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Dor e lágrimas marcam enterro de vítimas de operação policial no Jacarezinho

Jacarezinho: Enterro de Cleyton da Silva Freitas de Lima, no Cemitério Inhaúma - Bruno Kaiuca/AFP
Jacarezinho: Enterro de Cleyton da Silva Freitas de Lima, no Cemitério Inhaúma Imagem: Bruno Kaiuca/AFP

08/05/2021 21h04Atualizada em 09/05/2021 09h49

Com lágrimas e orações, os parentes de algumas das 28 pessoas mortas na quinta-feira (6) durante uma sangrenta operação policial na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, começaram a enterrar seus entes queridos neste sábado, véspera do Dia das Mães.

"Quero justiça, peço justiça para todos, por todos, nós somos mães, eles são pais de família, então nós estamos sofrendo", declarou à AFP Edeluze, de 67 anos, ao enterrar o filho Márcio Bezerra, que deixou três filhos e dois netos.

"Os policiais subiram [na comunidade] matando os meninos, isso é uma crueldade", denunciou Miriam Bezerra no túmulo do irmão.

A ação policial na favela do Jacarezinho foi considerada a mais mortal da história do Rio por organizações de direitos humanos. Um policial, enterrado na sexta-feira (7), também morreu na ação.

Segundo reportagens da imprensa, outras cinco pessoas foram sepultadas neste sábado em dois cemitérios do Rio em meio a cenas de dor. Hoje, outras 13 serão enterradas.

Jacarezinho: Enterro de Cleyton da Silva Freitas de Lima, no Cemitério Inhaúma - Bruno Kaiuca/AFP - Bruno Kaiuca/AFP
Jacarezinho: Enterro de Cleyton da Silva Freitas de Lima, no Cemitério Inhaúma
Imagem: Bruno Kaiuca/AFP

A sangrenta operação no Jacarezinho gerou protestos contra a polícia, uma onda de críticas de diversos setores da sociedade e um pedido da ONU para a abertura de uma investigação "independente" das denúncias de execuções sumárias pelas mãos de policiais.

A Polícia Civil, responsável pela operação, afirmou que todos os mortos eram "criminosos" e divulgou ontem os nomes dos 27 suspeitos.

A corporação garante que a operação no Jacarezinho, considerado um bastião do grupo criminoso Comando Vermelho, buscou desmantelar uma quadrilha que recrutava crianças e adolescentes para o crime.

Funeral de Jonathan Araújo da Silva no Cemitério de Inhaúma - Rai Aquino/UOL - Rai Aquino/UOL
Funeral de Jonathan Araújo da Silva no Cemitério de Inhaúma
Imagem: Rai Aquino/UOL

A operação, realizada nas primeiras horas da quinta-feira, transformou o Jacarezinho em um campo de batalha, com cadáveres espalhados e poças de sangue nas ruas estreitas, segundo testemunhas.

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Edson Fachin, ordenou que o Ministério Público do Rio de Janeiro investigasse dois vídeos que circularam nas redes sociais em que policiais aparecem atirando indiscriminadamente.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), "que esclareça as circunstâncias da operação" diante do possível "descumprimento" da decisão do STF de suspender esse tipo de ação nas favelas durante a pandemia.

A polícia garante que respeitou todos os protocolos e que disparou para se defender.

Operação no Jacarezinho (RJ) deixa dezenas de mortos

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que venceu as eleições presidenciais de 2018 com um discurso severo contra a criminalidade, fez questão de defender a ação policial.

"O energúmeno poderia, além de citar os direitos dos bandidos, nos informar onde eles conseguiram porte de arma de fogo", atacou o presidente no Twitter, junto com um curto vídeo de um analista do canal CNN Brasil que comentava a operação policial.