Topo

Conteúdo publicado há
11 meses

Estudo: estados amazônicos têm até 40% dos peixes contaminados por mercúrio

Espécies de peixes do Rio Tapajós consumidas pelo povo Munduruku apresentam alta concentração de mercúrio - João Paulo Guimarães
Espécies de peixes do Rio Tapajós consumidas pelo povo Munduruku apresentam alta concentração de mercúrio Imagem: João Paulo Guimarães

Do UOL, em São Paulo

30/05/2023 09h56Atualizada em 30/05/2023 09h56

Estudos feitos com peixes comprados em centros urbanos na Amazônia apontaram contaminação por mercúrio acima dos níveis seguros em todos os estados do Norte. Os dados mais graves são de Roraima e Acre, que tiveram 40% e 35,9% dos peixes, respectivamente, com alto nível de concentração do metal tóxico utilizado em garimpos na região.

O que diz o estudo?

"Mais de um quinto (21,3%) dos peixes [...] que chegam à mesa das famílias na região Amazônica têm níveis de mercúrio acima dos limites seguros estabelecidos pela Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO/WHO) e pela Agência de Vigilância Sanitária brasileira (ANVISA)", diz o estudo, desenvolvido pelas organizações Iepé (Instituto de Pesquisa e Formação Indígena), Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, Greenpeace, Instituto Socioambiental e WWF-Brasil.

Foram coletados 1010 peixes de 80 espécies diferentes, tirados de 17 municípios amazônicos, nos seis estados do Norte, em "mercados públicos, feiras-livres ou com pescadores nos pontos de desembarque pesqueiro" entre março de 2021 e setembro de 2022.

Crianças e mulheres em idade fértil são grupos mais vulneráveis aos efeitos do mercúrio: crianças entre 2 e 4 anos estariam ingerindo até 31 vezes mais mercúrio do que a dose recomendada; já as mulheres, 9 vezes.

Pesquisadores ponderam que não tiraram amostras de todos os peixes consumidos na região ao longo das estações, e, por isso, acreditam que os dados "revelem somente uma parte do real impacto provocado pela exposição ao mercúrio para a maioria da população que vive hoje em centros urbanos da Amazônia".

A recomendação principal deve ser enfocada na garantia da segurança sobre os territórios da Amazônia e na erradicação de garimpos ilegais de ouro, bem como de outras atividades humanas ilegais que aumentam a disponibilidade de mercúrio para o ambiente, tais como desmatamento e queimadas."
Nota técnica do estudo sobre contaminação por mercúrio nos estados do Norte

Como o garimpo usa o mercúrio?

Os garimpeiros usam o metal para separar o ouro dos demais sedimentos. Em altas concentrações, o mercúrio afeta o funcionamento do sistema nervoso e do cérebro, causando fraqueza e problemas de visão, por exemplo.

Segundo estudos anteriores realizados na região a fim de mapear a contaminação dos peixes, 45% do mercúrio usado nos garimpos ilegais é despejado sem qualquer tipo de tratamento nos rios e igarapés da Amazônia.

A substância pode permanecer até cem anos na natureza, envenenando os rios e a terra, além de causar doenças em seres humanos e animais. Em grávidas, a contaminação pode causar abortos ou fazer com que os bebês nasçam com paralisia cerebral, deformidades e malformações.