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Juiz autoriza novo depoimento para esclarecer morte de petista em Foz

Marcelo Arruda, petista morto por bolsonarista em Foz do Iguaçu - Reprodução/Redes sociais
Marcelo Arruda, petista morto por bolsonarista em Foz do Iguaçu Imagem: Reprodução/Redes sociais

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

19/07/2022 14h05

O juiz Gustavo Germano Francisco Arguello, da 3ª Vara Criminal de Foz do Iguaçu (PR), autorizou hoje que seja colhido depoimento complementar de uma pessoa já ouvida na investigação para esclarecer o assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda, morto a tiros enquanto comemorava o aniversário de 50 anos com uma festa temática do PT.

A decisão atende a um pedido feito pelo promotor Tiago Lisboa Mendonça, do Ministério Público do Paraná, sob a alegação de que o relato foi interrompido quando a testemunha iria revelar a identidade de outras duas pessoas que estavam no churrasco quando o vídeo da festa petista foi exibido ao atirador, o policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho.

Vaguino Aparecido Gonçalves disse que estava em uma mesa com Guaranho, a esposa dele com a filha de três meses, um outro amigo acompanhado pela filha e "outros dois sócios [da associação onde aconteceu a festa de Arruda] que estavam próximos" na confraternização. Contudo, acabou sendo interrompido sem revelar a identidade dessas pessoas em depoimento dado à Polícia Civil do Paraná em 12 de julho, três dias após o crime.

"Após a indicação dos nomes, deverá a autoridade policial proceder à oitiva das testemunhas referidas, a fim de que prestem esclarecimentos sobre os fatos objeto do presente inquérito policial", cita um dos trechos do pedido solicitado pelo MP.

Vaguino confirmou ter acessado as câmeras da festa petista por meio de aplicativo no celular. Contudo, negou que o assunto tenha sido discutido nos dois grupos de associados dos quais participa no WhatsApp.

Segundo depoimentos, o aplicativo foi instalado por Claudinei Coco Esquarcini, que cometeu suicídio no domingo (17) em Medianeira, a 50 km de Foz. O MP e a Polícia Civil do Paraná investigam se há relação entre a morte dele e o assassinato do petista. O filho de Claudinei prestará depoimento ainda hoje sobre o caso.

A Justiça também autorizou acesso a documentos do inquérito policial para ser utilizado no processo administrativo disciplinar instaurado pelo Depen (Departamento Penitenciário Nacional), que apura as condutas de Guaranho.

Lacunas na investigação: o que falta esclarecer?

Ontem à noite, a Justiça do Paraná já havia determinado o complemento de novas informações à Polícia Civil, atendendo a um pedido feito pelo Ministério Público, que deve oferecer a denúncia do homicídio amanhã (20).

O inquérito foi encerrado antes dos resultados de exames de confronto balístico, de perícia no carro de Guaranho e sem reconstituição no local do crime. Também não foram concluídos os laudos periciais de leitura labial das pessoas que aparecem nas imagens do assassinato e de extração de dados do celular do atirador.

O advogado Daniel Godoy, um dos representantes da família da vítima, entende que o depoimento complementar e as diligências determinadas pela Justiça podem ajudar no esclarecimento do caso.

"As requisições do MP autorizadas pela Justiça podem recolocar a investigação no rumo correto para que possamos chegar à verdade integral dos fatos", observa.

Apoiador de Jair Bolsonaro (PL), o policial penal Jorge Guaranho foi ao local do crime de carro com a esposa e a filha de três meses no banco de trás com gritos de apoio ao presidente e ataques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dando origem ao desentendimento, segundo consta em depoimentos e nas imagens do crime.

Ele foi indiciado na última sexta-feira (15) por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e por causar perigo a outras pessoas, com pena que pode variar de 12 a 30 anos de prisão.

A delegada Camila Cecconello descartou crime de ódio por motivação política, baseando-se no relato da esposa do atirador. Os advogados da família da vítima contestam, citando o relato de uma testemunha, que disse ter ouvido Guaranho gritar "aqui é Bolsonaro" instantes antes de atirar.

Procure ajuda

Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por email, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.