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No Flow, Lula bate recorde, liga Bolsonaro a pedofilia e provoca Neymar

Do UOL, em São Paulo

18/10/2022 19h53Atualizada em 19/10/2022 16h30

Em entrevista ao Flow Podcast na noite de terça-feira (18), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) bateu recorde de audiência, disse que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem "comportamento de pedófilo" —citando o caso das meninas venezuelanas— e voltou a falar da corrupção durante os governos petistas.

Em entrevista de uma hora e 40 minutos ao apresentador Igor Coelho, a audiência ultrapassou 1 milhão de espectadores simultâneos —quase o dobro do programa com Bolsonaro, que teve pouco mais de 550 mil em mais de 5 horas de conversa, em agosto. O petista tratou de economia, fake news, fez um apelo para que os eleitores votem em 30 de outubro e comentou a declaração de voto de Neymar no presidente.

Transporte na eleição. Lula fez um apelo contra a abstenção no segundo turno e citou a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que libera os prefeitos para que ofereçam transporte público de graça no dia da votação.

O ministro Luís Roberto Barroso decidiu, mais cedo, que prefeitos e empresas concessionárias podem oferecer transporte público gratuito voluntariamente no segundo turno das eleições, em 30 de outubro, sem que isso acarrete punição por improbidade. A decisão atendeu a um pedido da Rede Sustentabilidade, que levou o caso ao Supremo junto da campanha de Lula.

Sabe, por que é muito importante, o transporte está caro, e uma pessoa que mora aqui na zona leste, se ele tiver que votar em outro lugar, ele não tem dinheiro. Então o que tem dar um dia de transporte para o cara viajar para ir votar?"

"E se você não vota, Igor, vote, cara. Levante de manhã", completou, quando o apresentador Igor Coelho disse que não votava.

"Pintou um clima." Lula afirmou que Bolsonaro tem "comportamento de pedófilo" ao citar a fala do candidato à reeleição sobre adolescentes venezuelanas. O vídeo, que viralizou no fim de semana, causou uma das principais crises da campanha do presidente no período eleitoral.

O comportamento dele agora, o comportamento no caso das meninas da Venezuela, é o comportamento de um pedófilo. E ele percebeu isso. Por isso é que ele ficou apavorado e tentou se explicar o mais rapidamente possível."

Em entrevista a um podcast, na semana passada, Bolsonaro se referiu a um passeio de moto em que viu adolescentes venezuelanas arrumadas "para ganhar a vida", insinuando exploração sexual infantil. Ele disse que "pintou um clima" e decidiu parar no local.

Com a viralização deste trecho, Bolsonaro chegou a abrir uma live de madrugada para refutar as falas. No domingo (16), antes do debate presidencial, disse que teve as horas "mais terríveis da vida" devido à "acusação infame, sórdida, de pedofilia". Nesta terça, mais cedo, divulgou vídeo ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e afirmou que suas palavras "foram tiradas de contexto".

"Se as minhas palavras, que, por má-fé, foram tiradas de contexto, de alguma forma foram mal entendidas ou provocaram algum constrangimento às nossas irmãs venezuelanas, peço desculpas", afirmou o presidente.

Para o petista, Bolsonaro não reuniu grupos como organizações da sociedade civil, trabalhadores, sindicatos, mulheres e negros durante seu governo. "Ele vive por conta de alimentar os milicianos dele de mentira, porque ele tem um exército poderoso de divulgar mentira", disse. "Ele tem uma propensão de falar bobagem."

O apoio do Neymar. O ex-presidente ironizou a declaração de voto de Neymar, atacante da seleção brasileira, em Bolsonaro às vésperas do primeiro turno. Lula lembrou do processo que o jogador sofre na Espanha, envolvendo sonegação de imposto, e do caso aqui no Brasil.

Não fico puto, o Neymar tem direito de escolher o que ele quiser para ser presidente. Eu acho que ele está com medo se eu ganhar as eleições eu vá saber o que o Bolsonaro perdoou da dívida do Imposto de Renda dele. Eu acho que é isso que ele está com medo."

De acordo com a Receita Federal, Neymar teria sonegado impostos durante os anos de 2011 e 2013. Em 2015, a Receita apontou que houve sonegação de R$ 63,6 milhões por parte do jogador. Na ocasião, foram listadas omissão de rendimentos de fontes do exterior com publicidade e "omissão de rendimentos oriundos de vínculo empregatício pagos pelo Barcelona".

