Suspeita de fraude na saúde do RJ vira duelo entre Witzel e clã Bolsonaro
Resumo da notícia
- Witzel acusou PF de engavetar investigação contra Flávio Bolsonaro
- Filho do presidente rebateu, chamando-o de "traidor"
- STJ quebra dados de celulares do governador do Rio
As suspeitas de fraude na saúde do Rio em meio à pandemia do coronavírus, apontadas hoje em operação da Polícia Federal, tornaram-se hoje campo para intensa troca de acusações entre o governador Wilson Witzel (PSC) e o clã Bolsonaro, envolvendo o presidente da República e o filho mais velho dele, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Apesar de apontar indícios de desvios de verba pública na construção de hospitais de campanha no RJ, as supostas fraudes em contratos em meio a um aumento de mortes por covid-19 no estado ficaram em segundo plano. No epicentro das suspeitas, Witzel usou o ataque a bolsonaristas para se defender e acusou o presidente Jair Bolsonaro de usar a PF para fins políticos na esteira das acusações do ex-ministro Sergio Moro. Por outro lado, o clã Bolsonaro comemorou a ação, tendo o presidente parabenizado a Polícia Federal pela ação contra o governador do Rio.
A Operação Placebo cumpriu hoje (26) mandados de busca e apreensão nos palácios Guanabara e das Laranjeiras, sede do governo e residência oficial do governador, respectivamente. Foram levados celulares e computadores de Witzel e da mulher dele, Helena Witzel.
Suspeito de chefiar estrutura ligada a supostas fraudes em contratações emergenciais, Witzel falou em suposto vazamento da PF para deputados ligados a Jair Bolsonaro, criticou o que chamou de "ditadura de perseguição" e acusou a PF de engavetar o processo contra o senador Flávio Bolsonaro para protegê-lo.
Apesar das suspeitas sobre vazamentos, a operação foi autorizada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República). Em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, em Brasília, Jair Bolsonaro elogiou a ação da PF. A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro rebateram os ataques.
Em transmissão ao vivo no seu perfil no Instagram, o filho do presidente chamou Witzel de traidor e ainda deu a entender que tem informações sobre investigações contra o governador do Rio.
Pelo que tenho ouvido, isso não é nada perto do tsunami que está por vir
Senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ)
À CNN Brasil, Zambelli negou ter tido conhecimento prévio da operação, apesar de ter dito na segunda-feira (25), em entrevista à Rádio Gaúcha, que a PF estava prestes a fazer operações contra desvios na área de saúde. "Ele [Witzel] que se preocupe com a defesa dele. Ele está fazendo uma cortina de fumaça e jogando em cima de uma deputada."
O PSOL enviou requerimento ao Ministério da Justiça pedindo que o suposto vazamento seja investigado. Em nota oficial divulgada hoje, a ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal) disse que "repudia veementemente" alegações sobre vazamento da operação, com uma crítica direta à "irresponsável nota da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef)".
"A ADPF atua na defesa da Polícia Federal e sempre condenou, de forma intransigente, qualquer tipo de vazamento de informações sigilosas, por quem quer que seja. Os responsáveis por revelação de qualquer segredo profissional devem ser processados e demitidos, sem prejuízo das sanções cíveis e penais cabíveis", diz o texto.
Flávio Bolsonaro elogiou Queiroz
No bate-boca com Witzel, Flávio Bolsonaro elogiou publicamente seu ex-assessor Fabrício Queiroz. Ele disse que, durante a campanha eleitoral, o agora governador do Rio ligava para Queiroz para localizá-lo. "Você ficava ligando para o Queiroz para correr atrás de mim na campanha. Sabia que o Queiroz estava do meu lado. Um cara correto, trabalhador, dando sangue por aquilo que acredita", disse.
Queiroz e Flávio são investigados em inquérito sobre a chamada rachadinha na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), quando funcionários do gabinete devolvem parte de seus salários.
STJ quebra sigilo de celulares
Além do cumprimento de 12 mandados de busca e apreensão —dez no Rio e outros dois em São Paulo—, o STJ autorizou a apreensão e quebrou o sigilo dos dados nos telefones e equipamentos eletrônicos de Witzel na operação da PF.
A determinação consta na decisão do ministro Benedito Gonçalves, que autorizou a Operação Placebo, e envolve todos os investigados. Entre eles, a primeira-dama Helena Witzel.
Na decisão, também é citada a relação entre Lucas Tristão, secretário estadual de Desenvolvimento Econômico e braço direito de Witzel, com o empresário Mário Peixoto, preso na semana passada. Segundo consta na decisão judicial, empresas de Peixoto fizeram depósitos de R$ 225 mil para o escritório de advocacia de Tristão.
Segundo a PF, investigações apontam para um esquema de corrupção envolvendo a Iabas, organização social contratada para a instalação de hospitais de campanha, e servidores da cúpula da gestão do sistema de saúde do estado. A direção da organização social diz que forneceu às autoridades todas as informações e documentos solicitados.
Reportagem do UOL mostrou na semana passada que a Iabas já recebeu ao menos R$ 256,5 milhões pela implantação e gestão de hospitais de campanha.
O que disse Witzel sobre as suspeitas de fraude
Em nota, Witzel negou participação em irregularidades, disse estar à disposição da Justiça para esclarecer os fatos. Ele também fez ataques ao presidente Jair Bolsonaro. "A interferência anunciada pelo presidente da República está devidamente oficializada", escreveu.
Na semana passada, o governador do Rio disse que todos os contratos com as empresas serão auditados e terão os pagamentos suspensos durante a apuração. Caso irregularidades sejam encontradas, os vínculos serão encerrados, afirmou Witzel.
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