EUA reagem a desconfiança de Bolsonaro sobre eleições americanas
A embaixada dos Estados Unidos no Brasil reagiu hoje a declarações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que demonstrou ter desconfiança em relação às eleições americanas, durante entrevista ao site de notícias "SBT News", nesta terça-feira (7).
"Eu não vou entrar em detalhes na soberania de outro país. Agora, o [ex-presidente americano Donald] Trump estava muito bem e muita coisa chegou para a gente... que a gente fica com o pé atrás. A gente não quer que aconteça isso no Brasil", afirmou Bolsonaro, na ocasião.
Em nota enviada ao UOL, nesta quarta-feira (8), a embaixada americana disse que o país tem orgulho por manter "eleições livres e confiáveis" e com um "processo minucioso", resistente ao "desafio do tempo".
As eleições são a expressão mais visível de uma democracia, e os Estados Unidos têm orgulho da longa história de eleições livres, justas e confiáveis que passam por um processo minucioso e resistem ao desafio do tempo. Embaixada dos Estados Unidos, em comunicado
Em maio, Elizabeth Frawley Bagley, indicada pelo governo do presidente Joe Biden para ser embaixadora dos EUA no Brasil, destacou a "base institucional" brasileira e afirmou estar ciente de que não será fácil o pleito local.
"O Brasil é uma democracia, tem instituições democráticas, sistema eleitoral democrático, tem Judiciário e Legislativo independentes, tem liberdade de expressão e de reunião. Eles têm todas as instituições democráticas de que precisam para ter uma eleição livre e justa", disse ela, durante sabatina ao Senado americano.
"Sei que não será um momento fácil por causa de muitos dos comentários dele (Bolsonaro). Apesar de todos esses comentários, há uma verdadeira base institucional, e penso que o que vamos continuar a fazer é mostrar a nossa confiança e a nossa expectativa de que terão eleições livres e justas. Estamos fazendo isso em todos os níveis", acrescentou.
Bolsonaro ataca Justiça Eleitoral do Brasil
Ainda durante a entrevista ao "SBT News", o presidente também acusou a Justiça Eleitoral brasileira de "perseguição" contra o deputado estadual Fernando Francischini (União-PR), que foi condenado por ter afirmado que as urnas foram fraudadas para impedir o voto em Bolsonaro em 2018. Francischini está com um processo de cassação em julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal).
"E digo mais: a opinião dele é exatamente igual à minha. Igual à minha. Tá? Porque vários vídeos chegavam para mim, chegou para ele também, de pessoas que iam votar e, quando apertavam o número 1, já dava por encerrada a votação e aparecia a foto do candidato 13, o Haddad, ali do lado", disse o presidente sobre a eleição de 2018, da qual ele saiu vitorioso.
A declaração de Bolsonaro sobre as urnas é falsa. Uma checagem feita pelo Projeto Comprova, na ocasião, apontou que vários eleitores não encontraram Bolsonaro nas urnas porque digitavam o número 17 ao votarem para governador, e não presidente. Isso também foi esclarecido pelo TRE-MT. Já os vídeos em que o nome de Haddad aparece quando se digita o número de Bolsonaro são montagens, conforme publicado pelo UOL também na ocasião
Em outubro do ano passado, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidiu, por 6 votos a 1, condenar Francischini à perda do mandato. No dia da eleição em 2018, a 10 minutos do fim do horário de votação, o parlamentar fez uma transmissão ao vivo e afirmou que "fizeram algum cambalacho pro Jair Bolsonaro não ganhar essa eleição no primeiro turno", algo que o presidente já sustentou em várias oportunidades.
Com a condenação, Francischini se tornou o primeiro político do país a ser cassado por divulgar informações falsas sobre o sistema eleitoral. A decisão, no entanto, acabou revertida pelo ministro Nunes Marques, na última quinta, com o argumento de que ainda não havia, em 2018, regras claras que proibissem a conduta do deputado.
Nunes Marques levou a discussão para a 2ª Turma do STF (Supremo Tribunal Federal), que manteve a cassação do deputado.
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