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Novo governo alemão ampliará cobrança contra desmatamento, diz embaixador

28 jul. 2021 - Vista aérea mostra área de desmatamento na fronteira entre a Amazônia e o Cerrado, em Nova Xavantina, no Mato Grosso - Amanda Perobelli/File Photo/Reuters
28 jul. 2021 - Vista aérea mostra área de desmatamento na fronteira entre a Amazônia e o Cerrado, em Nova Xavantina, no Mato Grosso Imagem: Amanda Perobelli/File Photo/Reuters

Do UOL, em São Paulo

26/11/2021 08h40Atualizada em 26/11/2021 08h40

O novo governo alemão intensificará a cobrança contra o desmatamento no Brasil, afirmou Heiko Thoms, embaixador da Alemanha no Brasil, após uma coalização entre social-democratas, verdes e liberais definir Olaf Scholz como sucessor da chanceler Angela Merkel.

Em entrevista para o jornal O Globo, o embaixador alemão acrescentou que os dirigentes europeus seguem as vontades políticas de seus eleitores, os consumidores.

"Temas como desmatamento, clima e sustentabilidade vão crescer muito mais, tanto na Alemanha como na União Europeia. O governo anterior já se interessava bastante por essa questão, mas o novo governo vai se interessar ainda mais, porque nós temos agora o partido Os Verdes, os social-democratas e os liberais, que têm uma forte agenda verde".

Segundo Thoms, há um consenso na Alemanha de que o tema meio ambiente deve ser discutido por todos os partidos. A exceção é a extrema-direita.

O embaixador alemão indicou que a pressão sobre o governo brasileiro continuará. "Nós não exigimos mais do Brasil do que nós exigimos de nós mesmos. E temos grandes desafios. Por exemplo, decidimos que vamos parar de utilizar o carvão em 2030, ao invés de 2038. E também vamos parar de usar o gás metano em 2040. É um desafio muito grande".

Embargo de produtos de áreas desmatadas

Segundo Thoms, o Brasil deveria se preocupar com a importação de produtos extraídos de áreas desmatadas, citando um projeto de lei que está sendo analisado pelo Parlamento Europeu.

"Estou convicto de que os brasileiros deviam se preocupar, porque é uma questão muito séria, e vamos conseguir [aprovar a matéria]. Esse projeto, neste momento, está sendo discutido em nível muito claro pela União Europeia e essa direção não vai mudar", disse o diplomata ao Globo.

Na semana passada, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgou que o desmatamento da Amazônia atingiu a marca de 13.235 km² quadrados entre 1º de agosto de 2020 e 31 julho de 2021 —o número representa uma alta de 21,97% na comparação com o ano anterior.

A data de publicação do estudo indica que o governo brasileiro sabia da alta na taxa de desmatamento antes da COP26, a conferência internacional sobre o clima realizada em Glasgow, na Escócia, mas omitiu os números.

O embaixador diz que a Alemanha não quer que o Brasil mude de posição, apenas que cumpra a legislação brasileira, que proíbe o desmatamento. "O Código Florestal do Brasil é muito avançado, muito bom. Quem agride a soberania nacional é aquele que não cumpre a lei brasileira".

Em nossa opinião, um grupo relativamente pequeno de pessoas que desmatam prejudica os interesses dos outros produtores no Brasil. Nós queremos trabalhar com os atores brasileiros sérios, com o governo, com os estados, para remover esse obstáculo.
Heiko Thoms, embaixador da Alemanha no Brasil

Thoms também sugeriu que o governo brasileiro trabalhe com a União Europeia por cadeias produtivas mais transparentes. "Há um mal-entendido no sentido de que os investidores e os consumidores de fora do Brasil sabem diferenciar entre Amazônia, Pantanal e Mata Atlântica. Ele não sabe se a carne, por exemplo, vem de uma área desmatada, porque as cadeias produtivas não são muito claras, são sempre obscuras".