Caso das joias: entenda a operação da PF nas casas do pai de Cid e Wassef
A operação da Polícia Federal que investiga desvios de joias e outros bens por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), cumpriu na manhã de hoje mandados de busca e apreensão nos endereços residenciais do general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, pai de Mauro, e do advogado Frederick Wassef, que já fez a defesa de Bolsonaro.
O que se sabe sobre a investigação até agora
A PF reuniu indícios de que o pai de Cid participou da venda dessas joias e chegou a emprestar sua conta bancária no exterior para recebimento dos valores dessas transações.
A investigação também indica que Wassef entrou no esquema para recomprar um dos relógios e devolvê-los ao TCU (Tribunal de Contas da União) quando as apurações começaram a mirar as joias dadas a Bolsonaro.
Os mandados de busca e apreensão foram autorizados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) como parte do inquérito das milícias digitais e configuram crimes de peculato e lavagem de dinheiro, segundo a PF. As ações foram executadas em Brasília, São Paulo e Niterói (RJ).
Os investigados são suspeitos de usar a estrutura do governo brasileiro "para desviar bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro, por meio da venda desses itens no exterior", diz a PF.
A defesa dos alvos da operação e a de Bolsonaro não se manifestou. Citado no relatório da PF em razão de uma convesa com Mauro Cid, em 15 de março, o advogado do ex-presidente, Fábio Wajngarten, afirmou hoje que ele se refere à entrega voluntária de joias ao TCU quando diz que seria necessária uma antecipação.
Quem é o general Mauro Cesar Lourena Cid
O pai de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, foi colega de Bolsonaro nas turmas de cadetes da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) nos anos 1970.
A relação do general da reserva com o ex-presidente começou na década de 1970, quando os dois foram colegas na Aman, em Resende, no Rio de Janeiro.
No governo de Bolsonaro, Lourena Cid ocupou um cargo federal em Miami. Ele dirigiu o Departamento de Educação e Cultura do Exército e, em 2019, passou à reserva para ser chefe da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) em Miami, durante o início do governo de Bolsonaro — onde ficou até o início deste ano.
Qual o envolvimento de Lourena Cid no caso das joias
A PF identificou o general Lourena Cid no reflexo de uma foto usada para negociar esculturas recebidas como presente oficial.
As fotos da peças foram usadas para negociar, nos Estados Unidos, os presentes dados a Bolsonaro por autoridades estrangeiras. As imagens estão no despacho do ministro do STF Alexandre de Moraes, responsável por autorizar a ação de hoje.
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Quero receberAs esculturas — de uma árvore e de um barco — foram transportadas aos EUA no avião presidencial que levou Bolsonaro ao país, às vésperas do fim de seu mandato, segundo a PF. Com as peças em solo americano, Cid pediu ao pai, que morava em Miami, que fosse às lojas de joias para tentar vender as peças — de acordo com mensagens obtidas pela PF no celular do tenente-coronel.
Vendas em Miami
A mala contendo os dois estojos com os artefatos foi levada de Orlando, onde o avião com Bolsonaro pousou em dezembro, para Miami, a 390 km dali, por Cristiano Piquet, filho do tricampeão mundial de Fórmula 1 e apoiador de Jair Bolsonaro, Nelson Piquet.
Segundo mensagens trocadas entre pai e filho, o general levou as esculturas a duas casas compradoras de ouro em Miami. Depois, para o representante de uma firma especializada em leiloar joias de alto padrão em Nova York.
No dia 18 de janeiro, após as tentativas frustradas, o ajudante de ordens desabafa, por mensagem, com Marcelo Câmara, outro assessor de Bolsonaro: "Aquelas duas peças que eu trouxe do Brasil, aquele navio e aquela árvore, elas não são de ouro. Elas têm partes de ouro, mas não são todas de ouro (...) Então eu não estou conseguindo vender".
Mais de um mês depois, em 1º de março, em outra conversa com Marcelo Câmara, Cid explicou por que Jair Bolsonaro não quis ficar com as duas esculturas: "Ele não pegou porque não valia nada".
Bolsonaro receberia dinheiro em espécie das joias
Para a PF, os recursos obtidos com a venda das joias dadas ao governo eram repassados para Bolsonaro em dinheiro vivo.
Em diálogos obtidos no celular de Mauro Cid, a PF encontrou conversas a respeito da entrega de dinheiro vivo a Bolsonaro. Em uma das mensagens, Cid afirmou:
Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que, que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em cash aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente, dar abraço nele ´ne? E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...) Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né
Mauro Cid, em mensagem de áudio enviado por celular
Venda do rolex dado a Bolsonaro
Mauro Cid tentou vender um relógio da marca Rolex por US$ 60 mil (cerca de R$ 293 mil, na cotação de hoje). A informação foi divulgada por documentos enviados à CPI do 8 de Janeiro. Os documentos mostram a troca de emails de Mauro Cid para vender o relógio.
Bolsonaro recebeu o relógio em 30 de outubro de 2019 durante almoço oferecido pelo rei da Arábia Saudita à comitiva brasileira. Em 11 de novembro, foi realizado um registro do Rolex como "acervo privado" no Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do gabinete da Presidência da República. Posteriormente, em 6 de junho de 2022, consta a liberação do relógio.
No mesmo dia, Mauro Cid trocou emails para tentar vender o relógio por US$ 60 mil. As informações são de membros da CPI.
Rolex recomprado para devolução no TCU
A investigação da PF constatou que o relógio Rolex, que integrava o kit de joias sauditas recebidas por Bolsonaro, foi vendido nos Estados Unidos e recomprado por um preço mais alto após o TCU (Tribunal de Contas da União) ordenar a devolução dos presentes que o ex-presidente ganhou.
De acordo com a PF, o general Mauro Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid vendeu o Rolex e outro relógio de luxo por US$ 68 mil (cerca de R$ 326 mil, na cotação atual).
Depois da determinação do TCU, o advogado Frederick Wassef recomprou o objeto. Segundo informações da polícia, ele precisou pagar um valor maior do que aquele obtido na venda.
R$ 1 milhão com venda das peças
A PF calcula que os aliados do ex-presidente Bolsonaro tenham obtido ao menos R$ 1 milhão com as vendas das joias.
Os valores totais envolvidos ainda estão sob investigação, porque parte desses bens acabou sendo recomprada pelos investigados por causa da necessidade de devolução ao Tribunal de Contas da União (TCU), que passou a mirar os presentes dados a Bolsonaro.
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