Topo

Sem compra, estados e Saúde recorrem a 'resto' de CoronaVac para crianças

28.jan.2022 - Criança é vacinada em posto de Campinas (SP); estado adquiriu estoque próprio de CoronaVac - Divugalção/Governo do Estado de São Paulo
28.jan.2022 - Criança é vacinada em posto de Campinas (SP); estado adquiriu estoque próprio de CoronaVac Imagem: Divugalção/Governo do Estado de São Paulo

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

05/02/2022 04h00Atualizada em 05/02/2022 09h01

Estados estão usando o estoque da CoronaVac, negociado pelo Ministério da Saúde no ano passado, para acelerar a vacinação infantil contra covid-19. Sem novo contrato entre o governo federal e o Instituto Butantan —que produz o imunizante—, as unidades federativas recebem doses adquiridas pelo governo federal até setembro de 2021 e que ainda não tinham sido distribuídas.

Além disso, também contam com reservas próprias. Os governos de Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Pará, Piauí e São Paulo —que gerencia o Butantan fizeram compras independentes em setembro e estão usando esses lotes.

Procurados pelo UOL, os estados afirmam estar recebendo doses de CoronaVac de forma fracionada, porém periódica, do governo federal. O Ministério da Saúde informou que enviou 2,6 milhões de unidades nesta semana e pediu mais 10 milhões de doses ao Instituto Butantan —que diz ter lotes para pronta-entrega, mas negocia o preço (leia mais abaixo).

A imunização infantil começou no Brasil em 14 de janeiro, após o Ministério da Saúde enviar doses da Pfizer aos estados. Este imunizante já havia sido liberado para crianças de 5 a 11 anos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 16 de dezembro, mas o ministro Marcelo Queiroga, abriu consulta pública sobre o tema e postergou o início da campanha.

Em 20 de janeiro, a Anvisa aprovou a aplicação da CoronaVac, desenvolvida pelo Butantan em parceria com a chinesa Sinovac, para a faixa etária de 6 a 17 anos —com exceção de imunossuprimidos.

A distribuição de doses para crianças

Sem novas compras desde o ano passado, tanto o ministério quanto os estados tiveram de recorrer aos respectivos estoques da vacina para agilizar a vacinação infantil.

Na última segunda (31), o Ministério da Saúde afirmou ao UOL que já havia distribuído um total de 7,5 milhões de doses para a imunização das crianças:

  • 3,3 milhões da CoronaVac,
  • 4,2 milhões de Pfizer.

Nesta semana, foram repassadas às secretarias estaduais mais 2,6 milhões.

A distribuição foi confirmada por governos estaduais. Secretarias da Saúde disseram receber de forma fragmentada os imunizantes para a vacinação infantil e, enquanto a distribuição não acelera, também usam estoques próprios.

Grande parte desses imunizantes ficou guardada por não ter sido usada para a terceira dose. Em setembro, quando lançou o instrutivo sobre o reforço, o Ministério da Saúde indicou o uso "preferencial" da Pfizer e não citou a CoronaVac. A recomendação foi seguida pela maioria dos estados e municípios, com exceção do estado de São Paulo.

Desde 2020, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e governador João Doria (PSDB-SP), rivais políticos, trocam farpas citando a CoronaVac. O presidente chegou a desautorizar, publicamente, a compra do imunizante, que chama de "vacina chinesa".

Segundo o Painel de Distribuição de Vacinas, do ministério, foram enviadas aos estados 105 milhões de doses de CoronaVac entre 2021 e 2022. Na época das compras, a informação era que o governo federal havia adquirido 100 milhões de doses —46 milhões no primeiro contrato, e 54 milhões no segundo. Devido à interdição pela Anvisa, houve substituição de alguns lotes.

O UOL procurou a pasta para confirmar a quantidade que ainda resta no estoque, mas não teve resposta até o fechamento desta reportagem. Para a imunização do público infantil, o ministério prevê a distribuição total de 70 milhões de doses.

Última entrega para Saúde ocorreu em setembro

A última remessa das 100 milhões de doses de CoronaVac contratadas pela Saúde para distribuição pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações) foi entregue pelo Instituto Butantan em setembro de 2021. Desde então, o ministério não havia mostrado mais interesse pelo imunizante.

Em dezembro, o governo paulista anunciou que 12 milhões de doses de CoronaVac haviam sido reservadas para a vacinação infantil. A gestão de Doria e o Butantan passaram a fazer pressão para a aprovação do imunizante pela Anvisa.

A manobra possibilitou que São Paulo acelerasse a vacinação infantil independentemente do ministério —após a autorização da Anvisa, 4 milhões de doses começaram a ser distribuídas imediatamente aos 645 municípios paulistas.

Até ontem (4), o estado tinha 43% das crianças de 5 a 11 anos vacinadas com a primeira dose (mais de 1,7 milhão), segundo o Vacina Já, plataforma da gestão Doria. No país, a taxa de vacinação deste público está perto de 13%, de acordo com o levantamento do consórcio de veículos de imprensa do qual o UOL faz parte.

Mais 10 milhões de doses

Na última segunda, o ministério pediu a compra de 10 milhões de doses ao Butantan. O laboratório diz ter a remessa pronta para envio, mas falta assinar o contrato.

A Saúde tenta reduzir o preço da vacina, conforme o jornal Folha de S. Paulo apurou. O Butantan ofereceu cada dose por cerca de US$ 7,3 (cerca de R$ 38), enquanto o governo federal pede valor próximo de US$ 7 (quase R$ 37).

De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, o Butantan tem as 10 milhões de doses para pronta-entrega e pode enviar mais 20 milhões adicionais no prazo de 20 a 25 dias.

"O Butantan aguarda a posição do ministério para dar seguimento aos trâmites de fornecimento das vacinas", declarou a secretaria, em nota divulgada na última quarta (2).

Como é a vacina da CoronaVac para crianças e jovens?

  • Mesma formulação aplicada em adultos;
  • Mesma dose adulta: 600 SU em 0,5 ml (SU é a substância que, introduzida no organismo, provoca a formação de anticorpo);
  • Duas doses no intervalo entre duas e quatro semanas;
  • Faixa etária: 6 a 17 anos;
  • Não aplicar em crianças imunocomprometidas, ou seja, com baixa imunidade.