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Rússia x Ucrânia: 'Façam coquetéis molotov', diz ministro ucraniano a civis

Do UOL, em São Paulo*

24/02/2022 23h40Atualizada em 25/02/2022 11h29

Autoridades da Ucrânia denunciaram ataques contra civis no segundo dia da invasão feita pela Rússia, que já deixou mais de 100 mortos e quase 100 mil deslocados. Com as novas ofensivas, o ministério da Defesa pediu aos civis da região que peguem em armas.

Pedimos aos cidadãos que nos informem sobre as movimentações inimigas, que preparem coquetéis molotov e neutralizem o ocupante.
Ministério da Defesa da Ucrânia, em nota

As tropas russas entraram em Kiev, capital da Ucrânia, por volta das 13h50 (horário local), confirmou o prefeito Vitaliy Klitschko.

Ontem (24), a Rússia invadiu o território ucraniano e atacou instalações militares por todo o país. O ataque aconteceu por terra, mar e ar, relataram veículos de imprensa internacionais e o governo ucraniano. Mais de uma centena de pessoas morreram, inclusive crianças.

As sirenes de emergência voltaram a soar na manhã de hoje em Kiev, capital da Ucrânia, em meio a novos ataques da Rússia.

Em um comunicado divulgado hoje, o Serviço de Guarda de Fronteira da Ucrânia informou que, devido à imposição da lei marcial, a saída de cidadãos do sexo masculino com idades entre 18 e 60 anos está temporariamente restrita. Segundo informações da CNN Internacional, 18 mil armas foram distribuídas a reservistas na região de Kiev.

"Em breve vamos receber suporte adicional de armas modernas e outros recursos de nossos parceiros", disse o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksiy Reznikov.

A série de ataques da Rússia nos últimos dias provocaram um aumento das sanções econômicas ocidentais, consideradas insuficientes pelo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que decretou uma mobilização geral para frear as tropas russas e lamentou que o país está "sozinho" diante do ataque. Em pronunciamento feito ontem, o secretário-geral da Otan, Jen Stoltenberg, disse que a organização não tem planos de mobilizar suas tropas em território ucraniano.

O centro de Kiev registrou duas fortes explosões durante a madrugada, de acordo com correspondentes da AFP. "Disparos horríveis de mísseis russos sobre Kiev", denunciou no Twitter o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba.

O exército da Ucrânia confirmou que "mísseis" russos foram lançados contra a capital e que dois deles foram interceptados em pleno voo. O prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, informou que três pessoas ficaram feridas, uma delas em estado crítico, em um bairro residencial.

Explosões e tiros foram registrados ao norte da capital ucraniana. Os moradores do bairro de Obolonsky correram para buscar proteção quando ouviram as explosões.

De acordo com fontes militares, Kiev é o principal alvo do presidente russo Vladimir Putin para "decapitar o governo" ucraniano e instalar um Executivo favorável a Moscou.

Ontem, as tropas russas entraram pelo norte, sul e leste da Ucrânia, em uma ofensiva que, segundo Zelensky, matou 137 civis e deixou mais de 300 feridos.

"Eles dizem que os civis não são um alvo. Mas esta é outra mentira deles. Na realidade, eles não fazem distinção entre as áreas em que operam", denunciou Zelensky em um vídeo divulgado nas redes sociais.

"Esta noite começaram a bombardear bairros civis. Isto nos recorda (a ofensiva nazista de) 1941", completou.

"Nossas forças estão fazendo todo o possível" para defender a Ucrânia, destacou.

"A Rússia terá que falar conosco, mais cedo ou mais tarde. Conversar sobre como acabar com os combates e parar esta invasão. Quanto mais cedo a conversa começar, menores serão as perdas, inclusive para a Rússia", disse.

As tropas ucranianas informaram que enfrentam unidades de blindados russos nas localidades de Dymer e Ivankiv, situadas a 45 e 80 quilômetros ao norte de Kiev, respectivamente.

O avanço das "forças do inimigo foi detido às margens do rio Teterov. A ponte sobre o rio foi destruída", afirma a mensagem do Estado-Maior.

