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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Por que nenhum país enviou militares para ajudar a Ucrânia contra a Rússia

25.fev.2022 - Destroços de aeronave não identificada que colidiu com uma casa em uma área residencial em Kiev - Umit Bektas/Reuters
25.fev.2022 - Destroços de aeronave não identificada que colidiu com uma casa em uma área residencial em Kiev Imagem: Umit Bektas/Reuters

Ruben Berta

Do UOL, no Rio

25/02/2022 18h51

O apoio direto de países do Ocidente à Ucrânia, por meio do envio de tropas ao país na guerra contra a Rússia, é considerado improvável, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.

A Ucrânia deve se manter sozinha na linha de frente basicamente por dois motivos —o país não é um dos 30 membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e um eventual envio de militares contra uma potência nuclear como a Rússia poderia levar a um confronto de proporções incalculáveis.

O artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte, que rege a Otan, prevê que um ataque armado contra um dos membros é considerado um ataque a todos, o que abre caminho para uma defesa coletiva.

Essa não é contudo a condição da Ucrânia. O país é considerado um parceiro da Otan, o que sinaliza que pode ingressar na aliança num momento futuro, mas não garante um apoio coletivo.

"A principal razão pela qual a Ucrânia sofre com a falta de apoio militar se deve ao fato de o país não integrar a Otan. Normalmente, os sistemas de alianças funcionam a partir da lógica de que um ataque contra um país do grupo significa um ataque contra todos os demais estados-membros, o que não é o caso da Ucrânia", afirma Leandro Gavião, doutor em História pela Uerj (Universidade do Estado do Rio) e professor da Universidade Católica de Petrópolis (RJ).

Um possível ingresso da Ucrânia na Otan é inclusive um dos panos de fundo para a invasão russa.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, vem tentando sem sucesso o compromisso de que o país vizinho não ingressará na organização. Pressionado, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já sinalizou ontem sobre a possibilidade de desistência.

Mapa Ucrania - Arte/ UOL - Arte/ UOL
Imagem: Arte/ UOL

Também nesta sexta-feira (25), Zelensky chegou a afirmar que o país se defende sozinho contra a Rússia. E disse ainda que o "país mais poderoso do mundo olhou de longe", no que seria uma referência aos Estados Unidos.

Mais tarde, porém, o presidente ucraniano disse, por meio das redes sociais, que chegou a um novo acordo com os EUA sobre mais sanções à Rússia e uma coalizão antiguerra.

Apoio bélico

Os Estados Unidos e outros países do Ocidente têm apostado em sanções econômicas como forma de pressionar a Rússia. Houve apenas iniciativas isoladas de apoio bélico.

Na última quarta-feira (23), o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou o envio de armas para a Ucrânia. Ontem foi a vez de o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmar que fornecerá equipamentos de defesa ao país do Leste Europeu.

Também nesta sexta, o ministro da Defesa da Polônia, Mariusz Blaszczak, anunciou pelas redes sociais o envio de um comboio com munição.

O apoio militar, porém, não deve ir muito além disso, complementa o professor Leandro Gavião.

É difícil imaginar um cenário no qual as grandes potências ocidentais intervenham diretamente na guerra. Uma hipotética participação militar dos EUA, por exemplo, significaria um confronto direto entre dois Estados dotados de armamentos nucleares. As consequências de um conflito dessa magnitude seriam drásticas e provocariam uma completa redefinição da ordem mundial."
Leandro Gavião, professor da Universidade Católica de Petrópolis

O fato de a Ucrânia não estar na Otan e o temor do Ocidente de um confronto de proporções globais também pesaram na decisão de Putin invadir o país vizinho, na opinião de Williams Gonçalves, professor de Relações Institucionais da Uerj.

"O Putin é um estrategista, preparado, independente de ser um autocrata, de a Rússia ser uma democracia ou não. Ele é um estadista experimentado. E o que ele fez foi pagar para ver. Ele apostou que os EUA e a Otan não ousariam um ataque que, evidentemente, em muito pouco tempo, se desdobraria numa guerra mundial."

O professor de Relações Internacionais da USP Kai Enno Lehmann diz não acreditar que haja vontade política dos países ocidentais num apoio militar à Ucrânia.

"Estariam entrando numa guerra com uma das forças armadas mais poderosas do mundo. E assumiriam um risco enorme de perda de vidas, o que não é um custo que governos ocidentais estão dispostos a assumir. Os custos financeiros, econômicos e políticos seriam muito altos, sem uma garantia de apoio da opinião pública no longo prazo. É uma guerra que não acabaria em cinco dias, em uma semana."

Ronaldo Carmona, professor de Geopolítica da Escola Superior de Guerra e membro do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), reforça que não vê possibilidade de solidariedade militar da Otan à Ucrânia porque isso implicaria em um confronto direto entre potências nucleares.

"Seria difícil imaginar um confronto militar direto das duas grandes superpotências, entre o bloco da Otan e a Rússia. Quando falamos de Otan, são pelo menos três potências nuclearmente armadas: França, Reino Unido e Estados Unidos."

"Existe uma máxima nas relações internacionais de que a arma nuclear é um artefato para não ser usado. É o que se chamou na Guerra Fria de destruição mútua assegurada. Então qualquer confronto direto desaguaria no pior dos cenários, numa destruição completa de ambos, no limite da própria humanidade", completa Carmona.

Na quinta (24), o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou em entrevista à imprensa que o bloco não vai enviar tropas à Ucrânia. Segundo o diplomata, militares serão enviados apenas à região leste dos territórios da Otan, mas a Rússia vai pagar um "alto preço político e econômico".

A fronteira leste dos estados-membros da Otan é formada pela Polônia, Eslováquia, Hungria e Romênia —todos esses países fazem fronteira com a Ucrânia.