Com nervos aflorados, Bolsonaro vira maestro de atos de campanha
Aviões da Esquadrilha da Fumaça faziam piruetas espalhando fumaça verde amarela pelo céu. Quem olhava para o mar via a imponência de uma fragata da Marinha do Brasil, que mesmo de longe parecia imensa.
A estrutura de show patriótico estava pronta quando Jair Bolsonaro (PL) chegou no carro de som na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. O candidato à reeleição só não gostou do que viu no caminhão de som, apinhado de gente —mandou todos se afastarem do lugar onde escolheu falar, o ponto mais alto do palco, e encarnou o protagonismo.
Interação máxima com o público. Com o modo campanha política ativado, Bolsonaro falou de forma triunfal sobre seu governo. A respeito dos rivais, ralhou usando o tom de reprimenda de quem acusa e condena. Além do jeito de falar, o discurso chamou atenção pela forma. Bolsonaro foi maestro do próprio comício.
Depois de afastar os penetras, ele se fez ver por todos os lados do carro de som. Quando havia muita gente tirando fotos, parava para facilitar a tarefa. O empenho era tamanho que, mesmo depois de terminar o pronunciamento, Bolsonaro permaneceu no caminhão de som para interagir com o público.
Energia de quem precisa mudar a eleição. No feriado do 7 de Setembro, o presidente Bolsonaro tirou folga. Quem saiu de casa foi o candidato, que tinha agenda lotada. Foram dois atos militares, um em Brasília e outro no Rio. Também houve um discurso em cada uma dessas cidades. O ato no caminhão de som em Copacabana foi o último da série.
Bolsonaro chegou com as cordas vocais carregando o cansaço de quem falou o dia inteiro. Mas o público viu um presidente com muita energia e consciente do que estava buscando. Candidato que estagnou no segundo lugar das pesquisas contra um adversário que segue na liderança mantendo o mesmo percentual de votos, ele buscava uma demonstração de apoio popular.
Fotos para usar pelo resto da campanha. Bolsonaro gosta de usar a palavra missão para as tarefas que se propõe a cumprir. Ele pode se considerar bem-sucedido neste feriado. Os eventos no Rio e Brasília foram imensos. Trabalhando há semanas para mobilizar seu eleitorado no 7 de Setembro, arrastou multidões.
Não faltou estrutura de campanha para capturar este momento. Somente em Copacabana, eram dois drones. Ainda foi permitido que a imprensa subisse no caminhão de som para fazer imagens.
Bolsonaro contrariado antes de sair de casa. A consciência da importância do feriado coincidiu com momentos de tensão protagonizados por Bolsonaro. A TV Brasil acompanhou a saída dele do Palácio da Alvorada e flagrou o candidato argumentando de forma assertiva com a pessoa que estava no banco de trás.
O âncora disse que seria a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Antes, o marido dela havia aberto a porta traseira do veículo já com a faixa presidencial, mas não entrou porque estava contrariado. Segundos depois, o candidato voltou, argumentou e balançou a cabeça e as mãos como quem não concorda.
Mais tarde, durante seu discurso, Bolsonaro fez elogios à primeira-dama e parou de falar para beijar a mulher. A cena de carinho é comum nos eventos de campanha em que Michelle comparece. Mas geralmente é apenas um selinho e não um beijo prolongado como o de hoje.
Bolsonaro se exalta em caminhão de som. Outro episódio em que Bolsonaro pareceu um tanto exaltado ocorreu em um caminhão de som na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Michelle discursava e atrás dela a deputada federal Bia Kicis (PL-DF) cutucou o braço de Bolsonaro antes de falar alguma coisa.
Mais uma vez ele gesticula como quem não concorda com o que está ouvindo. A parlamentar tenta argumentar, mas não é bem-sucedida. Bolsonaro balança a cabeça negando qualquer concessão e encerra o diálogo com expressão contrariada.
Bronca em motorista. A equipe de campanha considera o combo motociata seguida de comício o formato ideal para os eventos eleitorais de Bolsonaro. Foi este o plano no Rio de Janeiro. Com o modo campanha presidencial ligado, o candidato queria o máximo de contato com a população.
Quando o carro aberto em que ele estava não se aproximou de apoiadores que acenavam, sobrou para o motorista. "Burrice", afirmou o presidente. O condutor ouviu uma reprimenda do candidato que terminou com a expressão "uma oportunidade desperdiçada".
Menções agressivas ao principal adversário. Bolsonaro não citou o nome do principal concorrente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas os ataques ao rival e à esquerda foram parte de seu discurso.
A palavra corrupção foi empregada algumas vezes e o candidato à reeleição se referiu ao adversário com a expressão "quadrilheiro de nove dedos que disputa a eleição no Brasil." Como acontece depois de ataques contra o ex-presidente, o público respondeu em coro com xingamentos ao concorrente.
Ataque ao STF foi terceirizado. A principal preocupação dos estrategistas da campanha de Bolsonaro eram declarações ofensivas contra autoridades e instituições. Se no ano passado, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e presidente do TSE (Tribunal Superior de Justiça), Alexandre de Moraes foi chamado de "canalha", desta vez não houve xingamentos.
Mas o candidato deu um jeito de terceirizar sua opinião em relação à principal Corte do Judiciário brasileiro. Ele afirmou que hoje a população sabe mais sobre os três Poderes.
"Hoje vocês sabem também como funciona a Câmara dos Deputados, sabem como funciona o Senado Federal. E sabem também como funciona o Supremo Tribunal Federal", declarou antes de ouvir uma forte vaia do público. Na sequência, Bolsonaro emendou. "O conhecimento liberta."
Sem mencionar os 200 anos de Brasil. Bolsonaro terminou o discurso dizendo que vai ao jogo do Flamengo no Maracanã durante a noite. Houve tempo até para citar o futebol, mas ele não falou nenhuma vez sobre os 200 anos da Independência nos discursos de hoje.
Isto vale para o pronunciamento em Brasília e no Rio de Janeiro. A mobilização das Forças Armadas para colocar aviões acrobáticos no céu e um navio de pano de fundo para palanque político não serviram para Bolsonaro lembrar da Independência do Brasil.
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