Coronavírus: Últimas notícias e o que sabemos até esta sexta-feira (17)
A oficialização da mudança no comando do ministério de Saúde em meio à pandemia do novo coronavírus voltou a intensificar o debate em relação ao grau de isolamento que o Brasil deve seguir por causa do impacto na atividade econômica. O novo ministro Nelson Teich indicou mais uma vez hoje, em posse realizada no Palácio do Planalto, que não haverá uma mudança abrupta na orientação de isolamento horizontal do antecessor Luiz Henrique Mandetta.
Porém, ainda ontem, deu sinais de um discurso mais alinhado com o presidente. "Saúde e economia não competem, elas são completamente complementares. Quando você polariza uma coisa dessas, você começa a tratar como se fosse pessoas versus dinheiro, bem versus mal, empregos versus pessoas doentes. E não é nada disso", disse Teich.
Já o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou à carga em seu discurso de que é preciso dar a mesma atenção à economia. Ele afirmou durante a posse que incentivar a abertura do comércio não essencial, que está fechado em vários pontos do país por determinação de prefeitos e governadores, é "uma atitude arriscada, mas necessária para manter o emprego".
"A história lá na frente vai nos julgar. Eu peço a Deus para que nós estejamos certos lá na frente. Então, essa briga de começar a abrir para o comércio é um risco que eu corro, porque, se agravar, vem para o meu colo", afirmou.
Em sentido oposto, alguns governos estaduais e prefeituras já indicam que não pretendem seguir recomendações de Bolsonaro no sentido de afrouxar o isolamento. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), por exemplo, anunciou hoje a prorrogação da quarentena até o dia 10 de maio no estado. Esta é a segunda vez que o político tucano aumenta o prazo.
A principal preocupação de governos e prefeituras é com a sobrecarga dos hospitais. O chefe do Centro de Contingência ao coronavírus em São Paulo, David Uip, disse hoje que o sistema de saúde está sendo pressionado e será ainda mais nos próximos dias. A cidade de São Bernardo do Campo, uma das principais da região metropolitana, já está com 80% dos leitos de UTI reservados para pacientes covid-19 ocupados.
Teich diz que informação é desafio
Para Nelson Teich, o maior número de informações sobre a doença é parte fundamental para que o Brasil tenha sucesso no combate ao novo coronavírus. Porém, estudos têm apontado que a subnotificação é uma realidade decorrente da baixa testagem ainda no país. Neste sentido, o ministro explicou que aumentar as análises será uma das metas, mas isso não significa que todo brasileiro será testado.
"O teste em massa não quer dizer que você vai testar todo mundo. Porque, se a gente fala da Coreia do Sul, por exemplo, que fez testes, ela testou menos que a Itália", declarou ao SBT, indicando que apenas uma maior testagem vai poder mostrar um panorama mais realista da avanço do novo coronavírus no Brasil.
Chama a atenção, no meio desta imprecisão do número de casos, a postura da cidade de São Paulo, que tem adotado uma forma de divulgação diferente à aplicada pelo estado paulista, pelo Ministério da Saúde e pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Ao número total de óbitos confirmados, a prefeitura tem somado os suspeitos, ou seja, aqueles que ainda não tiveram confirmação atestada para a doença causada pelo novo coronavírus.
Isso explica o número três vezes maior do que o oficial verificado em uma postagem no Facebook anteontem que mostrava a divisão por subprefeitura. Ao somar casos confirmados e suspeitos, o município teve 1.207 mortes por covid-19 até o dia 13 de abril. Segundo balanço diário da própria secretaria municipal de saúde, o número de mortes confirmadas no dia era de 456.
Vale lembrar que São Paulo tem cerca de 15 mil testes de covid-19 à espera de análise. Porém, para o professor de Medicina Social Domingos Alves, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, especialista na análise de dados epidemiológicos, a divulgação da soma de óbitos com casos suspeitos é grave por dois motivos: o erro na divulgação e o fato de óbitos poderem estar sendo ignorados em listas oficiais.
"A diferença entre um número e outro é gritante. Seria uma diferença gigantesca no dado nacional. A prefeitura deve uma explicação adequada, pois isto pode justificar o medo da população de que os números reais não estão sendo divulgados. É grave. Seja por um erro da nota, seja pelo boletim que não levou em consideração a nota. É grave de todo jeito", afirmou.
Em entrevista ao UOL, o secretário municipal de saúde de São Paulo, Edson Aparecido, disse que fazer essa soma dos óbitos confirmados pelo novo coronavírus com os suspeitos no mesmo dado é necessária. Ele afirma que não é possível planejar a resposta da cidade à epidemia sem considerar os casos suspeitos.
