Com fuga inédita, 'matadores' ganharam status e financiamento do CV, diz PF

Com a fuga inédita de um presídio de segurança máxima, os detentos recapturados ontem pela PF em Marabá (PA) ganharam status e financiamento de uma das maiores facções do país para escaparem em uma caçada que durou 50 dias, segundo fontes da PF.

O que aconteceu

As investigações apontam que a dupla não teve ajuda para fugir da penitenciária de Mossoró (RN). Rogério da Silva Mendonça, 33, e Deibson Cabral Nascimento, 35, eram "matadores" do Comando Vermelho no Acre, mas não tinham relevância na hierarquia da facção. Na mesma unidade, estava detido Fernandinho Beira-Mar, líder do CV.

Os fugitivos, entretanto, receberam financiamento enquanto escapavam das equipes de busca. A movimentação de Rogério e Deibson foi facilitada graças ao fornecimento de alimentos, armas e veículos para deslocamento, diz a PF. Os investigadores acreditam que eles ganharam status e dinheiro na facção após a primeira fuga registrada em um presídio federal.

Os dois foram capturados em meio a um comboio formado por três veículos e com o auxílio de outros quatro comparsas a 1.600 km de Mossoró. A PF agora investiga se esses comparsas, que estariam dando apoio logístico para uma fuga ao exterior, integram a estrutura do CV no Pará.

Fuzil apreendido com fugitivos custa R$ 30 mil no mercado paralelo, dizem especialistas. "É um valor estimado. A guerrilha do tráfico pode comprar armas militares poderosas como os fuzis AR-15", disse Vinicius Cavalcante, consultor e especialista em segurança pública. Em áudio obtido com exclusividade pelo UOL, um dos agentes da PF que participaram da captura disse que Rogério fez menção de atirar com o fuzil.

Contato com a cúpula do CV no Rio de Janeiro foi confirmado após família ser feita refém, aponta investigação. Três dias após a fuga, ocorrida em 14 de fevereiro, Rogério e Deibson usaram o celular de uma das vítimas rendidas na área rural de Mossoró. A informação foi confirmada pelo Ministério da Justiça.

Polícia Civil do Rio indicou que eles planejavam se esconder em favelas cariocas sob o domínio do Comando Vermelho. Mas investigações posteriores apontaram que a cúpula da facção na Rocinha, apontada como uma das maiores favelas do país, proibiu a ida deles para lá.

No dia seguinte à fuga, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, apontou uma série de falhas que podem ter facilitado a fuga do presídio. Havia obras no local, eles teriam tido acesso a ferramentas e feito buracos nas paredes das celas onde estavam. "Foi uma fuga, diria eu, pelo menos num primeiro momento, que custou muito barato, que foi efetuada com aquilo que foi encontrado no local", disse em 15 de fevereiro.

Todas as informações apontam que eles passaram a ter ajuda após a fuga da unidade. Passaram a receber um certo suporte, que culminou com a exposição após a prisão de ontem, porque estavam escoltados com três carros, com pessoas armadas e dinheiro (...). A operação de busca pode ter se encerrado, mas as investigações estão em curso.
André Garcia, secretário nacional de Políticas Penais ao UOL News

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Quem são os fugitivos de Mossoró

Fontes nas forças de segurança indicam que Deibson e Rogério são conhecidos por serem encarregados de assassinatos no "tribunal do crime" do Comando Vermelho do Acre. Deibson cumpria pena de 81 anos de prisão e responde por crimes como tráfico, organização criminosa e roubo por assalto a mão armada. Rogério foi condenado a 74 anos e é acusado de homicídio qualificado e roubo.

Rebelião motivou transferência para presídio de segurança máxima. Os 14 detentos acusados de participar de um motim ocorrido no fim de julho de 2023, no presídio Antônio Amaro Alves, em Rio Branco (AC), foram transferidos para presídios de segurança máxima a pedido do Gaeco (Grupo de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público do Acre. Entre eles, Deibson e Rogério.

Identificação com o auxílio de drones. O reconhecimento dos responsáveis pela rebelião no Acre foi feita com o auxílio de áudios, vídeos e por imagens feitas por drone durante o motim.

Como foram as buscas

Inicialmente, agentes federais e estaduais concentraram as buscas num raio de 15 km de distância do presídio. Lewandowski anunciou em 19 de fevereiro o emprego de mais cem agentes da Força Nacional para atuar nas buscas. A corporação saiu da área em 29 de março.

Secretarias da Segurança de três estados anunciaram que estavam atuando juntas para fiscalizar divisas. Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará aumentaram o policiamento terrestre e aéreo da região. A Interpol foi alertada.

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Roupas e pegadas foram encontradas por equipes da força-tarefa dois dias depois da fuga. Calçados e camisetas — que podem ser dos dois fugitivos — foram localizados em uma área rural l de Mossoró. Com isso, as buscas se intensificaram na região.

No total, 14 pessoas foram presas em flagrante por suspeita de ajudar os fugitivos — incluídos os quatro homens detidos na captura. Na primeira semana de buscas, duas pessoas foram presas em flagrante e outra preventivamente. Em 22 de fevereiro, a PF cumpriu nove mandados de busca e apreensão nas cidades de Mossoró, Quixeré (CE) e Aquiraz (CE).

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