Pássaros podem espalhar fogo em matas? Conheça as aves incendiárias

Conhecida por ser lar de animais selvagens e curiosos, a Austrália tem em seu território espécies de aves com uma forma peculiar de caça: aves de rapina que usam o fogo como estratégia de caça.

As curiosas espécies e suas habilidades

Três pássaros são considerados perigosos por conta da forma como buscam suas presas. Com dieta carnívora, as aves das espécies milhafre-preto (Milvus migrans), milhafre-assobiador (Haliastur sphenurus) e falcão-marrom (Falco berigora) são extremamente perspicazes em seus hábitos de caça, notados na savana australiana, bioma ao norte do país, e nas região da Austrália Ocidental e de Queensland.

Propositalmente, as aves dessas espécies ampliam incêndios florestais. O objetivo é provocar a fuga dos animais que vivem no local e, assim, caçá-los com mais facilidade. Para espalhar o incêndio, os pássaros transportam, pelo bico ou pelas garras, galhos em chamas para áreas não atingidas pelo fogo.

Aves fascinam especialistas há anos. Estudo publicado em 2017 no Journal of Ethnobiology com autoria de Robert Gosford, especialista no comportamento de aves e na interação dos pássaros com pessoas, indica que a habilidade das aves com o fogo pode ser ainda mais antiga do que o uso das chamas pelos humanos. Para elaborar a pesquisa, os especialistas observaram o comportamento das aves entre 2011 e 2017.

Ex-bombeiro também faz parte dos responsáveis pelo estudo. Dick Eussen, que também é fotojornalista, levou para a pesquisa a experiência que teve nos anos 1980, quando trabalhou para apagar um incêndio no norte da Austrália e observou o comportamento das aves, que tentavam criar novos focos de fogo.

Os gravetos podem ser provenientes de fogueiras utilizadas por humanos para cozinhar ou de vegetação queimada, ou fumegante. A intenção das aves de rapina é espalhar o fogo para locais não queimados - por exemplo, o outro lado de um curso de água, estrada ou abertura artificial criada pelos bombeiros - para expulsar as presas através de chamas ou fumaça
Trecho oficial da pesquisa publicada no Journal of Ethnobiology

Segundo pesquisa, aves utilizam a estratégia quando o incêndio primário perde força. Ao notar que as chamas estão se apagando, os pássaros dessas espécies atuariam para prolongar ou até mesmo expandir o fogo e seguir pressionando suas presas. A frequência em que as aves tentam espalhar incêndios e o aproveitamento ainda é objeto de estudo de especialistas, que buscam compreender, também, se o hábito é realizado de forma individual ou em grupo, com várias aves atuando em conjunto.

Potencial das aves pode colocar em risco o meio-ambiente. Ao tentar espalhar o fogo, as espécies estudadas pelos pesquisadores podem se tornar uma ameaça ao bioma australiano, espalhando o fogo que, eventualmente, pode provocar incêndios de grandes proporções na mata.

Embora os guardas florestais aborígenes e outros que lidam com incêndios florestais tenham em conta os riscos representados pelas aves de rapina que provocam queimadas controladas, o ceticismo de oficiais sobre a realidade da propagação do fogo pelas aves dificulta o planejamento eficaz para a gestão e restauração da paisagem
Trecho oficial do estudo sobre o comportamento de aves incendiárias

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Povos originários da Austrália também notaram comportamento das aves. A prática de espalhar o fogo e a inteligência dos milhafres-pretos, milhafres-assobiadores e dos falcões-marrons eram celebrados pelos povos aborígenes, que homenageavam as aves com danças em suas cerimônias.

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