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Tarcísio e Haddad disputam Grande SP na reta final pelo governo paulista

Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidatos ao governo de São Paulo, durante o primeiro debate do 2º turno - 10.out.2022 - Renato Pizzutto/Band
Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidatos ao governo de São Paulo, durante o primeiro debate do 2º turno Imagem: 10.out.2022 - Renato Pizzutto/Band

Do UOL, em São Paulo

23/10/2022 04h00

A região metropolitana de São Paulo será o palco da disputa entre Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT) na reta final da eleição.

Juntas, as 39 cidades da Grande São Paulo correspondem a 47% do eleitorado no estado —e é exatamente nesta região onde os dois postulantes ao Palácio dos Bandeirantes vão focar seus últimos compromissos.

Os dois manterão o tom nacionalizado das campanhas: Tarcísio é apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e Haddad, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo pesquisa Datafolha divulgada na quarta-feira (19), o candidato bolsonarista tem 49% das intenções de voto e o petista, 40%. Considerando os votos válidos, que exclui brancos, nulos e indecisos, Tarcísio tem 55% e Haddad, 45%.

Estratégia de Tarcísio

Sem espaço para erro. Na campanha de Tarcísio, a ordem é administrar a vantagem sobre Haddad —de nove pontos percentuais, segundo a pesquisa Datafolha— e não cometer erros na reta final.

Foco na capital. Segundo integrantes da campanha, o candidato deverá concentrar seus compromissos na capital e na região metropolitana do estado nesta última semana para tentar virar o jogo contra Haddad.

Embora o petista tenha ganhado na cidade de São Paulo e tido melhor desempenho que Tarcísio em municípios que fazem parte da região metropolitana do estado, o entendimento de aliados é que é possível reverter esse cenário porque, em algumas dessas cidades, a diferença de votação entre os dois foi pequena no primeiro turno e ainda há terreno para ser explorado.

Desde o início do segundo turno, o candidato do Republicanos visitou apenas duas cidades do interior: Sorocaba, no dia 6, para um encontro com prefeitos da região, e Aparecida, no feriado do dia 12, quando foi comemorado o Dia de Nossa Senhora Aparecida.

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O presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, e Tarcísio Freitas, que concorre ao governo de São Paulo, durante missa na Basílica de Aparecida
Imagem: 12.out.2022 - Felipe Pereira/UOL

A avaliação é de que o interior já está "calçado" —Tarcísio ganhou em 500 cidades do estado e conta com o apoio da maioria dos prefeitos. Na quinta-feira (20), ele e o presidente Jair Bolsonaro (PL) reuniram centenas de lideranças locais para um evento na capital.

A leitura da campanha é que a maioria dos votos do governador de São Paulo Rodrigo Garcia (PSDB) migre para Tarcísio —segundo o Datafolha, entre os eleitores do tucano, 46% pretendem votar no candidato bolsonarista e 35%, em Haddad. Rodrigo também anunciou apoio a Tarcísio logo no início do segundo turno.

Menos debate mais rua. Tarcísio cancelou sua participação em uma série de debates e entrevistas até os últimos dias de campanha. Neste segundo turno, o bolsonarista participou do primeiro debate, promovido pela TV Bandeirantes no dia 10, e irá ao da TV Globo, no dia 27.

Na avaliação do entorno do candidato, o público que acompanha o debate é, em geral, mais interessado em política e, portanto, com maior probabilidade de já ter um candidato definido. Ou seja, é mais difícil virar o voto por meio desses eventos.

É 10, não 22. Conforme mostrou o UOL Notícias, Tarcísio também deu início a uma estratégia para que seu número nas urnas seja mais conhecido, e o trabalho será reforçado nesta semana.

Segundo o TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral), 521 mil eleitores digitaram, no primeiro turno, o número do partido de Bolsonaro —22— para o governo estadual. E tiveram o voto anulado. Por estar em um partido diferente, Tarcísio disputa a cadeira no Palácio dos Bandeirantes com o número 10.

Uma operação de esclarecimento está sendo feita pela equipe de Tarcísio para que o eleitorado saiba que o presidente e ele têm números diferentes. Nos discursos, o candidato ao governo e aliados colocam essa informação em destaque.

