Decisão do STF complica ambição do PL de eleger mil prefeitos este ano
O STF proibiu o presidente do PL, maior partido de oposição, de falar com seu maior cabo eleitoral, o ex-presidente Jair Bolsonaro. A situação complica o planejamento para a campanha municipal, que tem como meta eleger mil prefeitos.
O que vai acontecer
A definição de chapas para concorrer a prefeituras e a formação de alianças está a pleno vapor. Ocorre que o ministro do STF Alexandre de Moraes impediu Bolsonaro de conversar com os demais investigados por tramar um golpe de Estado, o que inclui Valdemar Costa Neto, presidente do PL.
Senadores reclamam de prejuízos porque, sem o olho no olho, fica mais difícil e trabalhoso planejar e executar estratégias eleitorais. Jorge Seif (PL-SC) mencionou um "consórcio" entre STF e esquerda para atrapalhar o desempenho da oposição.
A decisão do STF obriga também uma mudança na rotina dos dois principais caciques do PL. Ambos despacham na sede do partido, um prédio de alto padrão em Brasília, e têm escritórios próximos. A manutenção da medida obrigaria que um deles mudasse o local de trabalho.
A disputa em São Paulo é um exemplo das consequências da proibição. Até o momento, o PL não tem uma nome para ser vice na chapa do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Além disso, Bolsonaro e Valdemar discordam em relação ao perfil do indicado. A decisão vai sair sem a dupla poder conversar.
No Rio de Janeiro, o pré-candidato escolhido é investigado pela Polícia Federal. O deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) foi alvo da PF na investigação da Abin paralela e não está claro se terá condições de concorrer. Em caso de inviabilidade, Bolsonaro não poderia conversar com Valdemar sobre o substituto.
Há também brigas locais que precisam de mediação. Em João Pessoa, a indicação do ex-ministro da Saúde de Bolsonaro Marcelo Queiroga não é vista com bons olhos por lideranças locais.
Diálogo com STF
O senador Jorge Seif defende procurar o STF para reverter a medida. Ele não fala em entrar com uma ação judicial, mas sim em recorrer ao diálogo com os ministros, argumentando que é inconcebível o presidente de um partido não poder falar com a principal liderança política.
Seif também considera necessário discutir o assunto com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ele disse que o argumento seria o de apelar ao bom senso e demonstrar como a proibição de Bolsonaro e Valdemar se falarem é incorreta, prejudica a oposição e a democracia.
Mas o fato é que, até agora, o PL não sabe como reagir à determinação do STF. Líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN) declarou que ainda não houve tempo de refletir sobre a situação.
Caso a decisão não seja revertida, serão necessários interlocutores para fazer as informações circularem entre os caciques, avalia o senador Carlos Portinho (PL-RJ). Líder do partido no Senado, o parlamentar se colocou a disposição para fazer esse papel.
O deputado Marco Feliciano (PL-SP) demonstrou otimismo e disse que logo "tudo se ajeita". Ele acredita também que a proibição de Bolsonaro falar com Valdemar contribui para unir o partido.
Mil prefeitos para emparedar STF
Um desempenho notável na eleição para prefeitos faz parte da estratégia de longo prazo do bolsonarismo. A ideia é vencer em pelo menos mil municípios para permitir a eleição de uma grande bancada para o Congresso na campanha de 2026.
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Quero receberO foco é eleger cerca de 30 senadores. Um número elevado de prefeitos é considerado essencial para alcançar a meta, por eles serem os principais cabos eleitorais regionais.
O alvo final é o STF. Cabe ao Senado votar indicação e impeachment de ministros do STF. Os senadores também têm grande capacidade de pressionar o Supremo e, no entender do bolsonarismo, esse seria o caminho para "equilibrar" as forças políticas.
Com um número tão alto de senadores, também caberia ao PL a presidência da Casa. Dessa forma, eles poderiam controlar a pauta de votações e ganhariam relevante poder político.
Oposição fala em perseguição
O senador Humberto Costa (PT-PE) pediu a cassação do registro do PL. O requerimento foi encaminho hoje à Procuradoria-Geral da República.
Aliada à operação de hoje, a solicitação do petista alimentou o discurso de perseguição contra o bolsonarismo. O senador Magno Malta (PL-ES) declarou que estão se criando narrativas para tirar Bolsonaro da política.
O deputado Marco Feliciano elencou as operações recentes para dizer que o desejo é acabar com a oposição. Nas últimas semanas, os alvos foram os deputados Alexandre Ramagem (PL-RJ), Carlos Jordy (PL-RJ) e Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente.
O discurso para a militância é de que o objetivo das operações é prejudicar o desempenho eleitoral dos aliados de Bolsonaro. A tática é usada desde a época em que o ex-presidente estava no Planalto.
Operação atinge núcleo duro de Bolsonaro
A operação Tempus Veritatis mira suposta organização criminosa que tentou dar um golpe de Estado para manter Bolsonaro na Presidência. O próprio Bolsonaro teria pedido e aprovado alterações na minuta que previa o golpe.
Segundo a PF, o grupo se dividiu em núcleos para disseminar informações falsas sobre fraude nas eleições de 2022. A ação aconteceu antes mesmo do pleito para "viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital".
O primeiro eixo trabalhou para construir e propagar a versão de fraude nas eleições. O grupo espalhou mentiras sobre vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação. Segundo a PF, o discurso é repetido pelos investigados desde 2019 e continuou após a vitória do presidente Lula (PT).
O segundo eixo consistiu na prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito por meio de um golpe de Estado. Segundo a PF, o grupo tinha apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível.
Defesa do ex-presidente nega tentativa de golpe
Em nota divulgada ontem, advogados do ex-presidente declararam "indignação" e "inconformismo" com as medidas cautelares deflagradas hoje.
Eles classificaram a apreensão do passaporte de Bolsonaro como "absolutamente desnecessária",
Também alegaram que o ex-presidente não compactuou "com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam".
UOL revelou que Bolsonaro recebeu minuta, segundo Cid
Em setembro de 2023, UOL revelou que Mauro Cid contou, em sua delação premiada, que Bolsonaro recebeu uma minuta de golpe preparada pelo então assessor internacional Filipe Martins, logo após perder as eleições para Lula.
Segundo a reportagem do colunista Aguirre Talento, na ocasião Cid também revelou aos investigadores que Bolsonaro consultou os comandantes das Forças Armadas sobre plano de golpe de Estado. A trama teve apoio do comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, e encontrou resistência dos comandantes da Aeronáutica e do Exército.
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