Por trás do número

Marco simbólico de mais de mil de mortes por dia carrega drama de milhares de vidas interrompidas

Do UOL, em São Paulo Arte/UOL

Covid-19 já é principal causa de mortes no Brasil

Pela primeira vez, o Brasil ultrapassou, ontem, a marca simbólica de mil novos óbitos por covid-19 confirmados num intervalo de 24 horas, um dia depois de ter se tornado o terceiro país com maior número de infectados no mundo.

Na tentativa de conter a pandemia que avança em ritmo acelerado pelo país, o estado mais afetado, São Paulo, antecipou para esta semana, a partir de hoje, dois feriados. A esperança é aumentar os índices de isolamento social para, em 15 dias, começar a ver efeitos no número de mortes que a cada dia batem recordes — ontem, foram 5.147 confirmados apenas no estado.

Com intenção semelhante, diversos estados e municípios já tomam ou consideram tomar medidas mais enérgicas de restrição, como o lockdown, o bloquei total de uma região.

Sem ministro da Saúde desde sexta-feira, o Brasil começa a ver contornos mais graves de uma pandemia que já tirou mais de 316 mil vidas em todo o mundo segunda a OMS (Organização Mundial da Saúde).

Mesmo já sendo esta uma tragédia de certa forma anunciada, o Ministério da Saúde ignorou o número de mortes na entrevista coletiva realizada diariamente para debater o combate à pandemia. Em vez disso, focou nos temas da doação do leite materno e do atendimento remoto a profissionais da saúde e não contou com a presença do ministro interino. Ainda sem mencionar a marca de óbitos, a pasta divulgou à imprensa números de recuperados.

Ontem à noite, após o anúncio das mais de mil mortes, o presidente Jair Bolsonaro fez piada sobre o uso da cloroquina, e não comentou o número de óbitos nem prestou solidariedade às famílias de milhares de vítimas pelo país. Hoje cedo, apenas 12 horas depois, ele escreveu em suas redes sociais lamentando as mortes e falou em "dias difíceis".

Por trás da soma que chega a 271.628 diagnosticados e a 17.408 mortos, há milhares de tragédias humanas — são mães, pais, filhos, amigos, irmãos e vizinhos que não retornarão a seus lares. Há centenas de profissionais de saúde que deram a vida para ajudar os contaminados, além da perda de personalidades como Aldir Blanc e Daniel Azulay.

Em homenagem às vítimas, o UOL reúne aqui alguns desses milhares de casos de dão rosto, história e peso aos números que, como se verá, vão muito além da estatística.

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"Por trás de cada número tem uma história"

A enfermeira Maria Carolina da Silva Novaes, 39, perdeu a mãe e o irmão ao mesmo tempo. Moradores de Praia Grande (SP), ambos morreram em um intervalo de 15 dias. Ela também foi infectada, mas diferente da família, ela se recuperou e já está em casa. "Por trás de cada número que eles falam no óbito tem uma história. Porque não morreu meu irmão. Morreu um pai, um filho, um bom funcionário, morreu o amigo de muitas pessoas. E não morreu só a minha mãe. Morreu a minha mãe, uma esposa, uma avó, uma pastora."

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Vou falar aqui até apagar. Não tem como falar no pv [privado] de ninguém. Vou morrer sentado agonizando aqui

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Evandro Costa Silva, 42, enfermeiro, escreveu aos amigos antes de morrer

Eu, minha mãe, duas cunhadas, uma sobrinha e um irmão testamos positivo. Isso sem falar no meu tio e primos que tiveram contato com a minha avó e não fizeram exames

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Thiago Alves Flor, 36, perdeu o pai e a avó

Estávamos isoladas desde que começou (a pandemia). Só a Uliana saía, mas muito pouco. Ela era muito cuidadosa, usava máscara, álcool em gel, até luva comprou

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Ilma Motta, mãe da jornalista Uliana Motta, 33

Daniele Costa

Técnica de enfermagem gravou vídeo de apelo oito dias antes de morrer

"Meu pai só saiu para ir ao mercado"

Saudável, o segurança particular Edson Oenning, 45, foi liberado por seus patrões do trabalho em abril por causa da pandemia de coronavírus e estava havia quase três semanas em quarentena, junto de sua mulher e três filhos na casa da família, localizada no Brás, região central de São Paulo.

