Bolsonaro questiona notícias da Amazônia após dados de desmatamento recorde
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) questionou hoje notícias veiculadas no passado sobre o desmatamento na Amazônia, sugerindo que as previsões da época — as quais chamou de "xaropada" — não se cumpriram. A declaração foi feita um dia depois de o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgar que a devastação na região atingiu a marca de 13.235 km² entre 1º de agosto de 2020 e 31 julho de 2021 — alta de 21,97% em relação aos 12 meses anteriores.
Segundo o Observatório do Clima, este é o maior índice registrado em 15 anos, desde 2006, e a terceira alta consecutiva desde o início do governo Bolsonaro. É também a primeira vez desde 1988, ano de início das medições, em que o desmatamento sobe por quatro anos seguidos.
"Vi essa matéria aqui: 'em 2010, a Amazônia será uma imensidão de areia'. Bem, em 2010, não aconteceu nada disso. Em 2021, não aconteceu nada disso também. Mas olha a matéria de agora: 'Amazônia está perto de ponto irreversível e pode virar deserto'. A mesma xaropada de sempre. É matéria, na maioria das vezes, patrocinada por brasileiros que estão trabalhando contra o seu país", disse Bolsonaro durante sua live semanal.
Tem desmatamento ilegal [na Amazônia]? Tem. É só outros países não comprarem madeira nossa, é simples. Tem queimada ilegal? Tem, mas não é nessa proporção toda que dizem aí.
Jair Bolsonaro, sem apresentar provas
O presidente ainda mentiu ao afirmar que a "Amazônia não pega fogo" e voltou a culpar os indígenas pelo desmatamento.
Seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (sem partido), também responsabilizou a imprensa pelas críticas que o Brasil tem recebido pela condução de sua política ambiental, insinuando que os dados oficiais sobre o desmatamento — divulgados pelo Inpe há mais de 30 anos — não condizem com a realidade.
"Na verdade, a grande imprensa do exterior acaba replicando a grande imprensa brasileira. Infelizmente os europeus não vão na Amazônia para conhecer a realidade, e acabam tendo essa falsa realidade dada pela imprensa daqui", acusou Eduardo.
Repercussão na Europa
Apesar de contestados por Bolsonaro, os mais recentes dados divulgados pelo Inpe repercutiram hoje na imprensa europeia. O francês Le Monde, por exemplo, destacou que "nada parece pausar o desmatamento no Brasil", citando que o presidente é alvo de inúmeras críticas no mundo inteiro por que enfraquecido a proteção dos ecossistemas amazônicos e defendido atividades ilegais nas reservas florestais.
A questão também apareceu no britânico The Guardian, sob a manchete "Desmatamento na Amazônia brasileira atinge seu pico desde 2006". O jornal ainda expôs a contradição entre os dados do Inpe e a promessa feita pelo Brasil na COP26, na Escócia, de antecipar em dois anos — de 2030 para 2028 — o limite para eliminar a destruição da floresta.
"O Brasil, que abriga a maior parte da Amazônia, é visto como crucial no pacto global. As árvores da maior floresta tropical do mundo absorvem vastas quantidades de dióxido de carbono que poderiam esquentar ainda mais o planeta. Muitos cientistas advertem que se a devastação continuar, pode-se chegar em uma situação irreversível, transformando o local em uma savana", publicou o Guardian.
Já o espanhol El País ressaltou que a política adotada pelo governo Bolsonaro consiste em enfraquecer a vigilância na floresta, substituindo ambientalistas por militares nos órgãos encarregados da proteção do meio ambiente. O presidente brasileiro, continuou o jornal, também cumpriu a promessa de não demarcar nenhum centímetro a mais de terras indígenas, além de ter relaxado leis e multas por crimes ambientais.
O Brasil passou de aluno exemplar a vilão ambiental em poucos anos. (...) O governo Bolsonaro insiste em proclamar que não vai tolerar atividades ilegais na Amazônia, mas basta ir até lá para ser testemunha da velocidade em que avança o desmatamento, a ocupação de terras para a criação de gado e as invasões de mineiros em reservas indígenas.
Trecho de reportagem do El País
(Com RFI)
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