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Contra coronavírus, Panamá proíbe homens e mulheres de saírem de casa no mesmo dia

As autoridades panamenhas lançaram uma operação para entregar produtos básicos à população - AFP
As autoridades panamenhas lançaram uma operação para entregar produtos básicos à população Imagem: AFP

03/04/2020 07h25

Mulheres só podem ir a supermercados, bancos e farmácias às segundas, quartas e sextas-feiras; enquanto os homens podem às terças, quintas e sábados.

Homens e mulheres no Panamá, pelos próximos 30 dias, não poderão se encontrar nas ruas.

O país da América Central anunciou que, como uma medida para tentar conter as infecções pelo novo coronavírus, desde quarta-feira (1/4), as saídas para a rua em casos de emergência só podem ser feitas de acordo com o sexo da pessoa.

Assim, conforme anunciado pelo Ministério da Segurança, as mulheres só serão autorizadas a ir a supermercados, bancos e farmácias às segundas, quartas e sextas-feiras, enquanto os homens podem às terças, quintas e sábados.

Aos domingos, no entanto, ninguém poderá sair de casa.

Sem especificar opções às pessoas que não se identificam com o sexo de nascimento, a medida foi apontada nas redes sociais como uma das mais radicais adotadas para combater o coronavírus na América Latina.

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Mas, segundo as autoridades, o objetivo é limitar ao máximo a saída de pessoas às ruas para reduzir o contágio.

"Estudamos todos os modelos possíveis e todas as opções para reduzir o número de pessoas que estão ao mesmo tempo na rua, afetando o mínimo possível a vida dos panamenhos", disse o ministro da Segurança do Panamá, Juan Pino.

Até 1º de abril, o Panamá havia registrado cerca de 1.200 casos confirmados e 30 mortes por covid-19, dados que tornam o país o mais afetado pelo coronavírus na América Central.

A regulamentação por sexo se soma a outras medidas que o Panamá já havia anunciado para fortalecer gradualmente sua quarentena e que incluem saídas em determinados horários e pelo número das cédulas de identidade.

As autoridades, que fecharam o comércio em todo o país por 30 dias, também anunciaram que todos os eventos e reuniões públicas estão cancelados, com exceção dos funerais - que só podem ter no máximo cinco pessoas.

Mas o que está por trás da separação por gênero?

Apesar de diferentes países tomarem medidas draconianas para evitar a propagação do vírus, a segregação das saídas às ruas por sexo atraiu várias manchetes por ser inédita.

No entanto, o epidemiologista Xavier Sáez-Llorens, membro do Comitê de Assessoria para Coronavírus no Panamá, explicou à BBC Mundo (serviço em espanhol da BBC) que a medida tenta, na realidade, limitar as saídas de cada pessoa à rua durante a semana e facilitar o trabalho das forças de segurança.

"É uma medida que não tem nada a ver com separar homens de mulheres, foi vista como uma maneira mais fácil de manter o controle. A quarentena no Panamá tornou-se cada vez mais rigorosa e agora iniciamos uma medida que procura permitir que as pessoas possam sair apenas três vezes por semana", diz ele.

Segundo o especialista, dessa maneira, a polícia pode regular melhor o número de panamenhos que estão nas ruas todos os dias.

"Por exemplo, antes alguém poderia sair todos os dias e a polícia não tinha como saber se essa pessoa tinha saído ontem ou anteontem. Portanto, se um dia são as mulheres e no outro os homens, você terá um controle mais fácil da situação e limitar o número de pessoas todos os dias na rua", acrescenta.

O anúncio da medida causou alvoroço nas redes sociais do Panamá, no entanto, Sáez-Llorens garante que o governo chegou a um acordo com empresas privadas para facilitar que as horas se tornem acessíveis ao maior número de cidadãos, de acordo com os novos regulamentos.

Por que o Panamá tem o maior número de infecções na América Central?

No dia 9 de março, o Ministério da Saúde do Panamá identificou o primeiro caso de covid-19 no país: uma mulher de 40 anos que havia chegado da Espanha.

Desde então, os doentes se multiplicaram e o país é um dos que têm o maior número de infectados em relação à sua população no continente.

Sáez-Llorens considera que um dos fatores fundamentais que influenciam o crescente número de casos é o papel privilegiado do país no comércio e nas comunicações internacionais.

"O Panamá é um hub internacional de tráfego aéreo e marítimo em todo o continente, portanto a exposição a um grande número de pessoas é maior e a possibilidade de a entrada do vírus ter ocorrido mais rápido e em maior volume era previsível", ressalta.

Além disso, o epidemiologista acredita que a resposta do próprio governo desde o início da epidemia ajudou a identificar um número maior de casos, aumentando seu número em relação a em outros lugares.

"O Panamá se preparou com bastante antecedência para a chegada do vírus e imediatamente massificou o uso de testes de diagnóstico através da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e contatos internacionais", diz ele.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) insiste que o teste da covid-19 para possíveis casos de transmissão é uma das principais ferramentas para conter a propagação do vírus.

Segundo dados do Ministério da Saúde, até 31 de março as autoridades panamenhas haviam realizado 6.582 testes em um país com uma população de cerca de 4 milhões de habitantes.

"Outro aspecto é que estamos ocupados procurando incessantemente os casos e acho que essa é outra razão pela qual outros países não relataram a mesma quantidade de casos que encontramos", diz o epidemiologista.

Quais são as previsões para o Panamá?

Sáez-Llorens explica que as autoridades panamenhas usaram três modelos matemáticos para prever a possível incidência do vírus e tomar medidas para evitar uma superlotação do sistema de saúde.

As ruas da Cidade do Panamá estão praticamente desertas como as de muitos outros países em meio à crise do coronavírus - Reuters - Reuters
As ruas da Cidade do Panamá estão praticamente desertas como as de muitos outros países em meio à crise do coronavírus
Imagem: Reuters

"Pensamos que, se não fizéssemos nada, teríamos um colapso do sistema de saúde na primeira ou segunda semana de abril. Por isso essas medidas foram tomadas", diz ele.

No início de fevereiro, o governo criou um gabinete de crise para elaborar uma estratégia de contenção e, em 2 de março, o Ministério da Saúde criou um grupo consultivo independente que começou a fazer recomendações e diretrizes para uma possível resposta.

"Agora, movemos esse modelo de contágio máximo para o final de abril ou maio e é isso que queremos para que os recursos em hospitais, leitos, médicos não fiquem saturados", diz o especialista.

Segundo o epidemiologista, como o país agiu rapidamente, as autoridades esperam que as medidas funcionem em breve.

"Como agimos rápido, temos a aspiração de ser um dos primeiros países que sairão da 'crise oficial'", diz Sáez-Llorens.

"Depois de suspender as medidas de quarentena em um mês, teremos de aplicar medidas de mitigação intermitentes, afrouxar um pouco, apertar novamente... e assim por diante, para que o impacto econômico e social não seja tão extraordinário".