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Governo perdeu tempo transferindo culpa por queimadas, diz governador do AP

Waldez Góes (PDT), governador do Amapá - Waldez Góes/Facebook/Divulgação
Waldez Góes (PDT), governador do Amapá Imagem: Waldez Góes/Facebook/Divulgação

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

24/08/2019 20h06

O governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), disse hoje que gostou do que classificou como uma mudança de postura do presidente Jair Bolsonaro ontem, na busca de soluções para apagar os incêndios na Amazônia. Mas afirmou que o governo federal perdeu tempo ao insistir em apontar culpados enquanto as queimadas cresciam e se alastravam na região. Segundo ele, informações repassadas pelos estados apontam que as queimadas ainda estão crescendo.

Góes também informou que ainda não decidiu se o Amapá vai solicitar ao governo federal o apoio das Forças Armadas no combate aos incêndios. Segundo o governo, quatro estados já pediram ajuda. Na terça-feira, governadores da região vão se reunir com o presidente para tratar do tema. Góes disse esperar que a reunião seja produtiva. "Não queremos que seja um ringue."

'Discurso de transferência de responsabilidade'

O governador afirmou que o Bolsonaro deveria ter focado em apagar os incêndios já no primeiro momento. "O que aconteceu é que se ficou muito no discurso de transferência de responsabilidade: uma hora responsabilizando agricultores, outra, ONGs, chegando ao ponto de responsabilizar governadores. Discordamos desse campo [de discussão], que é estéril de debates e não gera solução", afirmou Góes ao UOL. Ele preside o Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal.

Para o governador, desde que a situação passou a receber fortes críticas internacionais, houve uma mudança no comportamento do governo. "[Bolsonaro] se reposicionou com a forma devida, que é a mobilização dos entes federados com o governo federal e, se possível, com sociedade civil e empreendedores, para resolver o problema", afirmou.

Na próxima terça-feira, os governadores têm uma reunião marcada com o presidente. "Não dá para sair sem uma resposta à sociedade, sem uma unidade de estratégia e sem uma proposta de desenvolvimento sustentável, respeitando rigorosamente as leis ambientais. Quem fugir disso tem de ser punido", disse.

Amapá e Maranhão ainda não decidiram sobre GLO

Mais cedo, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, afirmou que quatro estados (Rondônia, Roraima, Tocantins e Pará) já solicitaram apoio das Forças Armadas no combate aos incêndios, amparados pela GLO (Garantia da Lei e da Ordem). O decreto que permite as operações foi assinado ontem por Bolsonaro.

Góes afirma que outros três estados manifestarem interesse em aderir --Acre, Amazonas, e Mato Grosso. O governador do Amapá, o próprio Góes, e o do Maranhão, ainda estariam avaliando que decisão tomar.

"Estou me reunindo hoje e amanhã com minha equipe e, na segunda, me manifesto oficialmente", afirmou.

O governador afirmou que não há uma explicação comprovada para o aumento de desmatamento e queimadas na Amazônia este ano. "Pode estar relacionado ao discurso de desenvolvimento, mas não se pode provar", afirmou.

"Pelos números apresentados, quase 90% das ocorrências no Amazonas e no Pará --que são os que mais tiveram alta de desmatamento-- são em áreas federais, que fogem da atuação estadual", disse.

Brigadas civis

O governador afirmou que é preciso criar medidas permanentes de monitoramento e fiscalização da Amazônia. Segundo ele, no ano passado, o governo federal teria encerrado um convênio que garantia a atuação de brigadas contra incêndios em cada um dos estados.

"Foram desmobilizadas em toda a Amazônia Legal as frentes de combate ao fogo. Cada estado tinha uma brigada civil mobilizada pelos governadores e financiada por esse convênio. Ela servia permanentemente como alerta e monitoramento", disse. "As Forças Armadas ajudam agora, mas é preciso brigadas para ficar nessas frentes em todos estados".