A equipe do ex-ministro bolsonarista prevê ainda adesivaços e a distribuição de mais flyers e panfletos que devem reforçar a diferença —além de posts e propagandas nas redes sociais.

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Campanha irá reforçar a associação do número 10 com Tarcísio de Freitas
Imagem: Reprodução/YouTube/Band Jornalismo

De olho nos indecisos. A campanha também está de olho nos indecisos e naqueles que declararam que ainda podem mudar seu voto.

Na quinta, em evento ao lado de Bolsonaro e Rodrigo, Tarcísio discursou a prefeitos e vereadores e disse acreditar no "poder de mobilização" deles para organizar eventos, distribuir materiais de campanha e convencer os indecisos e aqueles que votaram em branco no primeiro turno.

Estratégia de Haddad

Pontos fracos. Do lado do PT, a munição contra Tarcísio será a de explorar o fato de o adversário ser do Rio de Janeiro e ter se ausentado dos debates do SBT e da Record, e do programa Roda Viva, da TV Cultura. Haddad tem insistido que o candidato do Republicanos não apresentou propostas para o estado e que privou o eleitor de conhecê-lo melhor.

Nos próximos discursos, e em especial no debate da TV Globo na quinta-feira (27), ele pretende focar na gafe cometida por Tarcísio sobre seu local de votação. Outro tema na manga e que já vem sendo mencionado por Haddad é a reportagem do colunista do UOL Thiago Herdy. O trabalho aponta que o sobrinho de Tarcísio vivia no imóvel usado para justificar sua transferência eleitoral para São Paulo.

Além disso, Haddad também manterá as associações de Tarcísio a Bolsonaro, seu padrinho político, e levantará escândalos de corrupção do governo federal. Aliados do petista insistem que ele seja mais enfático ao falar do orçamento secreto. Reportagem do UOL Notícias indica que a prática abasteceu o Ministério da Infraestrutura, que era comandado por Tarcísio, com R$ 1 bilhão.

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Haddad, Lula e Alckmin em caminhada em São Mateus, na zona leste de São Paulo, durante campanha no segundo turno
Imagem: 17.out.2022 - Lucas Borges Teixeira/UOL

Voto de confiança. O entendimento é de que a campanha precisa investir em locais onde Haddad apresentou bom desempenho no primeiro turno. Por isso, o foco do petista será na região metropolitana de São Paulo, onde ele já vem realizando seus últimos atos de campanha.

Na quarta-feira (19), durante carreata em Itaquaquecetuba, Haddad agradeceu diversas vezes à população pela votação que recebeu no primeiro turno — 43,74% votos válidos, enquanto Tarcísio teve 31,21% na cidade. A ideia da campanha é a de fidelizar o eleitor que deu um voto de confiança no PT e atrair os indecisos.

Para Haddad, o último Datafolha aponta a possibilidade de virada contra Tarcísio —entre os eleitores que já definiram seus votos, 13% declararam que ainda podem mudar de ideia até o dia 30 de outubro. O petista também observa ter ficado numericamente à frente do adversário na pesquisa espontânea, na qual os nomes dos candidatos não são oferecidos aos eleitores. Neste caso, Haddad apresentou 34% contra 33% de Tarcísio.

Lula lá. A campanha prevê uma viagem ao interior junto do ex-presidente. O destino é Ribeirão Preto, onde os dois petistas ficaram em segundo lugar. Haddad teve 32,18% dos votos e Lula, 40,89%. Tarcísio e Bolsonaro tiveram 48,52% e 47,71%, respectivamente.

Desde o primeiro turno, a região tem preocupado a campanha. A cidade é a sétima mais populosa do estado e sua região metropolitana, formada por 34 municípios, soma 1,75 milhão de habitantes. Em setembro, o petista cancelou um compromisso em Ribeirão alegando questões de segurança.

O intuito desta viagem é reforçar a unidade da chapa petista e endossar o apoio de Geraldo Alckmin (PSB). O vice é visto como a esperança do PT para atrair eleitores que não votam no partido, mas também não se identificam com o bolsonarismo.

Onipresente. Internamente também foi determinado que os principais aliados fizessem agendas separadas para garantir que a campanha "esteja em todo o lugar".

Para isso, o grupo escalado conta com o deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL), a vice Lúcia França (PSB), a mulher de Haddad, Ana Estela, e o casal Geraldo e Lu Alckmin.