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Quem me associa a doleiro Alberto Youssef mente, diz Padilha

Alexandre Padilha (PT), ex-ministro da Saúde, é pré-candidato ao governo do Estado de São Paulo - William Volcov/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo
Alexandre Padilha (PT), ex-ministro da Saúde, é pré-candidato ao governo do Estado de São Paulo Imagem: William Volcov/Brazil Photo Press/Estadão Conteúdo

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

25/04/2014 17h58

O ex-ministro da Saúde e pré-candidato do PT ao governo de São Paulo Alexandre Padilha convocou uma entrevista coletiva nesta sexta-feira (25) na capital paulista para negar que tenha qualquer associação com o o doleiro Alberto Yousseff. “Mente quem estabelece qualquer envolvimento meu com o doleiro”, disse o ex-ministro.

O petista negou que tenha indicado Marcus Cezar Ferreira de Moura, que foi coordenador de promoção e eventos do Ministério da Saúde em 2011, para atuar como empresário da Labogen, laboratório farmacêutico de Yousseff. “Mente quem diz que eu indiquei Marcos Cezar Moura para qualquer laboratório privado. Mente quem diz que existe ou existira qualquer contrato com a Labogen na minha gestão."

O nome de Padilha aparece em conversas entre o deputado federal André Vargas (PT-PR) e o doleiro Alberto Yousseff que constam de relatório da Operação Lava Jato da Polícia Federal.

As conversas entre o parlamentar e o doleiro foram feitas por mensagens enviadas por celulares BlackBerry no final de 2013. Segundo a PF, ambos buscavam a indicação de um nome que não gerasse suspeitas das autoridades fiscalizadores para comandar o Labogen.

Se Vargas usou meu nome em vão, vou interpelá-lo na Justiça, diz Padilha


Nos diálogos, Vargas passa um número de celular ao doleiro e afirma que “Padilha que indicou”. Segundo a PF, o número citado na conversa é de Marcus Cezar Ferreira de Moura, que em 2011 foi nomeado por Padilha para coordenar o setor de promoções e eventos do Ministério da Saúde.

Na época da conversa, o Labogen negociava uma parceria com o ministério para produzir um remédio para hipertensão. O projeto, segundo a PF, renderia até R$ 31 milhões em cinco anos. A parceria foi cancelada em março deste ano antes da assinatura do contrato, após vir à tona a relação do doleiro com o deputado. Quando o rompimento ocorreu, Padilha já havia se afastado da pasta para se dedicar à campanha.

 

Na entrevista coletiva, o ex-ministro afirmou que pedirá para ter acesso aos relatórios da Operação Lava Jato e que irá acionar judicialmente quem citou o nome dele “em vão”.

“Diante das notícias que foram veiculadas hoje, e ontem pela noite, envolvendo de forma incorreta o meu nome, tomei duas decisões: constituir, formalmente, uma solicitação judicial à PF para que eu tenha acesso a todos os detalhes de um relatório que, segundo as notícias de hoje, buscam fazer qualquer envolvimento a meu nome a partir de mensagens trocadas por terceiros que não tem nenhuma relação com o Ministério da Saúde”, afirmou.

“Vou orientar meus advogados, a partir do momento que tiverem acesso a todo relatório, a interpelar judicialmente qualquer pessoa que tenha utilizado meu nome em vão”, declarou Padilha. “Se o senhor André Vargas ou qualquer pessoa usou meu nome em vão, vou interpelar judicialmente e esclarecer isso”, disse.

Apesar de prometer acionar a Justiça contra quem o citou, Padilha não deixou claro contra quem dirige seu descontentamento. O pré-candidato afirmou que Vargas já negou que tenha o citado nas conversas com o doleiro e disse confiar nas investigação da PF.

O deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), também citado em contato com André Vargas sobre uma reunião com o doleiro Yousseff, enviou nota à imprensa negando qualquer envolvimento. "Não há nenhum fato que me desabone e meu nome foi usado indevidamente por terceiros. Repudio veementemente ilações e acusações a partir de interpretações de informações parciais vazadas com intuito eleitoral", afirma no comunicado.

Ligação com servidor

Padilha disse que conheceu Marcus Cezar quando trabalhava na Secretaria de Assuntos Federativos da Presidência da República, “em 2006 ou 2007”. Segundo Padilha, ele foi militante do PT e atuou na campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010.

O pré-candidato afirmou que Marcos trabalhou no Ministério da Saúde por apenas três meses, entre maio e agosto de 2011, e que o servidor não respondia ao ministro, nem desempenhava papel que o ligava a indústria farmacêutica ou a produção de medicamentos. Padilha disse ainda que Marcos foi indicado por assessores do ministério.

Parceria com a Labogen

A parceria com o Labogen seria feita por meio de uma PDP (Parceria para o Desenvolvimento Produtivo), programa do ministério criado para aumentar a oferta de medicamentos à população.

Segundo Padilha, os contratos de PDPs só podem ser firmados entre o ministério e um laboratório público que se associa a um privado. No caso da Labogen, o laboratório parceiro seria o da Marinha do Brasil. O laboratório EMS também faria parte do acordo.

O ex-ministro disse que há vários filtros desde que um laboratório privado procura o ministério para estabelecer uma PDP até o momento em que o contrato é firmado. O petista afirmou ainda que os recursos da pasta são pagos ao laboratório público. “O laboratório da Marinha teria contrato e receberia os recursos do ministério. Nenhum real seria pago diretamente a qualquer outro laboratório privado.”

De acordo com Padilha, André Vargas o procurou informalmente, em algumas oportunidades, enquanto ele era ministro, para falar da parceria com a Labogen. O ex-ministro afirmou que sempre orientou o deputado para que encaminhasse a proposta formalmente ao ministério.

Desdobramentos

O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa tornou-se réu nesta sexta numa ação penal sob acusação de ter desviado recursos públicos da refinaria Abreu e Lima, que está sendo construída em Pernambuco pela Petrobras. Costa também vai responder pelos supostos crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

A Justiça Federal abriu mais duas ações criminais decorrentes das apurações da Operação Lava Jato da Polícia Federal, uma delas contra o doleiro Alberto Youssef. No outro novo processo penal, o juiz federal Sérgio Moro fixou uma fiança no valor de R$ 7 milhões para a libertação de um dos réus. Youssef, que foi interceptado em conversas com o deputado André Vargas, passou à condição de réu pela segunda vez com outros cinco acusados.

O doleiro foi denunciado sob a acusação de ter praticado os crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.