Rússia vaza planos de negociação para gerar crise, diz Ucrânia
A quarta semana da invasão russa ao território ucraniano começou com Rússia e Ucrânia trocando críticas a respeito das negociações para o fim do conflito. A divulgação de um suposto plano de paz gerou irritações em autoridades ucranianas.
"Os russos estão fazendo tentativas informativas ativas para desestabilizar a opinião pública em nosso país. Provocar conflitos internos", disse hoje Mykhailo Podolyak, negociador ucraniano e conselheiro presidencial. A Rússia disse que tem colocado uma energia colossal nas negociações. A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) disse que pode interferir no conflito. Para a França, os russos "fingem" negociar com a Ucrânia.
Hoje, a guerra entrou em seu 22º dia com novos ataques à capital da Ucrânia, Kiev, e com o governo ainda avaliando a situação na cidade portuária de Mariupol, que teve bombardeado um teatro que abrigava civis com a palavra "criança" escrita do lado de fora; detalhes sobre o ocorrido ainda não estão claros e autoridades ucranianas falam em sobreviventes. Na capital, segundo informações iniciais, ao menos uma pessoa morreu em ataque a dois prédios residenciais nesta quinta (17).
Às 9h, horário local (4h, em Brasília), foi feito um minuto de silêncio em cidades ucranianas em memória dos que "deram a vida por causa do terror desencadeado pelos ocupantes". "Memória eterna! Não vamos esquecer! Não vamos perdoar!", escreveu o serviço de emergências da Ucrânia. Hoje, o governo ucraniano conseguiu liberar corredores humanitários para evacuação. Cerca de 3,2 milhões de pessoas já deixaram a Ucrânia, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).
Negociações
Segundo o jornal Financial Times, Ucrânia e Rússia teriam chegado a um plano com 15 pontos, que envolveriam questões como cessar-fogo, saída do exército russo e neutralidade ucraniana, entre outros. Ontem, Podolyak já havia dito que eles representavam o lado russo, "nada mais". "A única coisa que confirmamos nesta fase é um cessar-fogo, a retirada das tropas russas e garantias de segurança de vários países", disse.
Nesta quinta, Podolyak ligou a divulgação do plano a uma tentativa de desestabilizar o governo ucraniano. "Daí os constantes 'vazamentos' para a mídia estrangeira de vários planos, ideias, incluindo 'posições de negociação' russas", comentou. "Hoje, sua tarefa básica é óbvia: induzindo medo —entre a população civil—, pânico, bem como por meio de uma campanha massiva de falsa propaganda para provocar uma crise administrativa interna."
O governo russo, hoje, disse que está colocando uma energia colossal em negociações sobre um possível acordo de paz com a Ucrânia, que poderia rapidamente encerrar a "operação militar" russa naquele país.
A Rússia também disse rejeitar a decisão da CIJ (Corte Internacional de Justiça), o mais importante tribunal da ONU, que ordenou o fim, imediato, às ações na Ucrânia. "Não podemos levar esta decisão em consideração", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, ressaltando que ambos os lados, Rússia e Ucrânia, precisam estar de acordo para que esta decisão seja aplicada.
Atuação da Otan
A Otan, uma aliança militar ocidental, está determinada a impedir que a guerra na Ucrânia se intensifique ainda mais, disse o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg. "A Otan tem a responsabilidade de evitar que este conflito se agrave ainda mais. Isso seria ainda mais perigoso e causaria mais sofrimento, mortes e destruição", disse Stoltenberg.
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia, porém, fez um alerta de que que enviar à Ucrânia sistemas de defesa aérea seria um fator desestabilizador. "Definitivamente não traria paz à Ucrânia", disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova. "A longo prazo, elas poderiam ter consequências muito mais perigosas."
Abrigo em Mariupol
Segundo um parlamentar ucraniano, o abrigo antibomba no prédio do teatro atingido em Mariupol resistiu. "Depois de uma terrível noite de incertezas, na manhã do 22º dia da guerra, finalmente, boas notícias de Mariupol. O abrigo antibombas resistiu. Os escombros começaram a ser desmontados, as pessoas estão saindo vivas", escreveu Sergiy Taruta nas redes sociais. Ontem, o prédio foi atingido por uma bomba. Liudmyla Denisova, comissária de direitos humanos do parlamento ucraniano, disse que "adultos e crianças vivos estão saindo de lá".
Outras fontes, também sem dar números, confirmam haver sobreviventes. Ainda não há informações oficiais sobre quantas pessoas estavam no prédio no momento do ataque e se todas sobreviveram.