Um posto de fronteira ucraniano na região de Zaporizhzhya, no Sul do país, foi atingido por um ataque de mísseis, disse ao The Guardian o serviço de guarda de fronteira da Ucrânia. O ataque teria ocorrido às 4h25, horário local. De acordo com as forças armadas da Ucrânia, guardas de fronteira foram mortos e feridos no ataque.

Segundo a Sky News, as forças ucranianas derrubaram um avião russo em Kiev. A aeronave atingiu um prédio de nove andares, o que provocou um incêndio no edifício. Ainda não se sabe se o avião era tripulado.

Ontem, o exército russo assumiu o controle da área da central de Chernobyl, ainda contaminada pela radioatividade do acidente nuclear de 1986, e da base aérea de Hostomel, um ponto estratégico próximo de Kiev.

As forças de Putin dispararam mais de 160 mísseis contra alvos militares ucranianos. Há ao menos uma criança entre os mortos. Na tentativa de fuga, milhares de moradores começaram a deixar a capital Kiev ainda ontem, formando longas filas de carros nas estradas, em postos de gasolina. Filas se formaram também em supermercados e caixas eletrônicos.

Até o início desta madrugada, a Rússia havia avançado no território ucraniano em três eixos: ao sul, a partir da Crimeia, até a cidade de Kherson, através do rio Dnieper; ao norte a partir de Belarus até Kiev, ao longo de duas estradas a nordeste e noroeste da capital ucraniana; e ao leste da cidade russa de Belgorod até a grande cidade industrial de Kharkov. As estimativas são do Pentágono.

A Rússia ignorou os apelos feitos pela comunidade internacional e resolveu atacar a Ucrânia, conforme anúncio feito por Putin, na noite de anteontem, depois de quatro meses de tensão com o Ocidente.

Putin, que exige que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) feche as portas para uma possível adesão da Ucrânia, afirmou que não busca a "ocupação" da ex-república soviética, e sim uma "desmilitarização e desnazificação" do país, assim como defender os rebeldes das regiões separatistas pró-Rússia, cuja independência ele reconheceu na segunda-feira.

O presidente dos EUA, Joe Biden, reagiu à operação militar russa e anunciou ao menos cinco novas medidas contra bancos e elites do país eurasiático.

Segundo o mandatário da Casa Branca, haverá bloqueios aos ativos de quatro instituições financeiras russas, que detêm, juntas, cerca de US$ 1 trilhão em ativos. As sanções não envolvem a retirada do país eurasiático do sistema bancário Swift.

Os 27 países da União Europeia, além de Reino Unidos, Japão, Nova Zelândia, entre outros, também anunciaram sanções contra a Rússia.

Mapa Ucrania - Arte/ UOL - Arte/ UOL
Imagem: Arte/ UOL

Brasileiros pedem ajuda

Alguns jogadores brasileiros que atuam em clubes ucranianos gravaram vídeo e pediram ajuda ao governo para serem evacuados após a invasão russa. O vídeo foi gravado enquanto eles estavam confinados em um hotel em Kiev com suas famílias.

"Estamos todos reunidos aqui, jogadores do Dínamo e do Shakhtar, com nossas famílias. A gente está hospedado em um hotel devido a toda a situação. A gente está aqui pedindo ajuda de vocês na forma desse vídeo", explica no vídeo postado no Instagram o zagueiro Marlon, de 26 anos, um dos 12 jogadores brasileiros do Shakhtar Donetsk, clube que participa regularmente na Liga dos Campeões.

"A gente tá aqui pedindo ajuda pra vocês através desse vídeo devido à falta de combustível que existe na cidade, fronteira fechada, espaço aéreo fechado, não tem como a gente sair. A gente pede muito apoio ao governo do Brasil, que ele possa nos ajudar", acrescenta.

Inicialmente com sede em Donetsk, na região do Donbas, epicentro do conflito, o Shakhtar, 13 vezes campeão nacional nos últimos 20 anos, mudou-se para Kiev em 2014, logo no início dos confrontos entre as forças ucranianas e os separatistas pró-russos.