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"Eles me vigiavam no cinema", diz Lula à Comissão da Verdade

Do UOL, em Brasília

09/12/2014 10h38Atualizada em 09/12/2014 18h37

A CNV (Comissão Nacional da Verdade) divulgou, nesta terça-feira (9), o depoimento dado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o período em que ele militou no movimento sindical e os 31 dias em que ele esteve preso pelo regime militar após liderar uma greve. A comissão, que apura violações a direitos humanos cometidas durante o regime militar divulgará seu relatório final nesta quarta-feira (10). O depoimento foi dado na segunda-feira na sede do Instituto Lula, em São Paulo.

Segundo o ex-presidente, ele foi monitorado durante três ou quatro anos antes de sua prisão, em 1980. A revelação já havia sido feita pela comissão em setembro deste ano com base em documentos obtidos pelo grupo que mostravam o monitoramento de trabalhadores por empresas brasileiras e estrangeiras.

"Eles [policiais] me vigiavam no cinema. Na assembleia, a gente notava que eles estavam lá. Às vezes, disfarçados no bar do sindicato. Na minha casa, por exemplo, eles paravam a perua na porta e passavam a noite. Às vezes, para encher o saco, a Marisa [Letícia, mulher de Lula] mandava fazer café e mandava levar para eles. Foram uns três ou quatros anos que eles monitoraram e me acompanharam antes da prisão", disse. O petista diz não ter certeza se era vigiado pela Polícia Federal ou por homens do Dops.

Em 1980, após liderar uma greve de metalúrgicos em São Paulo, Lula foi preso e ficou detido por 31 dias.

"Os militares cometeram a burrice de me prender, porque não tinha mais como continuar a greve", disse o ex-presidente em seu depoimento à CNV.

"O que aconteceu quando eles me prenderam? Foi uma motivação a mais para a greve continuar, as mulheres fizeram uma passeata muito bonita em São Bernardo do Campo, depois foi aquele primeiro de maio histórico, em que foi o Vinícius de Moraes, e a greve durou mais quase 30 dias", contou o ex-presidente.
                                
Lula contou que o então diretor-geral do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), Romeu Tuma, liberou uma televisão para que ele assistisse a um partida entre Corinthians e Botafogo. “A gente foi tratado lá com um certo respeito porque tinha muita gente do lado de fora, não era um preso comum, tinha trabalhador, estudante, intelectuais, igreja, todo mundo”, disse. 

Na semana passada, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) também falou à CNV sobre a perseguição que sofreu.

O relatório final dos trabalhos da comissão será apresentado amanhã à presidente Dilma Rousseff em cerimônia em Brasília.