixa dezenas de mortos
Investigações
A operação no Jacarezinho aconteceu na quinta-feira (6) e deixou 28 mortos, dentre eles o policial civil André Leonardo Mello Frias, 48.
Familiares e amigos das vítimas denunciam abusos cometidos pelos agentes, que teriam executado várias pessoas.
Por causa da pressão de vários setores da sociedade, há investigações sobre o caso no STF, na PGR (Procuradoria Geral da República), no MPRJ (Ministério Público do Rio) e na própria Polícia Civil.
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