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Secretário de Bolsonaro atribui queimadas a índios e isenta ruralistas

Vista aérea de áreas queimadas e focos de incêndio na Amazônia, na cidade de Nova Bandeirantes, Mato Grosso - Victor Moriyama/Greenpeace
Vista aérea de áreas queimadas e focos de incêndio na Amazônia, na cidade de Nova Bandeirantes, Mato Grosso Imagem: Victor Moriyama/Greenpeace

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

15/10/2019 16h29

O secretário especial de Assuntos Fundiários do governo Bolsonaro, Luiz Antônio Nabhan Garcia, atribuiu hoje parte da culpa dos incêndios na região amazônica a povos indígenas que, segundo ele, teriam isso como "prática" e "costume".

Representante do Ministério da Agricultura, ele participou de uma audiência pública da Comissão de Meio Ambiente do Senado Federal para debater o problema das queimadas e das atividades ilegais como garimpo e exploração clandestina de madeira. O presidente do Ibama, Eduardo Bim Fortunato, era um dos convidados, mas não compareceu.

Nabhan afirmou que os produtores rurais da região mantêm propriedades com pastagens consolidadas há pelo menos cinco décadas e que eles não podem ser confundidos com pessoas envolvidas com atividades criminosas. O secretário é pecuarista e ex-presidente da UDR (União Democrática Ruralista).

"Essas pessoas estão ali há cinco ou seis décadas e precisam ser efetivamente respeitadas, e não confundidas com madeireiros ilegais, garimpeiros ilegais e uma prática adotada pela maioria das comunidades indígenas, que são as queimadas que as comunidades indígenas fazem", disse.

O ruralista declarou conhecer o assunto "com profundidade" e que, "todos os anos, a própria comunidade indígena usa essa prática de queima". Um dos objetivos seria, por exemplo, "para que se venha o capim novo". "Enfim, é uma cultura deles".

"Já foi, inclusive, reconhecida nesse episódio da criação da GLO [Garantia da Lei e da Ordem] nos estados amazônicos por algumas comunidades indígenas que dizem: nós queimamos, sim. É uma prática adotada por comunidade indígena".

Não havia na audiência pública nenhum representante de povos indígenas. Compareceram o diretor do Departamento de Florestas do Ibama, Joaquim Álvaro Pereira Leite, que substituiu o presidente; e, à distância, a procuradora da República Ana Carolina Haliuc Bragança.

No auge da crise das queimadas nos estados da Amazônia, um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), compartilhou nas redes sociais um vídeo da youtuber indígena de direita Ysani Kalapalo, da aldeia Tehuhungu, do Mato Grosso. Na publicação, ela absolveu o governo pelas queimadas e disse que "tudo é um exagero da mídia".

Também insinuou que os próprios índios queimam a terra para fins de plantio. "É porque a gente tem que produzir aqui. A gente tem que produzir o nosso alimento, senão a gente morre de fome. Temos que queimar algumas coisas aí para plantar coisas, faz parte".

O discurso foi reproduzido por Bolsonaro na abertura da 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas, no mês passado. O presidente declarou que "existem também queimadas praticadas por índios e populações locais, como parte de sua respectiva cultura e forma de sobrevivência".