Quem são os suspeitos de matar por motivação política no Brasil
Em meio a um cenário de escalada de atos de violência relacionados à eleição presidencial, os suspeitos de matar em crimes com possível motivação política já foram investigados pela polícia anteriormente por envolvimento em casos de violência doméstica, agressão e roubo.
Só neste ano, já foram registrados ao menos cinco homicídios investigados por esse tipo de suspeita. Levantamento feito pelo Datafolha apontou que sete em cada dez pessoas dizem ter medo de serem agredidas fisicamente por causa das suas escolhas políticas.
Cronologia. Os crimes ocorreram em um intervalo de quase três meses, mas se intensificaram com a proximidade do 1º turno. Quatro dos cinco casos ocorreram nos últimos 30 dias —média de um assassinato por semana desde a reta final das eleições:
- 9 de julho. O guarda municipal Marcelo Arruda, 50, é assassinado pelo bolsonarista Jorge Guaranho em Foz do Iguaçu (PR).
- 7 de setembro. O petista Benedito Cardoso dos Santos, 42, é morto pelo bolsonarista Rafael Silva de Oliveira, 24, em Confresa (MT).
- 24 de setembro. Antônio Carlos Silva de Lima, 39, é esfaqueado por Edmilson Freire da Silva, 59, em Cascavel (CE).
- 26 de setembro. O motorista Ianário Pereira Souza Rocha é morto a tiros em evento político em Fortaleza (CE). A autoria é desconhecida.
- 4 de outubro. O estilista José Roberto Gomes Mendes, 51, é assassinado pelo petista Luiz Antonio Ferreira da Silva, 42, em Itanhaém (SP).
Faca usada na maioria dos crimes. Em três dos cinco homicídios com possível motivação política, os suspeitos usaram faca para matar em meio a discussões. Nos outros dois casos, as vítimas foram mortas a tiros.
O autor do assassinato de Ianário Pereira Souza Rocha, no dia 26 de setembro, foi o único ainda não identificado pela polícia. A vítima era motorista da então candidata a deputada estadual Sabrina Veras (MDB).
Envolvimentos em ocorrências anteriores. Os quatro suspeitos presos por assassinatos com motivação política neste ano têm envolvimentos em ocorrências anteriores.
O último episódio ocorreu na tarde de terça-feira (4), quando o eletricista petista Luiz Antonio Ferreira da Silva, 42, matou a facadas um amigo bolsonarista após discussão sobre política enquanto preparavam o almoço em Itanhaém, litoral de São Paulo. O corpo da vítima, o estilista José Roberto Gomes Mendes, 51, tinha ao menos oito perfurações visíveis.
Luiz Antonio, que confessou ter cometido o crime e teve a prisão em flagrante convertida em preventiva, foi indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil. Ele tem histórico de violência doméstica e antecedentes criminais por roubo.
Em janeiro de 2020, uma ex-namorada dele obteve medida protetiva após registrar ocorrência por lesão corporal em uma delegacia de Praia Grande, na Baixada Santista. Ele também já respondeu a outros dois inquéritos por roubo, em 2001 e em 2005.
Como foi o assassinato do bolsonarista. À Polícia Civil, Luiz Antonio disse que a briga começou quando o amigo disse que "todo petista era ladrão". Luiz Antônio respondeu: "você está comendo a comida que o petista comprou."
Segundo a versão do eletricista, o bolsonarista teria levantado da mesa para atirar uma panela e um rádio na sua direção. Em seguida, o petista teria retirado uma faca das mãos dele e a usado para golpeá-lo enquanto estavam em luta corporal.
Assassinato em Foz
O primeiro assassinato por motivação política do ano ocorreu na noite de 9 de julho, quando o guarda municipal Marcelo Arruda, que comemorava o aniversário de 50 anos com uma festa temática alusiva ao PT em Foz do Iguaçu (PR), foi morto a tiros pelo policial penal Jorge Guaranho.
O atirador foi denunciado por homicídio qualificado está preso preventivamente desde a madrugada de 13 de agosto no Complexo Médico Penal de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Apoiador de Jair Bolsonaro (PL), ele foi ao local do crime para "provocar" os participantes, com reprodução de jingle em referência ao presidente e xingamentos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), segundo a Polícia Civil.
