Conteúdo publicado há 2 meses

Por que Brasil precisou proteger a embaixada da Argentina na Venezuela

Forças de segurança fizeram um cerco, e o governo de Nicolás Maduro decidiu, de forma unilateral, revogar a custódia do Brasil sobre a embaixada da Argentina em Caracas. O local está sob proteção do governo brasileiro desde o final de julho, quando a ditadura venezuelana expulsou todos os diplomatas argentinos e de outros seis países que questionaram a suposta vitória de Maduro nas eleições presidenciais.

O que aconteceu

Argentina não reconheceu o resultados das eleições na Venezuela. A crise entre os dois países começou depois que o presidente argentino Javier Milei questionou a vitória de Maduro, a quem chamou de ditador, e acusou o pleito de fraude. "Não é nada além de uma vitória de Pirro [conquistada a um preço alto]", disse Milei em um vídeo publicado no TikTok em 29 de julho, um dia após a eleição venezuelana.

A proibição e a perseguição de opositores políticos, a violação sistemática dos direitos humanos, a recusa da presença de observadores e imprensa estrangeira, assim como as restrições impostas ao registro no exterior de seus compatriotas para impedi-los de votar, eram claros indícios de que estas eleições não seriam democráticas nem transparentes.
Chancelaria da Argentina, em nota divulgada em 29 de julho

Maduro decidiu expulsar diplomatas que contestaram 'vitória'. Além do corpo diplomático argentino, também foram expulsos representantes de Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai. Na ocasião, o governo venezuelano disse rejeitar as ações "de um grupo de governos de direita, subordinados a Washington" e comprometidos com "ideologias sórdidas do fascismo internacional".

Após o rompimento diplomático, Argentina pediu ajuda ao Brasil. O governo brasileiro, então, assumiu a custódia da embaixada argentina em Caracas no dia 1º de agosto. Desde 20 de março, o local está na mira da ditadura venezuelana porque abriga seis políticos da oposição acusados de terrorismo, ações violentas e desestabilização do país. Paralelamente, o Brasil ainda protege a embaixada do Peru.

Crítico a Lula, Milei agradeceu pelo apoio do governo brasileiro. "Os laços de amizade que unem a Argentina ao Brasil são muito fortes e históricos", disse o presidente argentino ainda no dia 1º. A medida tomada pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil foi uma forma de evitar uma crise ainda maior entre os países da região.

Não foi a 1ª vez que o Brasil prestou esse tipo de ajuda à Argentina. Nos anos 1980, durante a Guerra das Malvinas, o Itamaraty assumiu a representação dos interesses diplomáticos de Buenos Aires em Londres, como contou o colunista do UOL Jamil Chade. O Brasil permaneceu nesta função entre 1982 e 1990, quando Reino Unido e Argentina finalmente restabeleceram suas relações diplomáticas.

Escalada de tensões

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Venezuela revogou a custódia do Brasil sobre a embaixada argentina. A crise se intensificou a partir da noite de sexta (6), quando forças de segurança cercaram o local. No dia seguinte, a ditadura venezuelana confirmou ter decidido revogar a custódia do Brasil sob o argumento de que a embaixada está sendo usada para o planejamento de atos "terroristas" contra Maduro e sua vice Delcy Rodríguez.

Diplomatas brasileiros foram convocados para uma reunião no Itamaraty. Segundo o colunista Jamil Chade, o Brasil pediu à Venezuela que a embaixada argentina não seja invadida, e a ditadura sinalizou que estava disposto a atender ao pedido. Mas o cerco das forças venezuelanas e o corte da eletricidade levantaram dúvidas dentro do Palácio do Planalto de que Maduro cumprirá qualquer acordo.

Brasil recebeu decisão 'com surpresa' e rejeitou sair da embaixada. "O Brasil permanecerá com a custódia e a defesa dos interesses argentinos até que (...) indique outro Estado aceitável para o governo venezuelano para exercer as referidas funções", informou o Itamaraty. A bandeira brasileira continua hasteada na embaixada argentina, e o Brasil tenta ganhar tempo até que as partes cheguem a um acordo.

Eleições em xeque

Edmundo González Urrutia (à esq.) foi o candidato de oposição a Nicolás Maduro (à dir.) na Venezuela
Edmundo González Urrutia (à esq.) foi o candidato de oposição a Nicolás Maduro (à dir.) na Venezuela Imagem: Federico Parra e Pedro Rances Mattey/AFP

Maduro foi proclamado reeleito pelo CNE com 52% dos votos. Mais de um mês depois, porém, o ditador ainda não publicou os detalhes da votação em cada seção porque afirma ter sofrido um "ciberataque terrorista". Já a oposição, liderada por María Corina Machado, alega ter provas de que houve fraude e da vitória do seu candidato Edmundo González Urrutia.

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Oposição diz ter vencido a eleição com 67% dos votos. O número consta nas cópias das atas de votação publicadas na internet, consideradas "forjadas" pelo regime de Maduro. O Centro Carter, um dos poucos observadores independentes que acompanharam a eleição, analisou os documentos divulgados pela oposição e confirmou a vitória de González com mais de 60% dos votos.

Após a publicação dos resultados, venezuelanos saíram às ruas. Até agora, 27 pessoas — incluindo dois militares — morreram nos protestos, e centenas ficaram feridas.

Sob o risco de ser preso, González pediu asilo na Espanha. O opositor de Maduro chegou a Madri no domingo (8), depois de uma escala nos Açores, em Portugal, após dias de uma negociação sigilosa mediada pelo ex-presidente espanhol José Luiz Zapatero. O avião oficial do governo da Espanha que transportou González havia partido de Caracas no dia anterior.

(Com AFP)

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