Topo

Esse conteúdo é antigo

Bolsonaro põe novamente em dúvida votação: 'Não serão 2 ou 3 que decidirão'

Do UOL, em São Paulo

30/03/2022 10h20Atualizada em 30/03/2022 16h28

Apesar de uma fraude nas eleições com urnas eletrônicas nunca ter sido comprovada, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a lançar dúvidas sobre o resultado eleitoral ao afirmar hoje que os votos da disputa deste ano "serão contados" e que "não serão dois ou três que decidirão como serão contados esses votos". As declarações foram dadas durante uma cerimônia em Parnamirim (RN), na região de Natal.

"Nós defendemos a democracia, a liberdade, e tudo nós faremos, até com sacrifício da própria vida, para que esses direitos sejam relevantes e cumpridos, de fato, no Brasil", disse o presidente.

Com a urna eletrônica, a contagem dos votos é feita automaticamente pelo próprio equipamento logo após o encerramento da votação. Depois, os resultados são transmitidos por meio de uma rede privada para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), onde são somados por um supercomputador. Cada urna também emite boletins com o resultado da votação naquele equipamento específico, e este documento pode ser confrontado com a soma feita pelo TSE.

As urnas eletrônicas são auditáveis e este procedimento é feito durante a votação. O processo é chamado Auditoria de Funcionamento das Urnas Eletrônicas (ou "votação paralela"). Na véspera da votação, juízes eleitorais de cada TRE (Tribunal Regional Eleitoral) fazem sorteios de urnas já instaladas nos locais de votação para serem retiradas e participarem da auditoria.

Em agosto do ano passado, numa derrota para o presidente, o plenário da Câmara dos Deputados rejeitou proposta que pretendia incluir um módulo de voto impresso ao lado das urnas eletrônicas a partir das eleições deste ano. A votação ocorreu no mesmo dia que um desfile inédito de blindados na Praça dos Três Poderes, em Brasília, gerou protestos, principalmente da oposição.

No ano passado, o então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso, anunciou a criação de uma comissão de transparência das eleições e convidou as Forças Armadas a participarem. A presença de um representante tem como um de seus efeitos esvaziar um eventual discurso de golpe, declarou o ministro em entrevista à revista Veja, em setembro.

Bolsonaro havia amenizado o tom no ano passado sobre o assunto, após uma crise institucional e passou a chancelar o atual sistema de votação.

Em 2022, no entanto, voltou à carga. No início de janeiro, após ter alta hospitalar, o mandatário já havia indicado — mais uma vez sem apresentar provas — que existiriam supostas "fragilidades" no sistema eleitoral.

"Bem contra o mal"

Bolsonaro chegou ao evento montado em um cavalo branco e repetiu que a luta dele é "do bem contra o mal". "Cada vez mais a população entende quem está do lado do bem e quem está do lado do mal. A luta não é da esquerda contra a direita, mas do bem contra o mal e bem sempre venceu. Dessa vez não será diferente, o bem vencerá", disse.

O presidente vem investindo no discurso do "bem contra o mal" desde o último domingo (27), quando participou de um evento eleitoral do PL no Distrito Federal, que pretendia ser o lançamento da pré-candidatura à reeleição do presidente. A cerimônia foi alterada na véspera, sob o risco de ferir a legislação eleitoral.

No evento de hoje, imagens mostram o presidente chegando ao local da cerimônia em um cavalo branco com a bandeira do Brasil. Ao lado dos ministros Fábio Faria (Comunicações), Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e João Roma (Cidadania), Bolsonaro participou de um evento de inauguração de uma estação de VLT na cidade. Marinho, que é potiguar, vai concorrer a uma vaga no Senado pelo estado.

A cerimônia com a participação do presidente faz parte da agenda que se intensificou nos estados do Nordeste. De acordo com a pesquisa Datafolha divulgada na última semana, 52% dos entrevistados na região reprovam a gestão do governo federal.

Na semana passada, Bolsonaro esteve no Recife (PE) e em Quixadá (CE). Após o evento de hoje, em Parnamirim, ele segue para Baixa Grande do Ribeiro, no Piauí, a quase 600 km de Teresina. A cidade tem 11.670 habitantes, de acordo com dados estimados de 2020.

Novos ministros

Em pronunciamento ainda no evento em território potiguar, Roma anunciou que hoje será o último dia dele como ministro. Ele deve disputar o governo da Bahia.

Onze ministros devem deixar o governo até amanhã para disputar as eleições deste ano, como Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos). O prazo de desincompatibilização termina em 2 de abril.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.