Lula evita críticas a Maduro desde que assumiu; veja o que ele já disse
Desde o início de seu terceiro mandato, em janeiro de 2023, o presidente Lula (PT) tem evitado fazer críticas diretas a Nicolás Maduro, ditador da Venezuela reeleito neste fim de semana em processo contestado.
O que aconteceu
Antes mesmo de tomar posse, governo Lula anunciou que trabalharia para reconstruir laços com a Venezuela, rompidos na gestão de Jair Bolsonaro (PL). "O presidente me instruiu que restabelecêssemos as relações com a Venezuela. Faremos a partir do dia 1º (de janeiro)", disse o chanceler Mauro Vieira em dezembro de 2022.
Lula já tinha boas relações com Hugo Chávez, que se manteve no poder na Venezuela por 14 anos, nos seus dois primeiros mandatos como presidente do Brasil.
Entretanto, relação com o país vizinho passa por testes. Houve a crise em Essequibo, na Guiana, em dezembro de 2023, e, mais cedo neste mês, um ataque direto de Maduro ao sistema eleitoral brasileiro. O governo Lula não reconheceu, até o momento, a reeleição de Maduro, e diz aguardar as atas oficiais do pleito.
Veja linha do tempo da relação do governo brasileiro com a Venezuela desde 2023:
29.mai.2023 - Maduro vem ao Brasil pela primeira vez desde 2015. Venezuelano veio a Brasília para encontro proposto por Lula com demais líderes sul-americanos. Em declaração à imprensa, o presidente disse que a visita era um "momento histórico", e classificou como "narrativa" a visão de que a Venezuela seria um país autoritário.
Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela, de antidemocracia e do autoritarismo. Eu vou em lugares que as pessoas nem sabem onde fica a Venezuela, mas sabe que a Venezuela tem problema na democracia. É preciso que você construa a sua narrativa e eu acho que, por tudo que conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que a que eles têm contado contra você.
Lula a Maduro em maio de 2023
29.jun.2023 - "Conceito de democracia é relativo", diz Lula. Questionado sobre por que não considera a Venezuela uma ditadura, Lula relativizou críticas a Maduro.
A Venezuela tem mais eleições do que o Brasil. O conceito de democracia é relativo para você e para mim. [...] Quem quiser derrotar o Maduro, derrote nas próximas eleições. Agora vai ter eleições. Derrota e assuma o poder. Vamos lá fiscalizar. Se não tiver uma eleição honesta, a gente fala.
Lula em entrevista à Rádio Gaúcha em junho de 2023
7.dez.2023 - Lula diz que está "cada vez mais preocupado" com a crescente tensão entre Venezuela e Guiana. O país de Maduro reivindicou Essequibo, província guianense rica em ouro e petróleo, e ameaçou invasão. Uma semana depois, os dois países vizinhos se comprometeram a "não utilizar a força em nenhuma circunstância".
1.mar.2024 - Lula e Maduro se encontram em reunião da Celac. Líderes tiveram reunião após participarem de cúpula em São Vicente e Granadinas, no sul do Caribe. Em entrevista, Maduro disse que a reunião foi "muito boa".
6.mar.2024 - Lula pede "presunção de inocência" para Maduro. A fala aconteceu durante evento no Palácio do Planalto com o presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez.
O que eu posso esperar? Que haja as eleições para a gente saber se elas foram democráticas ou não. A gente não pode já começar a jogar dúvida antes de as eleições acontecerem. Porque aí começa a ter um discurso de que vai prever antecipadamente que vai ter problema. Nós temos que garantir a presunção de inocência até que haja as eleições.
Lula em março de 2024
26.mar.2024 - Governo afirma preocupação com eleição na Venezuela. Após a candidata de oposição Maria Corina ser impedida de concorrer, Itamaraty publicou uma nota oficial.
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Quero receberEsgotado o prazo de registro de candidaturas para as eleições presidenciais venezuelana, na noite de ontem, 25/3, o governo brasileiro acompanha com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral naquele país.
Ministério das Relações Exteriores do Brasil em março de 2024
No mesmo dia, a chancelaria venezuelana disse que a nota do governo brasileiro era "cinzenta e intervencionista", e parecia ter sido ditada pelos Estados Unidos. O comunicado foi compartilhado pelo ministro venezuelano Yvan Gil nas redes sociais, em português.
O Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela repudia o comunicado cinzento e intervencionista redigido por funcionários da chancelaria brasileira, que parece ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, no qual? pic.twitter.com/gyWFTbBxFT
-- Yvan Gil (@yvangil) March 26, 2024
28.mar.2024 - Lula diz que situação na Venezuela é grave e acompanhará eleições. O presidente afirmou que recebeu a notícia da candidata impedida na Venezuela "com surpresa".
