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Recorde após recorde, Brasil beira 2.000 mortes pela covid em um dia

Familiar faz foto da cruz de Arnobio Alves Bezerra, 71, vítima da covid-19, no Cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus - EDMAR BARROS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Familiar faz foto da cruz de Arnobio Alves Bezerra, 71, vítima da covid-19, no Cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus Imagem: EDMAR BARROS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Juliana Arreguy e Douglas Porto

Do UOL, em São Paulo

09/03/2021 22h02

Em novo recorde alarmante, o Brasil teve 1.954 mortes por covid-19 registradas nas últimas 24 horas. Só não chegou a 2.000 porque Goiás não atualizou o número estadual por problemas no sistema.

Apontado pela mídia estrangeira como "ameaça global" diante da escalada de casos e óbitos pela doença, o país lida com a superlotação nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e impõe a profissionais de saúde sentenciar quais pacientes serão intubados.

É o 11º dia seguido em que é batido o recorde da média móvel (que calcula uma média de mortes nos últimos sete dias). São em média de 1.572 pessoas mortas pelo coronavírus na semana, pior número apresentado em toda a pandemia. Os dados são do consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte.

São 48 dias com a média móvel acima das mil mortes. Na primeira onda, este fenômeno se repetiu por 31 dias seguidos, até os dados entrarem em queda. A situação é evidentemente mais grave. Não são mil, falamos do dobro. Por dia.

Segundo especialistas, o novo pico da pandemia no Brasil começou a se desenhar por volta de novembro, logo após o relaxamento das medidas de restrições em diversos estados e com uma sequência de feriados. A curva de óbitos disparou a partir das festas de fim de ano e vem batendo recordes desde o fim de fevereiro.

Os recordes da segunda onda

  • Maior número de mortes em 24 h: 1.954 (9/3)
  • Maior média móvel de óbitos: 1.572 (9/3)
  • Maior período com média acima de mil: 48 dias
  • Maior número de óbitos em uma semana: 10.183 (de 28/2 a 6/3)

Estados alcançam maiores marcas

O estado de São Paulo registrou hoje 517 mortes, sua maior marca em 24 h. A média móvel ficou em 298. O coordenador-executivo do Centro de Contingência da Covid-19, João Gabbardo, afirmou, antes da divulgação dos dados no estado, que haveria mais um recorde de mortes causadas pela doença. Ele fez essa previsão no Twitter e aproveitou para criticar o debate político que gira em torno do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do ex-presidente Lula (PT).

O Rio Grande do Sul apresentou 275 mortes hoje, com a média móvel do estado ficando em 169. O Paraná se mantém em escalada, com 206 óbitos, marcando a média móvel com 134 registros. Minas Gerais marca uma alta na média móvel, com cinco dias acima das 130 mortes, registrando hoje 137. A Bahia já está há oito dias com mais de cem mortes na média móvel, apontando hoje 101.

Vinte e um estados, mais o Distrito Federal apresentam alta na média de mortes. Apenas três estão em estabilidade (contando com Goiás, que não divulgou os dados) e dois estão em queda. Das regiões, apenas duas Norte (4%) e Sudeste (12%) estão estáveis. Já Centro-Oeste (37%), Nordeste (70%) e Sul (110%) estão em alta.

O presidente Bolsonaro minimiza a gravidade do contágio desde o início.

Crítico do isolamento social, o chefe do Executivo contraria autoridades sanitárias de todo o mundo ao promover aglomerações, questionar a eficácia do uso de máscaras e insistir em tratamento precoce da doença, embora não exista comprovação cientifica da eficácia desses medicamentos contra a covid-19.

A WMA (Associação Médica Mundial), conforme reportagem do Estado de S. Paulo, atribui a Bolsonaro parte do avanço da doença no país.

Cronograma à brasileira

Em 12 de março de 2020, um dia após a OMS (Organização Mundial de Saúde) decretar a pandemia pela covid-19, o Brasil teve a primeira morte pela doença. No dia 20 do mesmo mês, Bolsonaro a tratou por "gripezinha" em pronunciamento ao vivo. Em novembro, ele chegou a negar que tivesse usado o termo.

Depois da facada, não vai ser gripezinha que vai me derrubar, não. Tá OK?
Presidente Jair Bolsonaro em 20 de março de 2020

Bolsonaro também divulgou erroneamente que a maioria das pessoas era imune ao vírus, que foi impedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) de adotar medidas contra a pandemia e que o uso de cloroquina não provoca efeitos colaterais. Mentiras propositais e imperdoáveis.

Na última semana, a OMS publicou uma diretriz na qual pede fortemente que a hidroxicloroquina não seja usada para tratar a doença preventivamente.

Em agosto, mês no qual o país ultrapassou 100 mil mortes por covid-19, o governo rejeitou a primeira das três ofertas feitas pelo laboratório Pfizer para a compra de vacinas contra a covid-19.

No mês de outubro, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou a compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, mas foi desautorizado por Bolsonaro no dia seguinte. O imunizante, desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, entrou na queda de braço política entre o presidente e o governador João Doria (PSDB-SP).

Mesmo diante do alerta de infectologistas sobre os riscos da falta de restrições nas festas de fim de ano, o governo federal não adotou medidas para tentar frear novas transmissões. Na primeira semana de janeiro, o país ultrapassou as 200 mil mortes pela doença.

Já na primeira quinzena de fevereiro, o contágio voltou a crescer. E ainda não há previsão de parar.

A vida continua, temos que enfrentar as adversidades. Não adianta ficar em casa chorando, não vai chegar a lugar nenhum. Vamos respeitar o vírus, voltar a trabalhar, porque sem a economia não tem Brasil.
Presidente Jair Bolsonaro em 11 de fevereiro de 2021