Quem é Silvinei Vasques e o que aconteceu no 2º turno para ele ser preso?

A Polícia Federal prendeu hoje o ex-diretor-geral da PRF Silvinei Vasques em operação para investigar o suposto uso da máquina pública para interferir no processo eleitoral, quase dez meses depois do segundo turno.

Quem é Silvinei Marques

Considerado um "bolsonarista" dentro da PRF, ele foi nomeado para o cargo mais alto da corporação em abril de 2021. A indicação do nome partiu do senador Flávio Bolsonaro (PL), filho do então presidente Jair Bolsonaro (PL). Vasques só deixou o cargo em 20 de dezembro, faltando 11 dias para o fim do governo. Três dias depois, a PRF concedeu aposentadoria voluntária a ele, que tinha 47 anos na época. Sua aposentadoria é integral, o que significa que ele segue recebendo o mesmo valor de quando exercia o cargo, algo em torno de R$ 23 mil.

Vasques entrou na corporação em 1995. Natural de Ivaiporã (PR), e é graduado em Ciências Econômicas, em Direito e em Administração de Empresas.

Antes de se tornar chefe da PRF, era superintendente da corporação no Rio de Janeiro. Também foi coordenador-geral de operações e superintendente em Santa Catarina. Ele também exerceu o cargo de secretário municipal de segurança e defesa social do município de São José (SC).

Foi condecorado com a medalha de Ordem do Mérito do Ministério da Justiça no ano passado. O evento contou com a presença de Bolsonaro. Segundo o governo, o objetivo da condecoração é agraciar autoridades que prestam notáveis serviços ao Ministério.

Ele editou uma portaria para revogar o funcionamento e as competências das Comissões de Direitos Humanos da PRF. Dias depois, uma ação de agentes em Umbaúba (SE) resultou na morte de Genivaldo de Jesus Santos, um homem negro de 38 anos. Ele foi abordado e colocado em uma viatura onde foram lançadas bombas de gás lacrimogênio. Segundo laudo do IML (Instituto Médico Legal), a causa da morte foi "insuficiência aguda secundária a asfixia".

Vasques também foi condenado por agredir um frentista em 2000, em Goiás. O homem teria se recusado a lavar um carro da corporação e recebeu socos do policial. Por causa disso, a União foi obrigada a pagar uma indenização de R$ 50 mil, conforme mostrou reportagem do UOL de 2021 — na ocasião, a PRF sustentou que ele tinha direito à ampla defesa, e que, caso seja "condenado em todas as instâncias, o mesmo irá arcar, de forma imediata, com o dever de ressarcir a União".

Apoio a Bolsonaro, bloqueios no Nordeste e aposentadoria

Silvinei Marques, então diretor da PRF, postou foto com o presidente Jair Bolsonaro durante a corrida eleitoral
Silvinei Marques, então diretor da PRF, postou foto com o presidente Jair Bolsonaro durante a corrida eleitoral Imagem: Reprodução
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Um dia antes do segundo turno, Vasques publicou no Instagram uma mensagem de apoio a Bolsonaro. Ele postou uma foto da bandeira do Brasil com os dizeres "Vote 22 - Bolsonaro Presidente".

No dia seguinte, ele foi intimado pelo TSE a dar explicações sobre operações nos estados. Elas foram realizadas principalmente no Nordeste, região onde Lula (PT) tinha vantagem sobre Bolsonaro, mesmo após a proibição de qualquer operação que afetasse o transporte público dos eleitores.

O ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, ameaçou prender Vasques naquele dia. Conforme revelou a revista Piauí, em uma conversa na sede do tribunal, Moraes disse que prenderia o então diretor da PRF caso o órgão não liberasse as vias bloqueadas por blitze em 20 minutos.

Ele se tornou réu por improbidade administrativa em novembro pelo pedido de votos a Bolsonaro. Dias antes, o MPF (Ministério Público Federal) havia pedido seu afastamento do cargo, argumentando que ele fez uso indevido do cargo.

Primeiro a depor na CPI do 8/1

Vasques prestou depoimento em 20 de junho. Ele negou que a PRF tenha agido para atrapalhar as eleições — disse que ação coordenada para impedir a votação seria impossível. Em ao menos quatro oportunidades ele disse informações falsas, conforme apontou a checagem da Agência Lupa. A comissão aprovou a quebra de sigilo dele em julho.

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Temos 13 mil policiais, grande parte dos nossos policiais também eram eleitores do presidente Lula. Além disso, é um crime impossível, que não ocorreu, não tem como. Como falaríamos com 13 mil policiais explicando essa forma criminosa sem ter uma conversa de WhatsApp, Telegram, sem uma reunião, sem nenhum email enviado? Silvinei Vasques, em depoimento à CPMI em 20 de junho

A comissão apresentou ao STF documento no qual afirma ter identificado indícios de que Vasques teria participado de atos preparatórios dos ataques golpistas. O documento assinado pelo presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), foi encaminhado à presidente do STF, ministra Rosa Weber, após a defesa de Silvinei solicitar que a Corte anulasse as quebras de sigilo bancário, telefônico e telemático aprovadas pelo colegiado.

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