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Não vou "trombar" com Onyx, diz futuro chefe da Secretaria de Governo

Tânia Monteiro e Julia Lindner

Em Brasília

27/11/2018 07h23

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, anunciou nesta segunda-feira (26) que o general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz vai assumir a Secretaria de Governo, que tem entre as suas atribuições a articulação política com o Congresso. Santos Cruz será o terceiro militar com posto relevante no Palácio do Planalto. O general é amigo de longa data de Bolsonaro - integrou sua equipe de pentatlo militar nos anos 1980 - e já exerceu papel de comandante das tropas de paz da ONU no Congo e no Haiti.

Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", o general disse não ver problema em assumir esta função, acrescentando que "não irá trombar" com o futuro ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que estava designado para a negociação entre governo e Congresso.

A escolha de Santos Cruz foi entendida como uma maneira de ajudar a introduzir no governo "uma nova forma de entendimento com os parlamentares", conforme afirmou ao "Estado" um dos integrantes da equipe de Bolsonaro.

O presidente eleito tem dito que seu governo não vai adotar o chamado "toma lá, dá cá" na relação com os parlamentares. Essa ideia estaria casada com o modelo de escolha dos ministros "políticos" de Bolsonaro - o futuro governo, até o momento, tem ignorado os "caciques" dos partidos e buscado indicações nas chamadas "bancadas temáticas" do Congresso.

No entanto, ainda há dúvidas sobre as atribuições do general. A decisão de Bolsonaro causou agitação no entorno de Onyx, que está ameaçado de perder a coordenação de governo - responsabilidade hoje da Casa Civil - para o vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão. Uma das justificativas para isso era exatamente liberar Onyx para a articulação com os parlamentares.

Em várias oportunidades, o próprio Onyx já havia dito que a Secretaria de Governo seria incorporada pela Casa Civil. A secretaria atualmente possui status de ministério. Ao anunciar pelo Twitter a escolha de Santos Cruz, Bolsonaro não deixou claro se a pasta da articulação política manterá o padrão de ministério.

Santos Cruz disse que vai conversar com o presidente eleito após uma viagem marcada para Bangladesh. Por enquanto, lembrou que a Secretaria de Governo faz articulação não só com parlamentares, mas também com governadores, prefeitos e representações da sociedade civil.

Homem de total confiança de Bolsonaro, o general Santos Cruz, ao lado de Mourão e do general Augusto Heleno, já designado para o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), poderia ajudar a blindar o presidente eleito de possíveis problemas.

Para o líder do MDB na Câmara, deputado Baleia Rossi (SP), Santos Cruz tem um perfil conciliador. "Esse pessoal do Exército é muito preparado e faz política 24 horas por dia. A política interna no Exército é, às vezes, mais forte do que a nossa. Não vejo dificuldade (de negociar com um general), não. O perfil desse que foi escolhido é um negociador, parece que é um grande articulador. Eu não tenho contato pessoal com ele, mas achei um bom perfil", disse.

Cotado para assumir o Ministério das Cidades, o líder do PRB na Câmara, deputado Celso Russomanno (SP), também elogiou o "nome técnico" para o cargo. Na avaliação do parlamentar, é melhor que um partido não seja privilegiado na escolha para este posto, mas, sim, que todos as legendas da base tenham acesso à Secretaria de Governo.

Ana Amélia

Embora Onyx tenha sido o primeiro ministro anunciado por Bolsonaro, interlocutores do presidente eleito avaliam que seria "impossível" ele reunir a coordenação de governo com a articulação com Congresso.

O futuro ministro também não tem trânsito no Senado e por isso mesmo quer levar para o Planalto um conjunto de ex-parlamentares influentes para ajudá-lo. Uma das ideias será levar a atual senadora Ana Amélia (PP-RS), que deixa o Congresso em fevereiro. Ela foi candidata a vice-presidente na chapa derrotada de Geraldo Alckmin (PSDB). As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".