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Sequestrador teve encontro com Sarkozy em 2009 no palácio presidencial

Coulibaly aparece no jornal "Le Parisien" no dia em que visitaria Sarzoky, em 2009 - Reprodução
Coulibaly aparece no jornal "Le Parisien" no dia em que visitaria Sarzoky, em 2009 Imagem: Reprodução

Claudio Luís de Souza

Do UOL, em São Paulo (SP)

09/01/2015 17h40Atualizada em 09/01/2015 20h56

Amedy Coulibaly, 32, o suspeito do ataque a um mercado judaico em Paris que foi morto em ação policial nesta sexta-feira (9), foi convidado em 2009 para um encontro pessoal com o então presidente da França, Nicolas Sarkozy.

O registro está no jornal "Le Parisien", que publicou uma entrevista com Amedy (então com "i") e uma foto dele, então com 27 anos, em Grigny, subúrbio de Paris onde vivia.

A visita se daria no Elysée, o palácio presidencial francês, na tarde de 15 de julho daquele ano. Amedy e mais nove pessoas encontrariam Sarkozy num evento destinado a incentivar a contratação de jovens por empresas privadas.

Na ocasião, Amedy trabalhava numa fábrica da Coca-Cola em Grigny, num projeto de profissionalização usado na ressocialização de ex-presidiários --ele havia acabado de sair da cadeia, onde esteve por seis anos após ser condenado por crimes comuns (sem motivação ideológica/religiosa). Seu contrato com a multinacional estava prestes a acabar.

"Nós [de Grigny] não temos o hábito de ir ao Elysée", disse Amedi ao "Le Parisien", quando perguntado sobre sua expectativa para o encontro. "Quem sabe o Sarkozy possa me ajudar a arrumar um novo emprego", emendou. Ele contou ao jornal que sua numerosa família --ele tinha nove irmãs-- pediu fotos e autógrafos como lembrança do encontro.

Mas Sarkozy, um presidente de centro-direita que não conseguiu se reeleger em 2012, não era exatamente um ídolo de Amedy.

"Aqui [em Grigny] o presidente não é muito popular entre os jovens, mas isso acontece com todos os políticos", comentou. A região é governada atualmente pelo Partido Comunista Francês.

Depois do encontro com o presidente e do término de seu contrato de profissionalização, Amedy ainda fez alguns trabalhos eventuais na mesma fábrica da Coca-Cola --mas isso durou pouco: em meados de 2010, o serviço de inteligência antiterrorista da França (SDAT) já o considerava envolvido com radicais islâmicos e o vigiava constantemente.

A investigação resultou em condenação e uma nova temporada na cadeia, esta de quatro anos.

Era ou não era?
Curiosamente, apesar de os dados biográficos serem os mesmos (origem, família, histórico de prisões) o "Le Parisien" hesita em cravar que o Amedi Coulibaly da reportagem de 2009 é o Amedy Coulibaly que foi morto pela polícia em Paris nesta sexta após fazer reféns num mercado.

Uma nota da redação publicada no site do jornal cita ex-auxiliares de Sarkozy, os quais dizem ser impossível checar a identidade de alguém que tenha visitado o então presidente num grupo grande de pessoas.

A reportagem de 2009 falava em dez visitantes, Amedy entre eles; mas as fontes palacianas afirmam que, naquele dia, cerca de 500 pessoas estiveram na recepção no Elysée, vindas de várias cidades além de Grigny. E que, caso a já longa carreira criminal de Amedy fosse de conhecimento do cerimonial, Sarkozy jamais o teria recebido: "Foi a Coca-cola que o mandou, com certeza."