Algemado por desacato. Antes do crime, Guaranho se envolveu em duas confusões em um intervalo de apenas 18 meses. Em junho de 2018, ele precisou ser algemado e detido após insultar policiais militares durante uma abordagem no Rio de Janeiro.
"Jorge Guaranho se aproximou dos policiais militares, identificou-se como ex-PM e atual policial federal. Em seguida, passou a ofender o capitão da PM, xingando-o de 'oficial de merda, capitão de merda', e chamou o sargento de 'praça baba-ovo e praça de merda', e mandou que fossem embora do local", diz a ocorrência.
Em seguida, foi algemado e levado para uma delegacia. De acordo com o relato de testemunhas, ele estaria alcoolizado. Um processo, aberto pelo crime de desacato, foi arquivado pela Justiça do Paraná.
Guaranho, que trabalhou por dois anos como PM no Rio de Janeiro, deixou a corporação após passar em concurso público para atuar como policial penal federal.
Na madrugada de 27 de outubro de 2019, o policial penal federal se envolveu em um novo desentendimento, desta vez em uma festa em Capanema (PR). Após a confusão, Guaranho disse aos seguranças do local que era policial. Mas se recusou a mostrar a documentação para se identificar.
Eram 2h40 quando a Polícia Militar foi acionada. Guaranho então minimizou o tumulto, dizendo que tinha sido apenas um mal-entendido. Uma representante da equipe de segurança da festa não quis apresentar denúncia. Com isso, foi feito apenas um registro produzido pelos policiais que foram ao local.
A PM-RJ (Polícia Militar do Rio de Janeiro) informou que não há registros de conduta violenta no período em que Guaranho esteve na instituição. Já o Depen (Departamento Penitenciário Nacional) esclareceu que o policial penal chegou a responder a uma sindicância interna por causa do episódio. Mas a apuração foi arquivada porque o incidente foi considerado "ato da vida privada" do servidor.
Procurada, a defesa de Guaranho disse que os dados em relação à conduta dele no Depen são de um profissional com "conduta exemplar", e que os registros das confusões foram arquivados.
Laudo indica "transtornos mentais". Na noite de 7 de setembro, Rafael Silva de Oliveira matou a facadas Benedito Cardoso dos Santos na zona rural de Confresa (MT). Preso no dia seguinte por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e meio cruel, ele confessou ter cometido o crime após discussão sobre política em depoimento à Polícia Civil. Um laudo apontou que ele desferiu 70 facadas na vítima.
Rafael tem antecedentes criminais por tentativa de latrocínio (roubo seguido de morte) e estelionato. Em abril de 2019, antes dos crimes, uma irmã dele procurou a Justiça de Mato Grosso para solicitar internação compulsória.
Na ocasião, ela apresentou laudos indicando que o irmão sofre de transtornos mentais, como esquizofrenia, e apresentava quadros de surto psicótico grave, com delírio e ideias homicidas. Mas o pedido foi negado pela Justiça.
Outro crime com faca. Meses após o pedido de internação compulsória, em setembro de 2020, Rafael foi acusado de cometer um crime em Cuiabá, capital de Mato Grosso. Segundo a polícia, ele abordou um taxista, anunciou o roubo e depois desferiu golpes de faca na vítima: no rosto, na cabeça e no braço direito. Rafael fugiu e só foi localizado pela polícia em março de 2021, alegando ter agido em "legítima defesa".
Em março de 2022, Rafael foi preso no centro de Confresa por estelionato e falsificação de documento. Na ocasião, aplicou diversos golpes em uma lanchonete, com comprovantes falsos de depósitos por Pix. Ele foi solto no mesmo dia. Procurada, a irmã dele não quis se manifestar. Rafael está preso na cadeia pública de Porto Alegre do Norte (MT), a 20 quilômetros de Confresa.
'Quem é eleitor do Lula?' No dia 24 de setembro, Edmilson Freire da Silva, 59, entrou em um bar em Cascavel (CE), questionando quem votaria no petista, segundo testemunhas. Após Antônio Carlos Silva de Lima, de 39 anos, responder que era eleitor de Lula, ele foi esfaqueado na costela e morreu no local. Edmilson foi preso em flagrante.
Ele tem passagens pela polícia por lesão corporal dolosa por violência doméstica. Ele foi preso em flagrante.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.