Corrupção na Petrobras. Lula também voltou a falar sobre os escândalos de corrupção que envolveram a Petrobras durante os governos petistas. Em entrevista, o ex-presidente já havia admitido a possibilidade, mas, mais uma vez, não relacionou o caso a membros do partido ou do seu governo.

Houve problema de corrupção na Petrobras? Deve haver, porque a Petrobras tem 82 mil trabalhadores, a Petrobras tem milhares engenheiros, a Petrobras tem milhares de servidores, milhares de pequenas e médias empresas, obviamente que pode ter corrupção. Quando você descobre a corrupção, o que você faz? Prende o ladrão. Mas não prejudica os trabalhadores."

Autocrítica pra quê? Questionado por Igor sobre um possível mea culpa do PT para aumentar eleitorado nessas eleições, Lula negou a necessidade de autocrítica. Segundo ele, seria uma ideia "fantasticamente engraçada" requerida apenas ao partido e que seria culpa da "elite brasileira".

"Veja, se eu fizer autocrítica todo dia, eu não preciso de oposição. A oposição é que tem que me criticar. Por que eu mesmo tenho que me criticar?", questionou.

Você acha que elite brasileira engoliu de graça o PT fazer uma lei que registra empregada doméstica em carteira, jornada de trabalho, direito de férias, descanso semanal? Você acha que a direita aceitou pacificamente isso? Uma sociedade que é escravista."

Combate às mentiras. O ex-presidente voltou a defender que a divulgação de notícias falsas foram determinantes para a derrota de Fernando Haddad (PT) para Bolsonaro em 2018 e reafirmou que é a favor da regulação da mídia, mediante debate com a sociedade, para tratar também sobre a divulgação de fake news.

Antigamente, você contava um mentira, você chegava pro teu pai, falava: 'Ô pai, eu fui bem na escola, meu boletim só tem dez!', e você só tinha vermelho no boletim, não tinha passado, e só você e teu pai sabiam. Agora, não. Agora o cara se tranca no quarto dele, e pega o seu celular, e fala mal da mãe de todo mundo, do pai de todo mundo, sem nenhuma responsabilidade!"

"O cara promove a morte, promove a violência, promove o tumulto, não é possível! Ao invés de a gente chamar, sabe, rede? Rede social, sabe, não é uma rede social, porque tem muita coisa que não é social. Então, é preciso que as pessoas saibam o que é que é normal", completou Lula.

"O mentiroso." Lula já abriu a entrevista relacionando mentiras a Bolsonaro. Como tem repetido em seus discursos, o ex-presidente, que passa pela sexta eleição, disse que enfrentar o atual presidente em debates e na eleição é diferente de antigos adversários por causa das fake news.

Todo segundo turno o debate é mais flexível. Eu já tive com o [ex-governador e atual candidato a vice Geraldo] Alckmin, já tive com o [o senador José] Serra. É um debate melhor, porque você tem uma hora e meia, você e o teu adversário. O problema de debater com o Bozo [Bolsonaro] é que ele é um mentiroso compulsivo."

"É um negócio impressionante, eu nunca... Eu pensei que o [ex-governador Paulo] Maluf, que era mentiroso, porque eu faço política há 50 anos", completou Lula, ao tratar do debate do último domingo (16).

Os dois tiveram mais de uma hora de embate direto, com opiniões distintas sobre performance. Para petistas, Bolsonaro se mostrou "vazio", enquanto para governistas Lula foi emparedado pelo assunto de corrupção. Na entrevista ao podcast, Lula disse que o programa teve um "bom formato".

Recorde. Com a entrevista, Lula se tornou a maior audiência simultânea da história do podcast, um dos mais populares do Brasil. Às 19h24, o petista somava 645 mil internautas simultâneos e, às 20h08, bateu a marca de 1 milhão.

Desde segunda-feira (17), o deputado federal André Janones (Avante-MG) convocou militantes para superar o recorde de audiência de Bolsonaro. No dia 8 de agosto, uma segunda-feira, o atual chefe do Executivo foi entrevistado pelo programa e alcançou uma média de 550 mil espectadores simultâneos.