Como 'dilúvio' no deserto do Saara mexerá com o tempo no Brasil
Um dos maiores desertos do mundo, o Saara será palco de um evento único: a precipitação prevista para as próximas semanas deve corresponder a até 1.000% do previsto para o período. No Brasil, o volume de chuvas também pode ser afetado pela zona de convergência que irá levar a chuva ao Norte da África. Entenda mais abaixo.
Cinturão de chuvas e impactos no Brasil
Zona de convergência é responsável por carregar a chuva na linha do Equador. A Zona de Convergência Intertropical (ITCZ, na sigla em inglês) é formada por uma faixa de nuvens, tempestades e chuvas que se espalha por todo a linha do Equador. A zona existe graças ao encontro dos ventos alísios vindos de ambos os hemisférios, que provocam as precipitações por conta de sua umidade.
Movimentação da ITCZ tem sido atípica. Segundo registros recentes, a zona de convergência está se deslocando mais do que o habitual em direção ao norte, principalmente nos últimos três meses. Com essa movimentação, fortes sistemas de trovoadas se deslocam para o Oceano Atlântico, em latitude mais elevada e sobre águas mais frias. O resfriamento dos oceanos, fenômeno conhecido como La Niña, também contribui para o deslocamento da ITCZ.
ITCZ no Brasil. Dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) indicam que a ITCZ alcança sua posição mais ao norte justamente entre os meses de agosto e setembro, sendo um dos principais sistemas meteorológicos causadores de chuva em parte das regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Clima no país pode sofrer consequências do deslocamento atípico da ITCZ. Com a movimentação ainda maior da zona de convergência, a previsão indica baixa ocorrência de chuva na região amazônica, com calor intenso e possível agravamento da estiagem.
Em Manaus (AM), a temperatura máxima prevista para os primeiros dias de setembro deve alcançar 39ºC, de acordo com a Climatempo. Já em boa parte dos estados que compõe o Nordeste, a chuva deve chegar em abundância. "Quanto mais intenso for o sistema [ITCZ], maior será o volume de chuva, principalmente, no semiárido nordestino do Brasil", explica o Inmet.
Chuva no deserto
Próximos dias serão chuvosos no Saara. De acordo com a previsão indicada pelo portal especializado Severe Weather, nos próximos 16 dias o deserto receberá pelo menos 500% da precipitação média para o início de setembro. Apesar de não representar um volume grande de chuva para os padrões globais, a quantidade de água prevista no Saara é motivo de alerta, já que mais da metade do deserto recebe menos de 25 mm de chuva por ano.
Precipitação prevista é ainda maior na região central do deserto. A expectativa indica que o centro do Saara receberá mais de 1.000% da chuva normal na primeira quinzena de setembro. Segundo especialistas, parte do deserto terá chuva equivalente a alguns anos em poucos dias. Registros recentes indicam que, em agosto, o volume de chuva também já está acima da média histórica.
Eventos de chuva extrema não são comuns no Saara. Segundo o Severe Weather, altos níveis de precipitação no local são muito raros, atingindo o Saara, em média, menos de uma vez por década. "[Os eventos de chuva na região] são geralmente um sinal de que talvez algo esteja mudando no sistema climático da Terra, indicando um estado incomum da atmosfera", indica o portal.
Saara tem mais de 9 milhões de quilômetros quadrados. Toda a extensão do deserto é marcada por clima quente e seco. O Saara está localizado sob uma crista subtropical, um sistema permanente de alta pressão. A presença da crista faz com que o ar desça, o que torna a atmosfera seca e estável e evita a formação de nuvens e, consequentemente, de chuvas.
Previsão no Saara acende alerta e pode indicar impactos de escala global. De acordo com o Severe Weather, as alterações na ITCZ podem alterar "drasticamente" os padrões climáticos na região e afetar a temporada de furacões no Atlântico.
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