Caso Porsche: Polícia Civil fala em 'mudança normal' após trocar delegado
O delegado geral da Polícia Civil de São Paulo, Artur Dian, classificou nesta sexta-feira (19) como "mudança normal" a troca do delegado Nelson Alves da investigação da colisão envolvendo um Porsche que matou um motorista de aplicativo na zona leste de São Paulo no fim de março.
O que aconteceu
Dian declarou que Alves é "um excelente delegado" e que a substituição foi uma "permuta". Ele esclareceu ao Brasil Urgente (TV Bandeirantes) que Nelson Alves saiu do 30º DP (Tatuapé) e vai para o 81º DP (Belém), ambos na zona leste da capital, enquanto o delegado Milton Burgese assumiu o 30º DP e o caso do Porsche. A mudança ocorre após Alves já ter cobrado a PM paulista pela entrega de imagens das câmeras corporais dos agentes que liberaram o motorista do veículo de luxo.
Delegado geral fala em "mudança normal, corriqueira" e "administrativa", e negou qualquer tipo de interferência no caso. "Não teve qualquer tipo de ingerência do delegado titular, do diretor, da seccional, eu posso te afirmar isso", acrescentou. Dian ainda argumentou que essas mudanças ocorrem "em todas as delegacias da capital" e declarou que Alves fez um excelente trabalho, incluindo os pedidos de prisão temporária e preventiva do condutor do veículo Fernando Sastre Filho, 24, — ambos negados pela Justiça.
Mesmo com a troca de delegado, a linha investigatória seguirá a mesma, diz Dian. Reforçando o "excelente inquérito policial" do caso feito por Alves, o delegado geral afirmou que a mesma linha investigatória do caso continuará, bem como os outros inquéritos do DP que serão encaminhados para a responsabilidade de Burgese.
Assim como Dian, a SSP nega relação entre troca no comando de delegacia e investigação sobre colisão com Porsche. Procurada, a Secretaria da Segurança Pública disse que investigação está em fase final para ser relatada à Justiça. "Não houve afastamento. Ocorreu uma mudança administrativa", disse a pasta.
Ainda há algumas diligências a serem efetuadas, laudos que precisam aportar no cartório do 30º DP, imagens de câmeras [de segurança], enfim, para dar continuidade ao inquérito [do caso do Posche] nas mesmas características que vinham sendo presididas pelo doutor Nelson.
Arthur Dian, delegado geral da Polícia Civil de São Paulo
Deputado Delegado Palumbo diz que troca não é normal
O deputado federal Delegado Palumbo (MDB-SP) afirmou que a troca de delegado não é normal. Em entrevista ao Brasil Urgente, o parlamentar apontou que a mudança indica que pode ter ocorrido algum indício de irregularidade no caso, seja com o delegado, cúpula da Polícia ou mesmo da Secretaria da Segurança Pública. Na visão do político, é necessário entender por qual motivo Alves foi retirado da delegacia.
Parlamentar questionou por que as imagens das câmeras corporais dos PMs ainda não foram entregues às autoridades. Ele afirmou que a conduta correta dos agentes deveria ter sido apresentar Fernando na delegacia ou, caso ele estivesse ferido, levá-lo até um hospital e apresentar o caso para a autoridade policial — e não liberar o homem para ir ao médico com a mãe dele. "Isso é inadmissível e inaceitável. Será que fosse pobre eles dariam o mesmo tratamento? Está errado isso. Muito errado", disse.
Na opinião do deputado, Alves precisaria ser ouvido. Porém, Palumbo explicou que um dos problemas da Polícia Civil é ser, muitas vezes, "subserviente" ao governo e ao secretário de Segurança Pública e relatou que isso gera o medo de falar em razão de represálias, como a transferência da unidade de trabalho.
Qual o interesse de ficar protegendo uma pessoa que mata um pai de família? Isso precisa ser investigado e um dos meios de investigação é pegar e expor as imagens para saber se a mãe ofereceu dinheiro, se alguém ligou para os policiais [e disse] 'olha, não apresenta [ele na delegacia], deixa ir embora'. Vai estar lá na câmera. Se eles tivessem usando a câmera, como creio que estavam, vai estar na câmera. (...) Se fosse ao contrário, um motorista de aplicativo que tivesse matado um playboy em um Porsche, ele estaria preso.
Delegado Palumbo, ao Brasil Urgente
Delegado cobrou a PM
Delegado cobrou agilidade na entrega das imagens. Nelson Alves chegou a questionar a PM sobre o que motivou a liberação do empresário logo após o acidente. A própria PM apura possível erro no caso. Normalmente, agentes da Polícia Civil e da Militar evitam trocar críticas sobre atuação publicamente.
Fontes ligadas à investigação informaram ao UOL que os agentes seriam indiciados por prevaricação. A previsão é de que eles fossem interrogados nos próximos dias, após conclusão de uma sindicância interna da Corregedoria da PM, em um inquérito aberto apenas para apurar a participação deles no caso, de acordo com solicitação do MP (Ministério Público).
Delegado queria ouvir PMs. Segundo apurou o UOL, a intenção de Nelson Alves era saber o que motivou a liberação do empresário logo após o acidente. "Eu vou querer saber sobre isso aí. Eu vou querer saber por que liberaram", disse. A reportagem tentou contato com Alves nesta sexta (19), mas não teve retorno.
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A mãe de Fernando nega fuga e diz que saiu do local do acidente com autorização da PM. Ela disse ter argumentado que levaria filho ao hospital, o que acabou não ocorrendo. Em depoimento, disse ter ido antes para casa e que dormiu após tomar um relaxante muscular.
Motorista foi indiciado por homicídio doloso (quando há intenção de matar), diz a Polícia Civil. Fernando também deve responder por embriaguez ao volante, fuga do local do acidente e lesão corporal, devido aos ferimentos sofridos pelo passageiro que estava ao lado dele. Ele admitiu que estava dirigindo acima da velocidade permitida, mas negou ter ingerido bebidas alcoólicas — versão contestada por testemunhas.
A Justiça de São Paulo negou dois pedidos de prisão temporária de Fernando feitos pela Polícia Civil. Na última decisão, no dia 8 deste mês, o magistrado argumentou que prisão foi negada em razão da ausência dos requisitos e fundamentos autorizadores "da custódia cautelar".
Defesa de motorista diz ser "prematuro" julgar as causas do acidente. Em nota, os advogados Carine Acardo Garcia e Merhy Daychoum defendem que suposições não devem ser realizadas, já que os laudos periciais não foram concluídos, e afirmam que o homem não fugiu do local do acidente.
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