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Guerra da Rússia-Ucrânia

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'À espera da morte', diz ucraniano no Brasil sobre pais em área de guerra

Há dez anos no país e pai de dois meninos brasileiros, ucraniano Anton Uzhyk tenta sensibilizar o Itamaraty a conceder passaporte aos seus pais, Serhii e Iryna, com os netos na foto - Arquivo pessoal
Há dez anos no país e pai de dois meninos brasileiros, ucraniano Anton Uzhyk tenta sensibilizar o Itamaraty a conceder passaporte aos seus pais, Serhii e Iryna, com os netos na foto Imagem: Arquivo pessoal

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

28/02/2022 04h00Atualizada em 28/02/2022 11h14

De Atibaia, no interior de São Paulo, onde mora, o ucraniano Anton Uzhyk, 34, diz fazer contatos diários por telefone com o governo federal, em Brasília, para tentar sensibilizar o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) a fornecer cidadania brasileira aos seus pais.

Sua mãe e seu pai estão trancados em uma casa em Kharkiv, segunda maior cidade do país e ocupada por soldados russos —autoridades locais informam que dezenas de invasores foram capturados.

Aos 56 anos, Serhii Uzhyk, pai de Anton, está proibido de deixar o território ucraniano nos próximos 90 dias, de acordo com a lei marcial, que altera as regras de funcionamento de um país, sob vigência de leis militares. A medida, em vigor desde quinta-feira (24), primeiro dia da invasão, impede a fuga de homens com idade entre 18 e 60 anos, que podem ser obrigados a se alistar para o conflito.

Anton, profissional de tecnologia da informação, diz em entrevista ao UOL também ter feito apelos nos últimos dias à Embaixada do Brasil na Ucrânia, responsável pelo contato com os brasileiros em fuga do país europeu.

Como resposta ao pedido de cidadania brasileira ao pai e à mãe, Iryna Uzhyk, 60, Anton diz ouvir que o órgão consular está priorizando a saída dos brasileiros ainda na Ucrânia. Segundo ele, o pai tem sequelas causadas por uma fratura em uma das mãos e sofre com problemas de visão em um dos olhos, o que o impediria de ir para a guerra.

Ele não serve mais para o exército. Já não é um guerreiro que vá fazer a diferença. Está preso dentro do próprio país, à espera da morte. Meus pais estão trancados em casa, correndo o risco de serem atingidos por uma bomba a qualquer momento. Meus pais são fugitivos de guerra e poderiam sair da Ucrânia como brasileiros pela minha relação com o país.
Anton Uzhyk, filho de Serhii

Há dez anos no Brasil, Anton é filho único. Casado com a educadora física Luciana Cosin Uzhyk, 37, e pai de dois meninos brasileiros de 8 e 5 anos, diz que já planejava a mudança da família nos últimos meses. Os planos foram interrompidos pela guerra. "Construí até uma casa no terreno onde eu moro para que eles pudessem morar comigo e com os netos".

No último sábado (26), diz Anton, os pais decidiram sair de casa para comprar mantimentos. Ficaram quatro horas na fila do mercado. "Eles ainda têm comida e água, mas estão assustados porque escutam tiros de metralhadora e explosões todos os dias", relata.

A pior parte é não saber o que fazer, porque não há respostas concretas. Só conseguimos falar com eles domingo à tarde, e a ligação estava ruim, porque há oscilação de energia e de sinal da internet. Isso também é preocupação, porque a situação pode piorar e podemos perder o contato.
Luciana Cosin Uzhyk, esposa de Anton

Procurados, o Itamaraty e a Embaixada do Brasil na Ucrânia não se posicionaram sobre o caso até o fechamento desta reportagem.

Sem chance de sair de Kiev, diz Embaixada

A Embaixada do Brasil na Ucrânia disse ontem, no quarto dia de guerra, que não há possibilidade de saída de Kiev em meio aos ataques aéreos. A entidade consular já havia alertado aos brasileiros sobre a urgência de proteção para ataques aéreos na capital ucraniana.

A Embaixada também repassou aos brasileiros um mapa do país indicando locais com estações de trem em funcionamento e atualizou a situação de três cidades, incluindo Kiev e Kharkiv.

  • Kiev - Não se deve sair de casa sob nenhuma hipótese pelo menos até as 8h de hoje (3h pelo horário de Brasília), enquanto permanece o toque de recolher. Até então não há possibilidade de embarque em trens ou qualquer outro meio de transporte.
  • Kharkiv - Quem estiver em Kharkiv deve estar especialmente atento à situação de segurança local antes de deslocar-se à estação de trem. Não há informação clara sobre quando os trens partirão.
  • Lviv - Recomenda-se em particular os trens diretos para Varsóvia ou Chelm (já dentro do território polonês), a Chernivtsi (possibilidade de entrada na Moldova), ou a Chop (onde há possibilidade de troca de trem com destino final na Hungria.
  • Outras regiões - Recomendamos a todos que tenham condições de segurança que procurem deixar a Ucrânia por meio de trens, em direção oeste. Ainda que com alguns atrasos, os trens têm funcionado de forma bastante frequente e segura na maior parte do país. Os horários muitas vezes só são confirmados de última hora, assim aconselhamos que se dirijam às estações centrais de trem quando não houver toque de recolher e esperam os anúncios lá.

Socorro a brasileiros

O Itamaraty avalia enviar dois aviões da FAB para resgate de brasileiros. Ainda não há datas ou orientações a respeito da operação.

O órgão reitera a importância do registro junto à embaixada por meio do link: https://forms.gle/GjfKD3Mrbs1y9rAG7.

Brasileiros na Ucrânia ou familiares, seja no Brasil ou em outros países, podem obter orientações por diversos meios. Nas redes sociais, as atualizações são disponibilizadas pelo Twitter (twitter.com/brasilukraine), Telegram (t.me/s/embaixadabrasilkiev) e Facebook (facebook.com/Brasil.Ukraine) da Embaixada em Kiev.

O plantão consular internacional está sendo realizado pelo número +380 50 384 5484. Também há plantão realizado no Brasil, que pode ser contatado no número +55 61 98260-0610.