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Elio Soares Peres Neto

Em cinco dias, perdeu o pai e o avô, mortos com covid-19. E ainda tem uma tia internada

Maestro homenageou profissionais da saúde antes de partir

Tentando trazer alegria a profissionais de saúde que, como Danielle e Evandro, deram a vida para salvar tantas pessoas, o maestro Siney Saboia de Moura, 46, conduziu uma homenagem da banda da Guarda Municipal de Macapá. Um mês depois, morreu vítima do novo coronavírus.

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Ele era uma pessoa muito prestativa, que pensava primeiro no próximo e fazia de tudo para ajudar quem mais precisava

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Frei Eliseu sobre o amigo, frei Bruno, de São Paulo

"A cura do meu irmão é algo que comemoramos demais, mas a morte do meu pai destruiu nossa família. Parece que ele esperou para se despedir

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Andressa Aparecida França, filha de Narcizo, morto pela covid-19, e irmã mais nova de Rogério, que se curou

Ela me disse: 'Não te preocupa. Logo, logo isso vai passar'. Eu acho que no fundo ela sabia

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Juan Cáceres, marido de Mara Rúbia Silva Cáceres, 44, morta em Porto Alegre

Manaus: Valas comuns cheias e famílias devastadas

arquivo pessoal

"A gente tem vivido dias de terror. Tudo isso é uma tragédia"

Uma festa de aniversário na noite de 13 de março, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, marcou para sempre uma família. Depois do evento, ao menos 14 convidados tiveram sintomas da covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. Entre os casos, três irmãos, com mais de 60 anos, tiveram complicações graves e morreram pouco mais de duas semanas depois.

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Cheguei na casa dele e o vi roxo com falta de ar e levei na UBS. Dessa vez, o médico solicitou o exame

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Wendeson Felipe Batista, filho de Alessandro Santos Bonifácio, 47, morto em Macapá

O que tenho a dizer para quem não acredita nessa doença é que ela está aqui e dói demais quando é na nossa pele

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Maria Carolina da Silva Novaes, irmã de Luiz Fagner Dias Novaes, 31, morto em São Bernardo do Campo

Magna.tirava dinheiro do próprio bolso para comprar remédios para pacientes. Minha amiga era maravilhosa

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Uma amiga enfermeira sobre a médica Magna Sandra Gomes de Deus, 61, do Rio de Janeiro

Mãe vela o corpo de filho na rua em Macapá

Reprodução/Facebook

"Uma esposa e mãe que não vai mais voltar para casa"

A sargento Carla Nascimento Dias, 46, foi a primeira vítima confirmada da Polícia Militar do Rio. Ela trabalhava como técnica de enfermagem no Hospital Central da Polícia Militar, no bairro do Estácio. A sargento ingressou na Polícia Militar há 22 anos. Era casada e deixou um filho. Na internet, uma amiga postou uma homenagem a Carla. "Uma esposa e mãe que não vai mais voltar para casa, não vai mais dar um beijo no seu marido nem tão pouco [sic] um abraço no seu filho de treze anos. Ela não pôde ficar em casa porque há 22 anos, quando entrou para a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, fez um juramento de servir, proteger e principalmente de salvar vidas."

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Ele era um ser humano único. Uma pessoa que pensava mais nos outros do que nele mesmo. E assim foi até o fim.

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Georgia Dias, define o irmão, o médico Gastão Dias Junior, 52, de Balneário Camboriú

Quando falamos de um familiar, dói na alma. Uma jovem com todo futuro pela frente

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Lucy Ribeiro Santos, prima de Kamylle Ribeiro, 17, morta no Rio

Ela morreu nos braços do marido, dentro do carro, na porta do hospital

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Daniel Costa Moura, primo de Raquel Monteiro de Albuquerque, 48, morta em Belém

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