Em Dubai, Bolsonaro mente sobre queimadas e preservação da Amazônia
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a distorcer dados sobre o desmatamento e mentiu, em discurso a investidores árabes em Dubai, ao dizer que a Amazônia não pega fogo por ser uma floresta úmida.
Em uma tentativa de traçar um cenário positivo para a região que tem enfrentado números recordes de queimadas e desmatamento, Bolsonaro disse que mais de 90% da Amazônia está preservada e "exatamente igual a quando o Brasil foi descoberto". Porém, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Florestas, a devastação já atingiu cerca de 16% do bioma.
Além disso, segundo especialistas, o predomínio de florestas na Amazônia não é sinônimo de áreas intactas. Reportagem de Ecoa mostrou que a WWF-Brasil, a partir de dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), estima que a Amazônia perdeu 19% de sua área original.
Bolsonaro ainda voltou a reclamar das críticas internacionais sobre a política ambiental do Brasil e disse que a Amazônia é um patrimônio do Brasil. Na chegada a Dubai, ele já havia declarado que o Brasil é um dos países mais "atacados", ao falar sobre a COP26.
"Vocês comprovarão isso [se forem visitar a Amazônia] e trarão uma imagem que condiz com a realidade. Os ataques que o Brasil sofre quando se fala em Amazônia não são justos. Mais de 90% daquela área está preservada, está exatamente igual a quando o Brasil foi descoberto no ano de 1500", mentiu durante discurso no Fórum Invest in Brasil, evento que é parte da viagem oficial do presidente ao Oriente Médio.
Na fala, Bolsonaro ignora dados atuais sobre a região. Em outubro, a área desmatada alcançou 877 quilômetros quadrados, um nível sem precedentes para o mês segundo dados do Inpe.
Bolsonaro mente sobre queimadas
Em seu discurso, Bolsonaro ainda voltou a mentir ao dizer que, por ser uma floresta úmida, a Amazônia não pega fogo, repetindo o que disse em discursou na assembleia-geral da ONU, em 2020. Recentemente, em entrevista canal italiano Sky, ele repetiu a afirmação que não tem base científica e que contraria os dados que mostram queimadas na região. Em 2020, por exemplo, o Inpe contabilizou 103.161 focos de incêndio na região.
"Nós queremos que os senhores conheçam o Brasil de fato. Uma viagem, um passeio pela Amazônia é algo fantástico, até para que os senhores vejam que a nossa Amazônia, por ser uma floresta úmida, não pega fogo", disse Bolsonaro.
Nova citação a Amazônia
Mais tarde, em discurso durante cerimônia que marcou o "Dia do Brasil" no evento em Dubai, voltou a citar a Amazônia, dizendo que gostaria que mais pessoas do Oriente Médio visitassem a região amazônica e "tivessem informações concretas do que ela representa para todo o mundo".
Após a cerimônia, Bolsonaro mostrou em live no Facebook uma caminhada pelo evento, no qual tirou fotos e interagiu com apoiadores.
Chanceler fala em 'esforços bem sucedidos'
Também em discurso a investidores, o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, disse que tem o governo tem feito esforços bem sucedidos em relação ao meio ambiente e citou o trabalho das Forças Armadas na região, que realizou operação recentes contra queimadas.
"Desde 2019, o governo, com apoio das Forças Armadas e de segurança pública, tem incrementado políticas contra crimes ambientais. Os desafios de cuidar do meio ambiente num país continental como o Brasil são imensos, mas o governo brasileiro tem envidado esforços bem-sucedidos nesse sentido", disse o ministro das Relações Exteriores.
Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez um discurso voltado para a parte econômica. Contrariando dados e projeções do mercado financeiro e de entidades como o FMI (Fundo Monetário Internacional), ele afirmou que o Brasil cresce "acima da média mundial", e atribuiu o suposto bom desempenho a Bolsonaro.
"O Brasil foi uma das economias que menos caíram, voltaram mais rápido, criaram mais empregos, e estamos crescendo, também, acima da média mundial", disse.
Já o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, afirmou que o Brasil "é um dos países mais bem posicionados para liderar processos de transição energética" e citou o crescimento dos setores de energia eólica e solar.
Apesar da fala do ministro, a potência total das usinas termelétricas contratadas pelo governo de Bolsonaro por meio de leilões nos últimos anos, e que já contam com alguma previsão de data para entrada em operação, supera tudo aquilo que entrará no sistema ao longo dos próximos cinco anos por meio de energia solar e eólica (também contratadas via leilões de energia).
As tabelas do governo indicam que volume de energia termelétrica, mis poluente, previsto até maio de 2026 representa 47,7% de tudo o que será gerado pelas demais usinas em implantação, de todas as demais fontes.
Desmatamento faz Amazônia emitir gás carbônico
Um estudo publicado em julho deste ano na revista Nature mostra que a Amazônia já tem áreas que emitem mais gás carbônico do que absorvem. Segundo o estudo conduzido pelo Inpe em parceria com universidades, a consequência disso é que a Amazônia não está apenas diminuindo em tamanho, mas também ficando mais seca.
"Dado que a floresta, em vez de equilibrar a crise climática, está contribuindo para piorar, isso faz com que a gente tenha cada vez mais uma aceleração do aquecimento global. Essa aceleração vai aumentar a probabilidade de mais secas na região amazônica em temperaturas mais elevadas", explicou Renata Libonati, professora do departamento de Meteorologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em entrevista ao Estadão.
"Se a Amazônia perder a capacidade de remover o dióxido de carbono da atmosfera, isso pode levar ao aumento da temperatura do planeta. E esse fato, por sua vez, faz com que a região fique mais propensa às secas. Ou seja: cada vez menos úmida", explica Libonati.
As declarações de Bolsonaro ocorrem em um momento em que o Brasil é contestado internacionalmente por sua política ambiental. No início de outubro, o UOL mostrou que a Amazônia perdeu, nos primeiros 1.000 dias do governo Bolsonaro, uma área de vegetação nativa 74% maior do que nos últimos 1.000 dias antes do início do governo, ou seja, a partir de março de 2016.
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