"A situação é catastrófica [em Mariupol], a situação é horrível lá. Até o momento, não temos informações mais ou menos estáveis, que possam ser reportadas ao país. Infelizmente, a situação é extremamente difícil lá", disse Vadym Denysenko, assessor do Ministério de Assuntos Internos da Ucrânia, em relato da plataforma Ukrinform.
Hoje, o Ministério da Defesa da Rússia divulgou uma mensagem em que atribui a uma organização paramilitar ucraniana pelo ataque ao teatro, dizendo que "enquanto recuavam, explodiram o teatro da cidade, onde havia civis". Não é possível checar a informação, mas alvos civis têm sido atingidos por mísseis russos.
Kiev atacada
A prefeitura da capital disse que a cidade teve "uma noite bastante estressante em 17 de março". "Dois prédios residenciais de vários andares foram danificados no distrito de Darnytsky devido a bombardeio."
Além da morte de uma pessoa, quatro ficaram feridas, sendo que duas precisaram ser hospitalizadas, segundo as autoridades.
Mísseis na região de Kharkiv
Mísseis atingiram uma das instituições educacionais no município de Merefa, na região de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia.
De acordo com o serviço de emergências da Ucrânia, o imóvel foi parcialmente destruído e chegou a ficar em chamas. Ao menos 21 pessoas morreram e 25 ficaram feridas, segundo a Procuradoria Regional de Kharkiv.
Mortos em Chernihiv
Às 15h30 (9h30 no horário da Brasília), outro ataque russo deixou pelo menos quatro civis mortos na cidade de Chernihiv, no norte da Ucrânia. De acordou com o Gabinete da Procuradoria Regional, os mísseis atingiram uma loja no centro da cidade.
O número de feridos não foi divulgado.
Rússia diz ter atacado armazém militar
O Ministério da Defesa russo afirmou hoje que seu exército atacou um armazém militar das Forças Armadas da Ucrânia na região de Rivne, que fica cerca de 340 quilômetros a oeste de Kiev.
"Instalações de armazenamento com mísseis e munições foram destruídas, incluindo mísseis para o complexo tático Tochka-U", diz o comunicado.
Já o Ministério da Defesa da Ucrânia diz que "o inimigo, sem sucesso na condução de uma operação terrestre, continua a lançar mísseis e bombardeios contra a infraestrutura e áreas densamente povoadas das cidades ucranianas".
Zelensky quer "muro" derrubado
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu hoje à Alemanha que derrube o novo "muro" que está sendo erguido na Europa contra a liberdade desde a invasão da Ucrânia por parte da Rússia.
"Não é um muro de Berlim, é um muro na Europa Central entre a liberdade e a escravidão e este muro está ficando maior a cada bomba lançada sobre a Ucrânia", disse Zelensky em uma mensagem de vídeo exibida no Parlamento alemão.
Já ao Parlamento Europeu, o ministro ucraniano da Defesa, Oleksiy Reznikov, pediu a seus integrantes que considerem o presidente russo, Vladimir Putin, um "criminoso de guerra" e que o bloco aumente seu apoio à Ucrânia. "Não é apenas uma guerra. É terrorismo de Estado. O Exército regular do agressor está aniquilando, conscientemente, a população civil", disse Reznikov aos eurodeputados, por videoconferência.
"Traidores nacionais"
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, criticou os russos pró-Ocidente e os classificou de "traidores nacionais".
"O Ocidente tentará confiar na chamada quinta coluna, nos traidores nacionais, naqueles que ganham dinheiro aqui conosco, mas vivem lá. E quero dizer 'viver lá' nem mesmo no sentido geográfico da palavra, mas de acordo com seus pensamentos, sua consciência servil", disse Putin em discurso transmitido pela televisão.
HRW critica ucranianos
A organização HRW (Human Rights Watch) exigiu que a Ucrânia pare de exibir publicamente os prisioneiros de guerra russos, ao destacar que isto viola as convenções de Genebra. "As autoridades ucranianas devem parar de postar nas redes sociais e de mensagens vídeos de soldados russos prisioneiros para expô-los em público, em especial os que são humilhantes ou ameaçadores", afirmou a HRW em um comunicado.
China não atacará Ucrânia
Aliada da Rússia, a China "nunca atacará a Ucrânia", disse o principal diplomata no país a autoridades, de acordo com um comunicado à imprensa do governo regional de Lviv, no oeste ucraniano.
"Ajudaremos, especialmente economicamente... Nesta situação, que você tem agora, agiremos com responsabilidade", disse o embaixador da China na Ucrânia, Fan Xianrong, a Maksym Kozytsky, chefe da administração militar regional em Lviv, durante um encontro.
(Com Reuters e AFP)
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