É grave que a candidata não possa ser candidata. [...] Não tem explicação jurídica, explicação política, você proibir um adversário de ser candidato. Aqui, é proibido proibir a não ser que tenha posição judicial. O Brasil vai tentar assistir essa eleição. Não quero nada melhor nem pior: quero que as eleições sejam feitas igual a gente faz no Brasil. Quem quiser participar participa.
Lula em março de 2024
5.jun.2024- Lula e Maduro falam por telefone; brasileiro pede "ampla presença de observadores" nas eleições. Lula "ressaltou a importância de contar com ampla presença de observadores internacionais" na conversa, segundo comunicado do Palácio do Planalto. A conversa dos dois aconteceu dias após a autoridade eleitoral venezuelana retirar seu convite à União Europeia para observar as eleições.
18.jul.24 - Maduro fala em 'banho de sangue' se não vencer eleição. Durante comício em Caracas, ele alertou para a possibilidade de um "banho de sangue" e uma "guerra civil" se não vencesse.
O destino da Venezuela no século 21 depende de nossa vitória no dia 28 de julho. Se não querem que a Venezuela caia em um banho de sangue, em uma guerra civil fratricida causada pelos fascistas, precisamos garantir a maior vitória da história eleitoral do nosso povo
Nicolás Maduro, em 18 de julho de 2024
19.jul.24 - 'Venezuela elege quem quiser', diz Lula . Após a fala de Maduro sobre "banho de sangue", Lula disse que a relação que tem com o país é "de Estado".
Por que que eu vou querer brigar com a Venezuela, com a Nicarágua, com a Argentina? Eles que elejam os presidentes que eles quiserem. O que me interessa é a relação de Estado.
Lula durante evento em São José dos Campos (SP)
22.jul.24 - Lula diz ter ficado assustado com fala de Maduro. Três dias depois da declaração anterior, presidente reviu a posição em entrevista a agências de notícia internacionais.
Eu fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto. O Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica; quando você perde, você vai embora.
Lula, em 22 de julho de 2024
23.jul.24 - 'Quem se assustou que tome um chá de camomila', diz Maduro, sem mencionar Lula nominalmente.
Eu não disse mentiras. Apenas fiz uma reflexão. Quem se assustou que tome um chá de camomila. Na Venezuela vai triunfar a paz, o poder popular, a união cívico-militar-policial perfeita.
Nicolás Maduro em 23 de julho
No mesmo dia, o venezuelano afirmou que as eleições no Brasil não são auditadas, o que é falso.
A Venezuela tem o melhor sistema eleitoral do mundo. [...] Em que outra parte do mundo fazem isso? Nos Estados Unidos? O sistema eleitoral é auditável? No Brasil? Não auditam nenhuma ata. Na Colômbia? Não auditam nenhuma ata.
Nicolás Maduro em 23 de julho
24.jul.2024 - TSE cancela envio de técnicos à eleição da Venezuela. O Tribunal Superior Eleitoral enviaria observadores para acompanhar o processo, mas suspendeu após as falas de Maduro.
Em face de falsas declarações contra as urnas eletrônicas brasileiras que, ao contrário do que afirmado por autoridades venezuelanas, são auditáveis e seguras, o Tribunal Superior Eleitoral não enviará técnicos para atender convite feito pela Comissão Nacional Eleitoral daquele país e acompanhar o pleito do próximo domingo.
TSE em nota de 24 de julho
28.jul.24 - Acontecem as eleições na Venezuela, e autoridades declaram vitória de Maduro por 51,2%, ante 44,2% do adversário, Edmundo González Urrutia. A oposição e líderes internacionais questionam lisura do pleito.
Ganhamos e todos sabem disso. [...] Nosso mensagem de reconciliação e paz continua vigente. Nossa luta continua. Não descansaremos até que a vontade do povo da Venezuela seja refletida. Não vamos aceitar a chantagem de que a defesa da verdade é violência. Violência é ultrajar a verdade.
Maria Corina, líder da oposição a Maduro
29.jul.2024 - Governo brasileiro não parabeniza Maduro, e diz que vai esperar publicação de dados das urnas
O governo brasileiro saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem na Venezuela e acompanha com atenção o processo de apuração. Reafirma ainda o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados. Aguarda, nesse contexto, a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito.
Itamaraty, em nota
30.jul.2024 - Lula diz que "não tem nada de grave" na eleição na Venezuela
Tem uma briga, como vai resolver essa briga? Apresenta a ata. Se ata tiver dúvida entre oposição e situação, oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça tomar o processo. Aí vai ter a decisão, que a gente tem que acatar. Eu estou convencido que é um processo normal, tranquilo. [...] Não tem nada de grave, nada de assustador, vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a 3ª Guerra Mundial.
Lula em entrevista à TV Centro América
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