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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


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Ucrânia interrompe saída de civis e acusa Rússia de não cumprir cessar-fogo

Thaís Augusto

Do UOL, em São Paulo*

05/03/2022 05h15Atualizada em 05/03/2022 16h23

Após a Rússia anunciar um cessar-fogo parcial de cinco horas nas cidades de Mariupol e Volnovakha, adiou a retirada de civis por meio de corredores humanitários alegando questões de segurança. Autoridades das duas cidades denunciaram que os bombardeios continuaram e, por isso, passaram a pedir que os moradores voltassem aos abrigos. A Rússia, no entanto, diz que cumpriu as condições e que nacionalistas ucranianos impedem a retirada de civis, o que autoridades ucranianas negam.

Este seria o primeiro cessar-fogo desde o início do conflito, em 24 de fevereiro. Hoje o conflito completa dez dias.

Após o fracasso do acordo, o porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, anunciou, a retomada da ofensiva às duas cidades, Segundo ele, a decisão foi tomada "devido à falta de vontade do lado ucraniano de influenciar os nacionalistas ou prolongar o cessar-fogo".

Corredor humanitário

Os corredores humanitários são áreas consideradas seguras, pelas quais civis podem escapar. A Rússia dizia que os bombardeios seriam interrompidos para que civis pudessem deixar as cidades.

A Ucrânia diz que o plano era evacuar 200 mil pessoas de Mariupol e 15 mil pessoas de Volnovakha no total. Apenas 200 moradores de Volnovakha e aldeias vizinhas foram evacuados hoje, informou o chefe da Administração Militar Regional de Donetsk, Pavlo Kirilenko. "Estas são as pessoas que conseguiram chegar ao assentamento por conta própria no dia anterior", explicou Kirilenko.

Há dois dias, os líderes de nível central estão negociando com a Rússia para que seja possível evacuar com segurança os moradores de Mariupol. Mas, infelizmente, quando estávamos prontos, começou o bombardeio ao longo do corredor humanitário.
Comunicado da Prefeitura de Mariupol

Após uma madrugada de ataques a Mariupol, a operação para retirada de civis estava prevista para começar às 11h (6h da manhã no horário de Brasília), mas às 10h55 ainda não havia nenhuma confirmação. Autoridades ucranianas relataram combates ao longo da rota definida para a retirada de civis, na região de Zaporozhye.

Em Volnovakha, houve bombardeios com armas pesadas, segundo a ministra para Territórios Ocupados, Iryna Vereshchuk. "Apelamos à Rússia que acabe com o bombardeio e devolva o cessar-fogo para que crianças, mulheres e idosos possam deixar os assentamentos."

A importância de Mariupol

Mariupol é estratégica para Moscou. Situada a 55 km da fronteira russa e com 450 mil habitantes, ela é, no momento, a maior cidade sob controle de Kiev na região de Donbass, que inclui as áreas de Donetsk e Lugansk, parte delas já controladas por rebeldes pró-Rússia.

O controle de Mariupol permitiria uma continuidade territorial entre a península de Crimeia e as cidades separatistas Donetsk e Lugansk, na região de Donbass.

Rússia acusa nacionalistas da Ucrânia de impedir a saída de civis

Em vídeo publicado hoje, Mikhail Mizintsev, chefe do centro de comando de Defesa Nacional, afirmou que a Rússia cumpriu todas as condições estabelecidades para o cessar-fogo e acusou nacionalistas ucranianos de impedirem a saída de civis.

"Corredores humanitários foram abertos nas áreas de Volnovakha e Mariupol, mas os batalhões nacionais estão bloqueando categoricamente as tentativas de civis de se aliar à Federação Russa. A situação é a mesma em Kharkiv e Sumy, bem como em vários outros assentamentos", afirmou Mizintsev.

Segundo ele, as Forças Armadas da Rússia foram bombardeadas em Mariupol às 10h08 e disparos contínuos contra militares em Volnovakh, das 10h11 às 10h21.

O governo da Ucrânia desmentiu a acusação de que Kiev cria obstáculos para a saída de moradores de áreas de risco. "São desinformação para justificar as ações criminosas do exército russo", afirma o governo. "O lado russo ignora os apelos das organizações humanitárias internacionais".

Situação em Mariupol

A cidade de Mariupol está sem energia elétrica, alimentos, água, gás e transportes. Um funcionário da ONG Médicos Sem Fronteiras, refugiado em Mariupol com sua família, relatou que está coletando "neve e água da chuva" para substituir a água. Os locais de distribuição registram longas filas.

Queríamos conseguir também o pão 'social' [distribuído pelas autoridades locais], mas o horário e os pontos de distribuição não estavam claros. Segundo a população, muitos armazéns foram destruídos pelos mísseis e o que sobrou foi levado pelas pessoas mais necessitadas.
Funcionário da ONG Médicos Sem Fronteiras relata dificuldades em Mariupol

Há relatos de que a Rússia está destruindo infraestrutura civil e bairros residenciais. Ontem, o prefeito de Mariupol, Vadim Boichenko, afirmou que a cidade está submetida a um bloqueio por militares da Rússia.

O Exército de Moscou e separatistas anunciaram que a cidade está cercada. A informação foi confirmada hoje por relatório do Ministério da Defesa do Reino Unido.

Prefeito de Mariupol pediu corredor humanitário

Um pedido para a criação de corredores hyumanitários foi feito ontem pelo prefeito de Mariupol, Vadym Boichenko, após mais um dia de "ataques implacáveis" das tropas russas. Após o anúncio de cessar-fogo da Rússia, ele afirmou aos moradores que não havia escolha a não ser sair.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Corredor humanitário foi negociado em 2ª reunião

Na quinta-feira (3), autoridades da Rússia e Ucrânia se encontraram pela segunda vez e concordaram em montar um corredor de fuga para os civis. A primeira reunião terminou sem acordo.

A estratégia foi usada em conflitos recentes, mas não é consenso. Na Síria, em 2016, organizações internacionais, a ONU (Organização das Nações Unidas) e os Estados Unidos alertaram que a retirada da população de determinadas regiões poderia deixá-las mais vulneráveis.

No caso da Ucrânia, deixar as áreas vazias pode facilitar o deslocamento de tropas e a ocupação militar russas.

*Com informações da AFP e da Ansa