"Não dá para desconsiderar mais na estratégia esta pessoa que morreu com todas as características clínicas que era de covid-19, que foi testada, mas eu não tenho resultado. Não dá para deixar fora [das estatísticas] para montar uma estratégia da secretaria. Não é um contingente pequeno, é mais de duas vezes o número de mortes confirmadas. Por isso que a gente passou a fazer uma conta só", afirmou.
Bolsonaro melhora humor após saída de Mandetta
Um dia após a demissão de Mandetta, Bolsonaro (sem partido) mudou o humor em relação aos últimos dias e voltou hoje a se divertir com apoiadores que costumam se aglomerar todas as manhãs para ver a saída do comboio presidencial no Palácio da Alvorada.
O mandatário chegou a mostrar uma caneta que trazia em seu bolso, uma referência simbólica à queda do agora ex-ministro da Saúde. Além disso, deu autógrafos e fez piada com o seu time de coração, o Palmeiras.
Em meio à crise instalada pela guerra fria com Mandetta e pelos efeitos da pandemia do coronavírus, Bolsonaro vinha se irritando com manifestações de apoiadores na portaria do Alvorada desde a semana passada.
O tom mais leve foi visto também durante a posse de Teich. Depois de dias de tensão, Bolsonaro e Mandetta mostraram cordialidade na despedida, com o presidente agradecendo o trabalho do ministro.
Porém, uma nova intriga foi intensificada por Bolsonaro: com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM). Os dois trocaram farpas ontem, sendo que o presidente acusou o deputado, em entrevista à CNN Brasil, de conduzir o país "ao caos" e de "enfiar a faca no governo federal".
À mesma emissora, Maia recusou-se a retrucar. Disse que Bolsonaro usa de um "velho truque da política" para tirar o foco da troca de ministros.
Wuhan faz revisão e informa 50% de mortes a mais
A cidade chinesa de Wuhan aumentou em 50% o número de mortos pelo novo coronavírus após revisão anunciada hoje, elevando o total para 3.869. Com o acréscimo, o número total de mortos na China agora é de 4.632.
Wuhan, onde o vírus apareceu pela primeira vez em humanos no final do ano passado, adicionou outras 1.290 mortes às 2.579 contabilizadas anteriormente ontem, refletindo relatórios incorretos, atrasos e omissões, de acordo com uma força-tarefa do governo local encarregada de controlar o coronavírus.
A revisão ocorre em meio a dúvidas sobre a precisão dos dados da China sobre a doença, à medida que os casos globais aumentam.
Ainda na Ásia, o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, disse que ainda é necessário mais distanciamento social depois que ele declarou estado de emergência em Tóquio e outras áreas urbanas há 10 dias. A meta ideal estimada pelo governo é de 80% de isolamento nas grandes cidades.
Abe expandiu o estado de emergência de um mês para todo o Japão ontem, numa tentativa de reduzir o movimento de pessoas antes de um feriado local, a Semana Dourada.
O primeiro-ministro diz que as interações sociais foram reduzidas em 60% no centro de Tóquio e 70% em Osaka, mas ficaram aquém da meta de 80% necessária para diminuir a propagação do novo coronavírus para um nível gerenciável.
África pode ter até 300 mil mortes, diz ONU
Uma estimativa da Comissão Econômica da ONU (Organização das Nações Unidas) para a África aponta que até 300 mil pessoas devem perder a vida e 122 milhões serão contaminadas pelo novo coronavírus no continente.
Os números, apesar de preocupantes, dão conta de uma projeção do melhor cenário possível de combate à covid-19 na África. O estudo também estimou o que aconteceria caso as nações africanas não adotassem medidas especiais por conta da pandemia. Neste cenário, seriam até 3,3 milhões de mortes.
Diante das projeções alarmantes, a África ainda se encontra no estágio inicial de propagação da doença. Por enquanto, o continente tem 18 mil casos confirmados e cerca de 800 vítimas fatais.
Enquanto isso, na Europa o surto dá sinais de estabilização, embora os números continuem em patamares preocupantes. A Espanha, por exemplo, registrou 585 mortes em 24 horas por coronavírus; sendo que o total de óbitos já ultrapassa 19 mil.
No Reino Unido, o número de mortes em hospitais no Reino Unido em decorrência da infecção pelo novo coronavírus aumentou para 14.576. Foram registrados nas últimas 24 horas 847 óbitos, uma leve baixa em relação ao dia anterior, quando 861 pessoas morreram. Ainda segundo o ministério, 341.551 pessoas foram testadas, com 108.692 resultados positivos.
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