'Inimigo da Lava Jato': Moro é criticado por jornais após apoiar Bolsonaro
"Os inimigos da Lava Jato não são o PT, o Supremo Tribunal Federal ou Romero Jucá. É o próprio Sergio Moro", diz um editorial do jornal O Estado de São Paulo, publicado hoje, que critica o ex-juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, cargo pelo qual ficou conhecido, devido sua reaproximação com Jair Bolsonaro (PL).
Tom semelhante também foi utilizado hoje pelo jornal O Globo para avaliar o apoio do ex-ministro da Justiça, que saiu do governo Bolsonaro acusando o presidente de querer interferir na autonomia da Polícia Federal. Para a publicação, ficou "provado" que o objetivo era atingir Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Ao contrário do que sempre argumentou, acaba por mostrar que seu objetivo, desde os tempos de juiz da Lava Jato em Curitiba, era atingir Lula, motivado não apenas pelo combate à corrupção, mas também por preferência política e ideológica", afirma o texto.
Os editoriais — o núcleo de opinião das publicações, distinto dos setores de reportagens — elogiam os legados da Operação Lava Jato, mas ponderam que, desde que Moro aceitou ser ministro de Bolsonaro, a imagem de "combate à corrupção" foi desgastada, assim como o prestígio do desmantelamento de esquemas dentro da Petrobras.
"Em 2018, ao deixar a magistratura para assumir o Ministério da Justiça do governo Bolsonaro, ele deu todos os elementos para o reconhecimento da parcialidade de sua atuação como magistrado nos processos contra Lula, abrindo caminho para a anulação das decisões judiciais", aponta o Estadão.
"Ao participar do núcleo da campanha de reeleição de Bolsonaro - justamente quem o teria impedido de realizar seu trabalho de combate à corrupção na pasta da Justiça -, Sérgio Moro diz que a lei é só para os inimigos e que, na política, vale tudo. É a antítese perfeita da mensagem renovadora da Lava Jato", complementam.
Para O Globo, a operação "foi um marco" para representar que a lei está acima de todos. "É por isso lamentável que Moro contribua para destruir o legado que ele próprio ajudou a construir no combate à corrupção".
A reaproximação. Antes de estar ao lado de Bolsonaro no debate para o 2º turno, Moro escolheu antagonizar mais com Lula do que com Bolsonaro, que também era alvo de suas críticas, em sua campanha para o Senado.
Ao declarar voto em Bolsonaro, disse que Lula era "inimigo comum" tanto dele quanto do presidente, abrindo novamente o caminho de diálogo.
Após o debate, Bolsonaro comparou a aparente reconciliação a uma discussão doméstica: "Você nunca brigou em casa com o marido? Uma briguinha. Acontece, divergências, mas nossas convergências são muito maiores", declarou.
Relembre papel de Moro na prisão de Lula. Moro, eleito senador pelo Paraná, foi o juiz responsável por condenar Lula a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo caso do triplex do Guarujá (SP).
Em segunda instância, a pena do ex-presidente foi aumentada para 12 anos e 1 mês. O STJ (Superior Tribunal de Justiça) chegou a manter a condenação, mas reduziu a pena para 8 anos, 10 meses e 20 dias. Lula ficou preso por 580 dias e ficou impedido de concorrer às eleições de 2018.
Em abril de 2021, essa e outra condenação — do sítio do Atibaia — foram anuladas pelo STF. Na época, a maioria dos ministros concordou com a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba para julgar Lula. Depois, em junho de 2021, Moro seria considerado um juiz parcial pelo STF na condução do processo do triplex do Guarujá.
Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol, eleito deputado federal pelo Paraná, também foram figuras centrais da chamada "Vaza Jato", uma série de reportagens que publicou mensagens vazadas entre procuradores e Moro, então juiz, no decorrer da Operação.
As discussões pelo Telegram culminariam no reconhecimento da parcialidade de Moro ao julgar o caso do triplex, na anulação das decisões da Lava Jato pelo STF (Supremo Tribunal Federal) e, por extensão, na revogação da prisão de Lula.
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